Motoristas e cobradores do transporte coletivo de Curitiba paralisaram o serviço por uma hora na tarde de ontem. Os trabalhadores protestaram contra a falta de segurança no sistema depois da morte do motorista Edmilton José de Melo, 45 anos, assassinado num arrastão enquanto trabalhava na linha Curitiba/Jd. Paulista, na noite de sábado (22), em Colombo.
Por volta das 15h, os ônibus pararam não só na Praça Rui Barbosa, onde foi o ponto de encontro, mas também em toda capital. “Além de uma homenagem ao trabalhador, que morreu desempenhando sua função, nosso ato foi também um pedido de socorro e um pontapé inicial para dizermos que vamos continuar lutando”, comentou Anderson Teixeira, presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região (Sindimoc).
Para os profissionais, este pedido de socorro poderia ter um começo de solução se os 1.290 ônibus da capital possuíssem câmeras de monitoramento, por isso foi criada a campanha “Filmadora Já”. “Não que isso iria resolver a situação, sabemos que não é assim. Mas inibiria as ações e, quando acontecessem, seria mais fácil para a polícia encontrar os assaltantes”.
Arrastões
Os números das ações dos bandidos nos ônibus divergem. O Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) cita que os assaltos às linhas e estações-tubo do sistema de transporte da capital diminuíram 34% no primeiro semestre deste ano, passando de 1.504 no ano passado, para 989. Conforme o Setransp, estes dados não incluem os municípios metropolitanos.
Em contrapartida, o Sindimoc alega que estes números são maiores se somados os arrastões, que chegam a 35 por mês. “Notamos a redução, mas quando o alvo do assalto é o cobrador. Já no caso dos arrastões, essa modalidade nova, onde a intenção dos assaltantes é roubar todos os passageiros, aumentou sim e se tornou ainda mais perigoso também”, explicou Anderson.
O presidente do Sindimoc destacou que, nos casos dos assaltos, é mais fácil se ter a estatística. “Porque, quando o motorista ou o cobrador são alvos, todos tomam conhecimento. Já no no caso dos arrastões, o registro é feito separado, cabe a cada vítima ir até a delegacia. Então, estes dados ser misturam e é difícil a somatória”.
A realidade é o medo
Seja um assalto sem agressão ou algo mais grave, como o que aconteceu no final de semana, os profissionais estão com medo. A situação parece piorar ainda mais quando se percebe que é difícil encontrar algum motorista ou cobrador que ainda não tenha sido vítima da violência. Newton Santos, 62, cobrador há quatro anos, já sofreu três assaltos à estação-tubo, na Praça Carlos Gomes. “Chegaram a encostar a arma na minha cabeça. No último, quase me deu um infarto. Fiquei tremendo”, contou.
O pânico parece ser ainda maior nos períodos da noite, quando os ônibus e os tubos ficam mais vazios. O receio se tornou parte da rotina dos trabalhadores, que passaram a desconfiar de qualquer um. “Dá medo, ainda mais desses tubos meio desertos, é pior ainda, cabuloso. Mas a gente vai levando”, desabafou o cobrador Jorge Cordeiro, 54.
O começo de uma possível solução para o problema seria a instalação das câmeras de segurança. Pelo menos assim acreditam os trabalhadores que atuam diretamente nos ônibus que fazem linha pela cidade. “Intimidaria mais o pessoal, até mesmo a invadir ônibus. É complicado, porque a gente não tem segurança nenhuma”, disse o motorista Adenilson Carvalho Souza, 34.
Em contrapartida, os cobradores – muitos deles que já trabalham em estações-tubo onde há a presença das câmeras -, acreditam que falta policiamento. “Tinha que ter um policial à paisana para dar assistência e melhorar a situação. A gente tem que ficar com um olho aberto e outro fechado”, relatou Newton Santos.
Falta dindim!
A instalação das câmeras de segurança nos ônibus é um verdadeiro calo no pé da Prefeitura de Curitiba. O assunto, que voltou a ser discutido ontem, em uma reunião com representantes do Sindimoc e Setransp, junto com a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) e a Urbs, vem sendo falado desde 2011. Na época, a ideia emperrou e esbarrou em vários pontos, entre eles a verba necessária.
Os vereadores da capital já aprovaram um projeto de lei, que previa a instalação, mas isso não se deu por completo. A intenção desse projeto era que fossem colocadas câmeras nos ônibus, nos terminais e também nas estações-tubo.
No ano passado, depois que algumas estações-tubos e linhas registraram muitos assaltos, as câmeras foram instaladas, mas nos tubos e nos terminais. Questionada, a Urbanização de Curitiba (Urbs) informou que “são mais de 500 câmeras e que a maioria delas, em torno de 80%, está funcionando”, como a Tribuna já mostrou.
Ainda conforme a Urbs, em Curitiba circulam hoje 1.290 ônibus. Nenhum destes veículos possui câmera. Ao ser questionada sobre a possibilidade da implantação, como reivindica o Sindimoc, a empresa municipal que administra o transporte público se limitou a dizer que “novos investimentos exigem recurso e, no momento, isso não está previsto”.
O Setransp, sindicato que representa as empresas, se posicionou dizendo que vê com bastante preocupação os casos de assaltos em tubos e linhas. Em nota, afirmou que as empresas mantêm um canal de diálogo direto e constante com a Guarda Municipal (GM) e a Polícia Militar (PM), para trocar informações e mapear os locais com mais incidência de roubos. Na noite desta segunda-feira, foi criado um comitê que discutirá a segurança no transporte coletivo.
Além de reforçar a diminuição dos assaltos, o Setransp ressalta que o uso do cartão transporte inibiria ainda mais a ação dos bandidos. “Ainda se está longe do objetivo final, de não haver roubos. Em Curitiba, apenas 60% dos pagamentos são realizados com cartão. Elas (as empresas) acreditam que o incentivo ao uso do cartão é um grande aliado na luta contra os assaltos em tubos e linhas. Quanto menos dinheiro circulando, menor é a atratividade para roubos”.