Curitiba

Criança raptada

Foto: Daniel Caron
Escrito por Giselle Ulbrich

Áudios falando sobre tentativas de raptos de crianças, que andam circulando pelo WhatsApp nos últimos dias, vêm colocando pais e mães em pânico. Muitos dos áudios, acredita-se, sejam falsos ou tenham ocorrido em outros estados. Mas a Tribuna constatou que um deles é verdadeiro e aconteceu pouco depois das 14h da última terça-feira (25), no Atuba.

No áudio, a mãe e empresária Angélica Breda relata que parou o seu carro num semáforo da BR-116, seguindo a caminho do seu trabalho, em Quatro Barras. Um Cross Fox branco parou ao lado, um homem desceu e se dirigiu para a porta do carro da mãe, onde estava a cadeirinha infantil. “Ele tentou abrir a porta, mas como estava travada, não conseguiu. Mas chegou a chacoalhar o carro, tentando forçar a maçaneta”, contou Angélica, acreditando que o suspeito queria tirar a criança de dentro do carro.

OUÇA O ÁUDIO DE ANGÉLICA:

rapto-de-criancasPorém, a menina de Angélica não estava no veículo. Só que o suspeito talvez não tenha notado de imediato a ausência porque, além da película escura nos vidros, o modelo da cadeirinha tem um protetor de cabeça grande nas laterais, que “esconde” um pouco a criança. Olhando de lado, não dá para ter certeza se há ou não criança a bordo.

Desespero

A empresária buzinou exageradamente para chamar atenção de outras pessoas, furou o sinal vermelho e seguiu viagem pela BR. Ela conta que o Cross Fox branco foi atrás, buzinando para ela. Isso ocorreu até a Rua Estrada da Graciosa, que dá acesso a Pinhais e Colombo, onde o Cross Fox desceu. A empresária continuou pela rodovia. Apavorada, a primeira coisa que conseguiu pensar em fazer foi gravar um áudio num grupo de moradores e comerciantes de Quatro Barras, contando o que houve. Ela descreve o suspeito como um homem alto, vestindo camisa preta, só que não conseguiu ver o rosto dele.

Angélica tentou fazer boletim de ocorrência no 4º Distrito Policial (DP), no Boa Vista, na tarde de sexta-feira (28). Mas foi informada que o registro deve ser feito na delegacia da área onde ocorreu o crime; neste caso, o 5º DP, no Bacacheri. Ela diz que vai formalizar a queixa ainda nesta semana.

Era boato!

Depois que Angélica foi abordada pelos suspeitos, soube de outros três casos que teriam ocorrido, de supostas tentativas de raptos de crianças. Teriam sido no Bairro Alto, Pinhais e Quatro Barras, ou seja, regiões norte e leste da Grande Curitiba, onde há várias possibilidades de fuga.

A situação de Quatro Barras não é verdadeira, segundo a Polícia Civil. O boato falava de um casal de coreanos, que vendia jaquetas de couro e tentou aliciar uma criança no portão de casa com doces, enquanto a menina brincava no jardim. De acordo com o áudio, o casal foi abordado pela Guarda Municipal e levado à delegacia.

Pedro Milsted, superintendente da delegacia de Quatro Barras, esclareceu o caso. Ele relatou que havia na cidade um casal vendendo jaquetas de couro, salames e outros produtos de porta em porta. Porém são brasileiros, evangélicos, e estavam apenas trabalhando. “Chegaram a falar que era um casal de coreanos num Cross Fox preto. Mas a GM foi prontamente atrás, encontrou o casal, num Uno branco, e vimos que era mal-entendido mesmo”, disse.

Foto: Lineu Filho.
Foto: Lineu Filho.

Verdadeiro ou falso?

Dos outros dois casos que Angélica ficou sabendo, um deles foi em Pinhais. No áudio de WhatsApp, a mãe se identifica como Priscila, moradora do bairro Emiliano Perneta, e o que aconteceu com ela foi na Avenida Maringá, próximo ao que ela descreve como Portal da Serra. Só não é possível identificar pelo áudio quando isto aconteceu.

