Áudios falando sobre tentativas de raptos de crianças, que andam circulando pelo WhatsApp nos últimos dias, vêm colocando pais e mães em pânico. Muitos dos áudios, acredita-se, sejam falsos ou tenham ocorrido em outros estados. Mas a Tribuna constatou que um deles é verdadeiro e aconteceu pouco depois das 14h da última terça-feira (25), no Atuba.

continua após a publicidade

No áudio, a mãe e empresária Angélica Breda relata que parou o seu carro num semáforo da BR-116, seguindo a caminho do seu trabalho, em Quatro Barras. Um Cross Fox branco parou ao lado, um homem desceu e se dirigiu para a porta do carro da mãe, onde estava a cadeirinha infantil. “Ele tentou abrir a porta, mas como estava travada, não conseguiu. Mas chegou a chacoalhar o carro, tentando forçar a maçaneta”, contou Angélica, acreditando que o suspeito queria tirar a criança de dentro do carro.

OUÇA O ÁUDIO DE ANGÉLICA:

https://www.tribunapr.com.br/cacadores-de-noticias/wp-content/uploads/sites/2/2017/08/angelica.ogg?_=1

Porém, a menina de Angélica não estava no veículo. Só que o suspeito talvez não tenha notado de imediato a ausência porque, além da película escura nos vidros, o modelo da cadeirinha tem um protetor de cabeça grande nas laterais, que “esconde” um pouco a criança. Olhando de lado, não dá para ter certeza se há ou não criança a bordo.

Desespero

continua após a publicidade

A empresária buzinou exageradamente para chamar atenção de outras pessoas, furou o sinal vermelho e seguiu viagem pela BR. Ela conta que o Cross Fox branco foi atrás, buzinando para ela. Isso ocorreu até a Rua Estrada da Graciosa, que dá acesso a Pinhais e Colombo, onde o Cross Fox desceu. A empresária continuou pela rodovia. Apavorada, a primeira coisa que conseguiu pensar em fazer foi gravar um áudio num grupo de moradores e comerciantes de Quatro Barras, contando o que houve. Ela descreve o suspeito como um homem alto, vestindo camisa preta, só que não conseguiu ver o rosto dele.

Angélica tentou fazer boletim de ocorrência no 4º Distrito Policial (DP), no Boa Vista, na tarde de sexta-feira (28). Mas foi informada que o registro deve ser feito na delegacia da área onde ocorreu o crime; neste caso, o 5º DP, no Bacacheri. Ela diz que vai formalizar a queixa ainda nesta semana.

Era boato!

continua após a publicidade

Depois que Angélica foi abordada pelos suspeitos, soube de outros três casos que teriam ocorrido, de supostas tentativas de raptos de crianças. Teriam sido no Bairro Alto, Pinhais e Quatro Barras, ou seja, regiões norte e leste da Grande Curitiba, onde há várias possibilidades de fuga.

A situação de Quatro Barras não é verdadeira, segundo a Polícia Civil. O boato falava de um casal de coreanos, que vendia jaquetas de couro e tentou aliciar uma criança no portão de casa com doces, enquanto a menina brincava no jardim. De acordo com o áudio, o casal foi abordado pela Guarda Municipal e levado à delegacia.

Pedro Milsted, superintendente da delegacia de Quatro Barras, esclareceu o caso. Ele relatou que havia na cidade um casal vendendo jaquetas de couro, salames e outros produtos de porta em porta. Porém são brasileiros, evangélicos, e estavam apenas trabalhando. “Chegaram a falar que era um casal de coreanos num Cross Fox preto. Mas a GM foi prontamente atrás, encontrou o casal, num Uno branco, e vimos que era mal-entendido mesmo”, disse.

Foto: Lineu Filho.

Verdadeiro ou falso?

Dos outros dois casos que Angélica ficou sabendo, um deles foi em Pinhais. No áudio de WhatsApp, a mãe se identifica como Priscila, moradora do bairro Emiliano Perneta, e o que aconteceu com ela foi na Avenida Maringá, próximo ao que ela descreve como Portal da Serra. Só não é possível identificar pelo áudio quando isto aconteceu.

