“Alemão” desembarcou em Curitiba com uma tarefa a cumprir: matar a tiros o casal de estudantes, Bernardo Dayrell Pedroso e Renata Waechter Ferreira. Recepcionado por Gustavo Wendler, que o aguardava na saída da rodoviária, o jovem de 21 anos foi levado a um hotel em frente ao terminal Guadalupe onde passou a noite de 18 de abril de 2009. No dia seguinte a dupla se encontrou novamente, desta vez no bairro Vila Izabel. Com eles, mais três comparsas começaram a traçar o plano que cumpririam vinte e quatro horas depois às margens da rodovia BR-116, em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Executado friamente, o assassinato que vitimou o jovem casal completa 9 anos e, nem o mandante do crime nem os executores foram presos. Para as famílias, além da saudade, resta aguardar pela justiça que se arrasta para chegar.

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“Anseio por justiça”. Foi a resposta dada por Amadeu Ferreira Junior, pai de Renata Waechter, à Tribuna do Paraná, quando perguntamos como se sentia após tanto tempo sem respostas. Impossibilitado de fazer qualquer coisa diante do demorado processo que vai decidir a responsabilidade de Ricardo Barollo, Gustavo Wendler, Rodrigo Mota, Jairo Fischer, João Guilherme Correa e Rosana de Almeida pela morte de sua filha, o empresário se faz ouvir por meio das redes sociais, onde a memória da moça continua sendo lembrada. “Esse caso não pode ficar esquecido. Foi um crime de ódio frio e brutal, cujos autores estão todos soltos. Isso não pode ficar assim,” desabafa.

Aos 21 anos, a dedicada estudante de arquitetura, Renata Waechter, jamais imaginaria que na noite de 20 de abril de 2009, teria a última chance de abraçar seu pai antes de sair, junto com o namorado, Bernardo, rumo à emboscada que os aguardava no caminho para uma festa. O evento inusitado aconteceria numa chácara em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e reuniria alguns jovens com idades entre 18 e 30 anos para uma comemoração aparentemente normal, a não ser por um detalhe: o motivo da celebração. Naquele ano, caso estivesse vivo, o ditador alemão, Adolf Hitler, completaria 120 anos e, em memória do aniversário do “Führer“ – como era chamado pelos jovens – o evento discreto reunia cerca de 15 pessoas. Na decoração, suásticas e cartazes com a foto de Hitler denunciavam a ideologia política dos presentes.

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O crime se consumou em poucas horas e moveu uma verdadeira força tarefa para ser cumprido. Com o objetivo de tirar o casal da festa, Rosana de Almeida alegou mal estar e pediu para que Renata a levasse para casa, onde seu namorado, Gustavo, a aguardava. Depois que deixaram a moça em sua residência, no bairro Vila Izabel, quem pediu carona foi Gustavo, que sabia que os jovens retornariam à festa.

Eram quatro horas da manhã. No quilômetro 6, da rodovia  BR-116, em Quatro Barras, Gustavo, do banco de trás, seguindo ordens que vinham, por celular de Rodrigo, João e Jairo – que os seguiam num Palio desde Curitiba – deu um jeito de fazer com que Renata parasse no acostamento. Foi aí que, encapuzados e armados, cada um com uma pistola 9 milímetros, João e Jairo executaram o casal a tiros. Bernardo foi morto com um único tiro na cabeça. Já Renata levou um tiro na nuca e outro em uma das pernas. Após a execução do delito, conforme a própria denúncia, um dos acusados ligou para Barollo informado que a missão tinha sido cumprida.

Bernardo foi morto com um único tiro na cabeça. Já Renata levou um tiro na nuca e outro em uma das pernas.
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Não demorou para que os cinco envolvidos no assassinato fossem identificados e autuados pela polícia. Em depoimento, todos apontaram “um rapaz de São Paulo como o mandante do crime”, conforme explicou o promotor responsável pelo caso em 2009, Octacílio Sacerdote – da Justiça de Campina Grande do Sul – à reportagem da Tribuna na época. Depois de ser identificado, Ricardo Barollo foi encontrado e preso. Durante as investigações, a polícia achou material neonazista em seu apartamento, no bairro Moema, na capital paulista, de onde foi trazido à Curitiba para cumprimento da pena.  Assim como Barollo, os outros cinco envolvidos no crime também foram presos, mas não por muito tempo.

Dois meses após as prisões, todos os acusados foram soltos por meio de um habeas corpus concedido pela 1.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná e, desde então, seguem em liberdade. Em 2010 e 2011, testemunhas e suspeitos foram ouvidos novamente e a Justiça definiu que os seis iriam a júri popular, porém a decisão foi protelada. A partir daí, uma série de recursos e erros processuais atrasaram ainda mais o processo.

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Como explica o advogado da família de Renata, José Carlos Portella Junior, após infinitos recursos impetrados pela defesa, o processo está agora nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF), que examina a legalidade de uma das provas produzidas pela acusação, por meio de interceptações telefônicas, que foram autorizadas pelo juízo de Campina Grande do Sul. “Em abril do ano passado a defesa alegou ilegalidade das interceptações telefônicas feitas na linha do Barollo e questionou as provas obtidas a partir dessa intervenção. Para continuar, o processo depende da análise dessa questão pelo STF. Da mesma forma, para que os réus sejam finalmente levados ao Tribunal do Júri, dependemos dessa decisão. Nossa esperança é que isso aconteça ainda esse ano, para que o julgamento aconteça ano que vem”, afirma.

Denúncia

“É humilhante passar por tudo isso e saber que os responsáveis pela morte da minha menina estão soltos por aí, vivendo suas vidas normalmente. Eu perdi minha única filha e foi só com a força de Deus que continuei. O mesmo não aconteceu com a mãe do Bernardo, que nunca superou a morte do filho e hoje enfrenta transtornos psicológicos gravíssimos”, desabafa Amadeu. Diante da demora da justiça brasileira, este ano, Amadeu apelou para a Organização dos Estados Americanos (OEA), para quem encaminhou uma denúncia alegando violação do direito à vida, à integridade pessoal, à garantias judiciais e à proteção judicial.

Sobre o envolvimento da filha com a facção neonazista, Amadeu alegou que desconhecia qualquer relação da moça com o grupo. “A Renata era uma moça doce e dedicada. Somos católicos praticantes e não tinha nada nas coisas dela que acusasse esse tipo de atividade. Quando saía de casa ela dizia: ‘te amo paizinho’. E pedia a bênção. Ela era meiga e fazia tudo por amor. Acho que esse foi o motivo pelo qual ela aceitou estar lá naquele dia. Por amor ao Bernardo”, finaliza.

A Tribuna do Paraná entrou em contato com um dos acusados, porém ele não manifestou interesse em falar.