Por Maria Luiza Piccoli
Hambúrguer artesanal, chope geladinho, música e curtição. Difícil quem não goste de tudo isso, ainda mais em um ambiente urbano refinado, cercado por estabelecimentos badalados e bem localizados. O problema é quando a festa vira bagunça, a curtição vira arruaça e a diversão de poucos se transforma em desrespeito e perturbação para muitos. É isso que tem acontecido no Batel, mas especificamente na Rua Coronel Dulcídio, onde o Hauer Shopping tradicional da região – acabou se transformando em reduto noturno de barzinhos e hamburguerias.
Tudo começou há cerca de dois anos, com a abertura de alguns bares de drinks no lugar, que antes funcionava como centro conveniência e serviços. Com o aumento de público, muitos comerciantes enxergaram o potencial gastronômico do ponto e não demorou muito para que os pubs e bares tomassem conta do estabelecimento. A ideia de transformar o shopping em “point” foi bem aceita em um primeiro momento. A movimentação do público jovem e o funcionamento em horário estendido trariam “novos ares” ao centro comercial, até então pacato.
O que aconteceu, no entanto, não foi exatamente isso. Com a nova movimentação, vieram novos problemas: barulho, tumultos, perturbação do sono, som alto, comércio ilegal e até consumo e venda de drogas. Diante disso, os lojistas que estão há mais tempo no polo comercial começam a migrar para outros pontos, por conta das arruaças e principalmente pela própria segurança.
Pesadelo
Uma comerciante, que não quis ser identificada, contou que desde a abertura dos bares, a rotina dos demais lojistas virou um “pesadelo”. “O ‘circuito’ de festas começa quarta-feira e vai até sábado. Nesses dias, quando chego de manhã para abrir a loja, a situação é apavorante. Sujeira por todos os cantos, lixo, urina e até fezes humanas na minha porta”, reclamou. A lojista afirma que o cenário é tão grave, que parte da sua clientela “debandou”, e ela pretende deixar o ponto o mais breve possível, depois de 14 anos funcionando no mesmo local. “Não tenho condições de continuar aqui, infelizmente”, lamentou.
De acordo com o diretor da Associação dos Lojistas do Hauer Shopping, Danilo Leopoldino da Silva, apenas sete das 24 lojas resistiram à “onda dos barzinhos” – e mesmo assim, algumas já declararam que vão fechar, ou mudar de ponto. “Isso mudou totalmente a configuração comercial do Hauer Shopping. Questão de horário, segurança, público, enfim. Os lojistas tradicionais daqui têm sido muito prejudicados, principalmente no que diz respeito à limpeza e limite de espaço. É muito triste ver tantos comerciantes encerrando as atividades e perdendo clientes”, afirmou.
Rastros da balada
Não são apenas os lojistas e empresários que têm sofrido com a bagunça. Cansados, moradores das imediações da Rua Coronel Dulcídio, organizaram um abaixo-assinado e começam a procurar as autoridades em busca de uma solução. A questão, inclusive, já chegou à Câmara Municipal de Curitiba. Na sessão do dia 25 de setembro, o assunto foi discutido após o vereador Felipe Braga Côrtes (PSD) exibir no telão uma fotografia que ele tirou e divulgou em seu Facebook. Na imagem é possível ver a sujeira deixada na rua, em uma manhã de sábado, após uma noite de baladas.
De acordo com Côrtes, a questão se tornou um problema de ordem de segurança pública, uma vez que além do barulho, existem relatos de consumo e venda de entorpecentes na região, além do comércio irregular de bebidas alcoólicas. “A Guarda Municipal têm feito as rondas da área, mas não possui legitimidade para aplicar multas ou fiscalizar o comércio ilegal. Por isso, sugerimos que o órgão tenha autorização para tanto”. O vereador ainda explica que solicitou à prefeitura e à Polícia Militar reforço nas ações de patrulhamento na região.
Policiamento
Em nota, a Prefeitura de Curitiba informou que, por meio do Gabinete de Gestão Integrada Municipal de Segurança Pública, tem deflagrado, semanalmente, a operação “Balada Protegida”, com ações educativas, e com o objetivo de garantir a ordem na Rua Coronel Dulcídio e outros pontos de atividade noturna de Curitiba. Também em nota, a Polícia Militar citou que, por meio do 12º Batalhão, tem feito o policiamento diário pelas ruas da área central, inclusive na Coronel Dulcídio, de várias formas. Segundo a PM, os módulos móveis têm sido aplicados na região para policiamento comunitário. A patrulha tem sido feita tanto com viaturas quanto com motocicletas, em momentos e locais com grande circulação de pessoas.
Quanto ao uso de drogas neste ponto específico, a PM admite que a situação é um problema social e de saúde pública, e reitera que se os usuários de drogas cometem crimes, a questão se torna, também, problema de polícia. Nestes casos, a atuação é feita quando a situação se caracteriza como tráfico. Segundo a PM, caso as equipes policiais flagrem alguma situação de criminalidade sendo cometida, a abordagem é feita, e os suspeitos, identificados e encaminhados.
A PM pede também o apoio da população, que pode denunciar por meio do 190 e do 181 Narcodenúncia. Além disso, se os comerciantes ou moradores já possuírem características de marginais ou informações como placas de veículos que perturbem ou ameacem a região, as mesmas devem ser repassadas à Policia Civil, que é responsável pela investigação e identificação de suspeitos.