Após diagnóstico de doença sem cura, casal se ‘joga’ na estrada

Foto: Denis Ferreira Netto/Tribuna do Paraná
Foto: Denis Ferreira Netto/Tribuna do Paraná.

“Oi. Você pode me ligar mais tarde? É que eu estou trocando uma peça da carreta”, disse Marco Antonio Parreiras, de 50 anos, do outro lado da linha. Algumas horas mais tarde a reportagem da Tribuna ligou novamente. Deu certo. Mais aliviado, o aventureiro contou que estava estacionado em um camping na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, onde o reboque acoplado ao seu carro ­- uma Pajero Full HPE – apresentou os primeiros defeitos. “Ele vai ter que aguentar. Até o Alasca o percurso é longo”, brincou. Por muito pouco não “pegamos” o viajante em Curitiba. Na estrada desde o início de novembro ao lado da esposa, Fernanda Azzolini, 38, Marco vai percorrer o continente de ponta a ponta e, sem prazo para terminar, a aventura está só começando.

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A decisão foi drástica. “Em 2016 decidimos vender tudo que tínhamos em casa e começamos a botar em prática a viagem das nossas vidas. Diziam que estávamos loucos”, contou Fernanda. Casados há 20 anos, o piloto aposentado e a turismóloga desenvolveram juntos a paixão pelo asfalto. “Tanto eu quanto ele viemos de famílias que gostam de viajar. Mas foi num percurso que fizemos juntos de carro até o Norte do Brasil, já casados, que paramos pra pensar pela primeira vez em ir mais longe”, revelou. A decisão pelo estilo de vida “nômade” foi uma adaptação, decidida em conjunto pelo casal. “Chegamos à conclusão de que, para poder realizar esse sonho teríamos que abrir mão de alguns confortos como dormir numa cama, por exemplo. Mas tudo fica fácil quando você tem um objetivo maior”, disse Marco.

Foto: Arquivo pessoal.
Foto: Arquivo pessoal.

Caneta e papel em mãos, ainda em Curitiba o casal fazia as contas da viagem cujo destino, a princípio, era Ushuaia, na Argentina. “Fomos esticando o trajeto e, no fim das contas, nos perguntamos: por que não subir até o Alasca?”, revelou Fernanda. Se engana quem pensa, porém, que a aventura nasceu de um simples impulso, ou de um “comichão” por viajar. Resultado de dois eventos traumáticos na vida do casal, o passeio de 63 mil quilômetros representa um momento importante para ambos. “Em maio de 2013 sofri um acidente grave que podia ter me matado. Fui atropelado de moto por um carro que disputava um racha e tive fraturas graves na coluna. Com sequelas sérias, fiquei impossibilitado de continuar vivendo como antes e, depois que me aposentei, comecei a procurar um estímulo para enxergar vida com beleza novamente. Para tanto, a ideia de uma viagem sempre nos atraiu”, contou Marco.

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Longa estrada

O gatilho que faltava para iniciar o projeto, no entanto, surgiu em 2015, quando Fernanda então com 35 anos – foi diagnosticada com esclerose múltipla. “A médica me aconselhou a simplesmente ‘viver’. E eu obedeci”, revelou. Mala, cuia e muita vontade de viver, no dia 6 de novembro o casal deu início à jornada rumo ao extremo sul da América. Descendo até Ushuaia, conforme tinham planejado, Marco e Fernanda seguirão de carro para a América do Norte passando pelos pontos que, desde crianças, sonham conhecer. “Tenho paixão pelo Canadá então mal posso esperar para chegarmos lá. Já o Marco quer ver as montanhas do Chile, o Deserto do Atacama e o Salar de Uyuni, na Bolívia. Sabemos porém que vamos acabar vendo muito mais do que imaginamos”. Ao todo, a previsão é de que a viagem dure de um e meio a dois anos.

Foto: Denis Ferreira Netto/Tribuna do Paraná
Foto: Denis Ferreira Netto/Tribuna do Paraná

Com um orçamento de US$ 60 dólares por dia, o casal prevê um gasto total de 8.400 litros de combustível ao longo de todo o trajeto. Revezando o volante, os aventureiros dormem numa barraca já montada sobre a carreta e tomam banho pelos campings que encontram no caminho. Entre os maiores desafios, o frio, a chuva, o vento e os animais foram os principais até agora. “Acordar e dar de cara com um lagarto ou deitar e de repente se ver cercado por aranhas ainda é difícil pra mim. Mas tudo isso faz parte da aventura”, brinca Fernanda.

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Com expectativa de chegar ao Alasca até setembro de 2019, o casal passará datas importantes na estrada, a começar pelas festas de fim de ano. “Será nosso primeiro Natal longe da família e provavelmente estaremos em algum lugar da Argentina. Sentiremos falta dos parentes mas, ao mesmo tempo, quem sabe não façamos uma ceia regada a filé argentino e vinho? Vamos viver um dia de cada vez”, disse Marco entre risos.

Para Fernanda, mais do que um sonho, a viagem representa refrigério para a mente. Uma oportunidade de aproveitar melhor a vida, diante da difícil perspectiva da doença. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Os problemas sempre vêm, mas eu procuro olhar sempre para o lado bom das coisas e, como a esperança é a última que morre, vai que eu volto curada?”, brincou.

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Ao casal, a Tribuna deseja uma boa viagem. Na volta estaremos lá para contar!
Acompanhe as aventuras de Marco e Fernanda pelas redes sociais, no site, e no Instagram: @pelonossocaminho.

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