Maior palco a céu aberto de Curitiba, a Rua XV de Novembro, também conhecida como ‘Rua das Flores‘, foi o primeiro calçadão do Brasil e compõe a espinha dorsal da cidade. Segundo dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), aproximadamente 140 mil pessoas passam diariamente pelo calçadão da Rua XV.
Com um público tão grande e diverso, a XV acaba atraindo artistas, camelôs, religiosos e políticos, que diariamente dão o seu espetáculo particular na calçada. São figurinhas carimbadas, que muita gente conhece, mas não sabe realmente quem são, onde moram e como vivem. Apesar de estarem há décadas no mesmo ponto, são ‘ilustres desconhecidos‘ da população.
A XV já produziu figuras que são reconhecidas nacionalmente e outras nem tanto. As ‘carimbadas‘, como o Oilmain, o pseudônimo usado por Nelson Rebello, um ex-professor que, há mais de 10 anos, passa óleo pelo corpo, veste uma sunga e sai andando de bicicleta por toda cidade, principalmente pela XV; ou o Plá, o apelido de Ademir Antunes, o ‘maluco-beleza‘ curitibano. Compositor, cantor e poeta, ele estende panos na calçada para as pessoas assinarem, e depois os transforma em vestes.
É nesta rua que também está localizada a Boca Maldita, local de encontro dos ‘Cavaleiros da Boca Maldita de Curitiba‘ e um dos palcos políticos da cidade. É lá que os governantes e principais nomes da política paranaense costumam se encontrar aos finais de semana para discutir, claro, política.
Primeiro ‘calçadão‘ do Brasil
Considerada a principal artéria de Curitiba, pelos aspectos turísticos e históricos, a Rua XV de Novembro já foi palco de manifestações sócio-políticas no decorrer do crescimento da capital e o próprio ato de sua denominação foi o mais autêntico manifesto paranaense pelo início da República no Brasil. A ‘Rua das Flores‘ já possuiu outros nomes e o antecessor ao atual era ‘Rua da Imperatriz‘. Porém, em 1889, poucos dias após a Proclamação da República em 15 de novembro, os camaristas de Curitiba homenagearam o feito do marechal Deodoro da Fonseca com a substituição ‘da Imperatriz‘ por o atual nome: Rua XV de Novembro.
Em 20 de maio de 1972 a rua foi fechada para a circulação de automóveis, se tornando exclusiva para pedestres, numa das principais obras do primeiro mandato do então prefeito Jaime Lerner. O lado mais conhecido da XV de Novembro é, sem dúvida, o seu espaço turístico, chamado de ‘calçadão da Rua das Flores‘. Porém, esta rua centenária é uma referência para os curitibanos não somente pela sua importância histórica, mas porque nela encontramos alguns dos mais importantes prédios da cidade, como o Palácio Avenida, o prédio histórico da UFPR, o Teatro Guaíra e a Reitoria da UFPR, entre outros.
PERSONAGENS DA XV
Nome: Leonildo Carvalho de Lima
Profissão: Homem-estátua e artista de circo Tempo de XV: 17 anos
Curiosidades: Morador de Pinhais, Leonildo pedala cerca de 60 km por dia para vir e voltar do trabalho no centro. Aos finais de semana ele costuma fazer “frilas” em circos que estejam na cidade.
Quando alguém coloca dinheiro na vasilha que ele deixa exposta, a ‘estátua‘ se mexe. Quem coloca também ganha um papel impresso com algum salmo, já que o artista é católico.
Nome: Sheila de Paula
Apelido: ‘Borboleta 13‘
Profissão: Vendedora de bilhetes da loteria Tempo de XV: 37 anos
Curiosidades: A Sheila é conhecida como ‘Borboleta 13‘ porque ela vende bilhetes da Loteria Federal com o número 13. Ela também vende bilhetes da cobra. Bastante popular, Sheila conta que quase ninguém sabe o seu nome.
Certo dia, um cliente ao telefone estava mentindo o local em que estava para a esposa quando Sheila deu o seu grito de guerra. O ‘borboleta 13‘ entregou o traidor pra esposa, fato que acabou em separação, de acordo com ela.
Nome: Nivaldo Lopes dos Santos
Apelido: Nene
Profissão: Engraxate
Tempo de XV: 30 anos
Curiosidades: Catarina de Joinville, ‘Nene‘ observa que hoje em dia quase ninguém mais engraxa os sapatos. ‘A maioria usa tênis. Até eu uso‘, diz. De acordo com ele, com sapato hoje em dia, ‘só escritório e doutor‘. O engraxate mora no Rebouças e vai de bicicleta para a XV. É pai de duas filhas, vive com a esposa e cobra R$ 10 pelo par engraxado.
Nome: Ademir Antunes
Apelido: Plá
Profissão: artista
Tempo de XV: 33 anos
Curiosidades: ‘Plá‘ já gravou 59 CDs e escreveu 13 livros. Natural de Campo Belo do Sul, em Santa Catarina, veio para o Paraná na Década de 80 para ser artista de rua. Entre outras cidades, passou por Londrina. Atualmente tem uma companheira, a ‘Flor‘, que o ajuda nas vendas de CDs e também vende doces feitos por ela. Na XV, Plá estende um tecido em que as pessoas escrevem frases, que posteriormente é transformado em roupas e flâmulas.