OUÇA O ÁUDIO DE PRISCILA:

Priscila relata que seguia a pé pela avenida, em direção ao ponto de ônibus, com o filho pequeno, quando um carro, que ela acredita ser um Honda Civic cinza, parou ao lado dela. Enquanto caminhava, o veículo a acompanhava. Quando ela notou que era maldade dos ocupantes do Civic, atravessou a rua correndo. Mas o carro fez o mesmo. Deu a volta para ir atrás dela. Sorte da mãe que um ônibus vinha chegando e ela embarcou.

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

Priscila avisou o motorista e as pessoas dentro do coletivo e os passageiros ficaram cuidando do veículo. O carro ficou indo e voltando na via, seguindo o ônibus, por um certo período. A mãe conseguiu se salvar do que ela acredita ser uma tentativa de sequestro do seu filho.

Apesar do áudio parecer bem real, a reportagem não conseguiu localizar esta mãe para se certificar da veracidade. As Polícias Civil e Militar da cidade também não confirmam nenhum registro deste tipo nos últimos dias. A outra tentativa de rapto teria ocorrido no Bairro Alto, na capital, mas a Tribuna não constatou nenhum indício concreto da ocorrência.

Nenhum registro formal

Além das Polícias Civil e Militar em Pinhais e Quatro Barras, a Tribuna procurou diversas delegacias especializadas, para averiguar a veracidade das ocorrências. Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Núcleo de Repressão a Crianças e Adolescentes Vítimas de Crimes (Nucria), Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride) e Grupo Tigre (especializado em resgate de reféns em sequestros) não confirmam o registro de ocorrências deste gênero.

O Sicride informou que tem conhecimento informal de alguns áudios e informações, de supostos casos de raptos de crianças em Curitiba e região metropolitana, porém ninguém deu queixa formalmente na delegacia. “A Polícia Civil alerta que há muitas pessoas com as mais variadas intenções, veiculando ilações e versões completamente desprovidas de fundamento e em via de regra são prontamente assimiladas pela população e familiares de desaparecidos, iludindo-os e fazendo-os se confundir ainda mais”, diz a nota divulgada pelo Sicride.

Toda prudência é pouco

– Quem for abordado por desconhecidos, em situações inseguras, na primeira oportunidade acione Polícia Militar ou Guarda Municipal;
– Respire fundo, controle o pânico e busque ver modelo, cor e placa do veículo suspeito;
– Tente ver características das pessoas suspeitas (cor de roupa, cor e corte de cabelo, cicatrizes, tatuagens, etc);
– Fique alerta com carros, pessoas e situações diferentes na vizinhança. Comunique-se com os vizinhos ou a polícia;
– Se notar algo diferente na quadra da sua residência, não entre em casa;
– Nunca descuide. Sempre observe a movimentação;
– Se notar que está sendo seguido, mude o caminho, tente pedir ajuda da polícia.

Crianças:

– Seus filhos devem sempre estar ao alcance dos olhos;
– Não deixem suas crianças com desconhecidos;
– Não deixe os filhos brincarem sozinhos em parques, ruas, ou circular em shoppings desacompanhados de alguém de extrema confiança;
– Se eles brincam no jardim, certifique-se que o portão está bem trancado e que ninguém consegue puxá-los pela grade ou muro;
– Oriente as crianças a não conversarem com estranhos, dar informações dela e da família ou aceitar alimentos;
– Dirija com as portas do carro sempre trancadas e as janelas não muito abertas onde estão as crianças;
– Se vir algum estranho se aproximando do carro, feche os vidros;
– Ao parar em semáforos, quando o trânsito permitir, sempre calcule um “espaço de fuga”, para escapar de situações estranhas (pare enquanto ainda consegue enxergar os pneus do carro da frente);
– “Para moradores próximos a rios, lagos, piscinas o cuidado deve ser redobrado. As nossas estatísticas mostram que um percentual expressivo de desaparecimento de crianças ocorre próximo a estes locais”, aponta a delegada Iara Dechiche, do Sicride.

Fontes: Polícias Civil e Militar

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Giselle Ulbrich

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