No imaginário coletivo, bancos só pensam em lucro. Esqueça esse conceito para o NeuroBanco. Inaugurado em janeiro, no Boqueirão, é o primeiro banco comunitário do Paraná. Seu princípio básico é que uma empresa só cresce se a comunidade em que estiver inserida crescer junto. O banco tem papel fundamental, reunindo empresários de atividades afins e oferecendo crédito facilitado.
No NeuroBanco, não há “clientes”, mas “associados”. Passam a fazer parte do grupo com taxa de adesão e têm acesso a serviços como microcrédito, educação financeira e uma moeda social própria para ser usada no comércio do Boqueirão, o neuro. As operações feitas nessa nova moeda não terão juros e as que se mantiverem em real, terão juros abaixo do mercado. Um neuro vai valer R$ 10, sem flutuação.
O principal objetivo é desenvolver uma das regiões mais pobres da região, a Vila Pantanal, que recebeu o projeto-piloto para a criação do NeuroBanco.
Escolha
“Nessa região, 80% das pessoas não têm conta bancária. A moeda social não consulta SPC ou Serasa para conceder o crédito. Consulta gente da comunidade para saber se podemos emprestar o dinheiro para aquela pessoa, concedendo empréstimos a quem muitas vezes não tem nem endereço, mas pode empreender”, diz o agente de inclusão financeira Thiago Müller Gramkow.
Desde fevereiro, o banco angariou 33 associados, entre empresas e autônomos. Grande parte são mulheres artesãs. A ideia é que, com o neuro circulando em paralelo ao real no comércio local, o dinheiro seja reinvestido lá.
Trocadilho com euro
O nome da moeda é um trocadilho com o euro. “Quem tem neuros [de neurônios] não precisa de euros”, destaca o coordenador do banco, Lutero Couto. O novo dinheiro, regularizado pelo Banco Central, ainda não circula: é preciso mais volume de associados. A meta é chegar a 300 até o fim do ano. A princípio, deve ser confeccionada em papel, mas o grupo estuda lançá-la em formato virtual, como aplicativo, reduzindo custos e risco de fraude, já que mesmo a população mais pobre da região do bairro usa smartphones.
Xô, miséria!
O projeto é pensado há 12 anos. A Vila Pantanal já teve o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Curitiba. Hoje, com cerca de 2,4 mil famílias, está na vice-liderança do pior IDH da capital.
“A maior parte da população economicamente ativa na Vila Pantanal é de mulheres”, conta Thiago. Ao conceder o microcrédito e o estímulo ao empreendedorismo, dá a essas pessoas oportunidades de trabalho.
Inspiração
A proposta do NeuroBanco é parecida com a que rendeu o prêmio Nobel da Paz ao economista Muhammad Yunus, que fundou o Grameen Bank eme Bangladesh.