OUÇA O ÁUDIO DE PRISCILA:

https://www.tribunapr.com.br/cacadores-de-noticias/wp-content/uploads/sites/2/2017/08/Priscilla.ogg?_=2

Priscila relata que seguia a pé pela avenida, em direção ao ponto de ônibus, com o filho pequeno, quando um carro, que ela acredita ser um Honda Civic cinza, parou ao lado dela. Enquanto caminhava, o veículo a acompanhava. Quando ela notou que era maldade dos ocupantes do Civic, atravessou a rua correndo. Mas o carro fez o mesmo. Deu a volta para ir atrás dela. Sorte da mãe que um ônibus vinha chegando e ela embarcou.

Foto: Átila Alberti

Priscila avisou o motorista e as pessoas dentro do coletivo e os passageiros ficaram cuidando do veículo. O carro ficou indo e voltando na via, seguindo o ônibus, por um certo período. A mãe conseguiu se salvar do que ela acredita ser uma tentativa de sequestro do seu filho.

Apesar do áudio parecer bem real, a reportagem não conseguiu localizar esta mãe para se certificar da veracidade. As Polícias Civil e Militar da cidade também não confirmam nenhum registro deste tipo nos últimos dias. A outra tentativa de rapto teria ocorrido no Bairro Alto, na capital, mas a Tribuna não constatou nenhum indício concreto da ocorrência.

Nenhum registro formal

Além das Polícias Civil e Militar em Pinhais e Quatro Barras, a Tribuna procurou diversas delegacias especializadas, para averiguar a veracidade das ocorrências. Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Núcleo de Repressão a Crianças e Adolescentes Vítimas de Crimes (Nucria), Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride) e Grupo Tigre (especializado em resgate de reféns em sequestros) não confirmam o registro de ocorrências deste gênero.

O Sicride informou que tem conhecimento informal de alguns áudios e informações, de supostos casos de raptos de crianças em Curitiba e região metropolitana, porém ninguém deu queixa formalmente na delegacia. “A Polícia Civil alerta que há muitas pessoas com as mais variadas intenções, veiculando ilações e versões completamente desprovidas de fundamento e em via de regra são prontamente assimiladas pela população e familiares de desaparecidos, iludindo-os e fazendo-os se confundir ainda mais”, diz a nota divulgada pelo Sicride.

Toda prudência é pouco

– Quem for abordado por desconhecidos, em situações inseguras, na primeira oportunidade acione Polícia Militar ou Guarda Municipal;
– Respire fundo, controle o pânico e busque ver modelo, cor e placa do veículo suspeito;
– Tente ver características das pessoas suspeitas (cor de roupa, cor e corte de cabelo, cicatrizes, tatuagens, etc);
– Fique alerta com carros, pessoas e situações diferentes na vizinhança. Comunique-se com os vizinhos ou a polícia;
– Se notar algo diferente na quadra da sua residência, não entre em casa;
– Nunca descuide. Sempre observe a movimentação;
– Se notar que está sendo seguido, mude o caminho, tente pedir ajuda da polícia.

Crianças:

– Seus filhos devem sempre estar ao alcance dos olhos;
– Não deixem suas crianças com desconhecidos;
– Não deixe os filhos brincarem sozinhos em parques, ruas, ou circular em shoppings desacompanhados de alguém de extrema confiança;
– Se eles brincam no jardim, certifique-se que o portão está bem trancado e que ninguém consegue puxá-los pela grade ou muro;
– Oriente as crianças a não conversarem com estranhos, dar informações dela e da família ou aceitar alimentos;
– Dirija com as portas do carro sempre trancadas e as janelas não muito abertas onde estão as crianças;
– Se vir algum estranho se aproximando do carro, feche os vidros;
– Ao parar em semáforos, quando o trânsito permitir, sempre calcule um “espaço de fuga”, para escapar de situações estranhas (pare enquanto ainda consegue enxergar os pneus do carro da frente);
– “Para moradores próximos a rios, lagos, piscinas o cuidado deve ser redobrado. As nossas estatísticas mostram que um percentual expressivo de desaparecimento de crianças ocorre próximo a estes locais”, aponta a delegada Iara Dechiche, do Sicride.

Fontes: Polícias Civil e Militar