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Não madrugar na fila em frente ao posto de saúde, em busca de uma consulta médica. Era uma das promessas de campanha do prefeito Rafael Greca. No início da gestão, ele e sua equipe criaram um aplicativo para celular chamado Saúde Já Curitiba, no qual os pacientes podem marcar o primeiro atendimento na unidade de saúde. É só marcar e chegar no horário escolhido. Ainda na fase de ajustes e complementos, o aplicativo vem recebendo muitas críticas de alguns e elogios de outros. Mas será que ele funciona mesmo? Dá para evitar a fila de madrugada? A Tribuna testou.

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Eu instalei o aplicativo em meu celular numa sexta-feira. Como não tinha cadastro no SUS, não consegui entrar no aplicativo. Conforme a orientação mostrada na tela, eu me dirigi a um posto de saúde na minha região e me cadastrei, levando CPF, RG e comprovante de residência. Depois disto, bastou digitar CPF e data de nascimento no aplicativo, que consegui acesso. Aceitei os termos de uso do sistema e logo abriu uma tela, com duas opções: agendar um primeiro atendimento com a Enfermagem ou com a Odontologia.

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Na segunda-feira à tarde, agendei com a Enfermagem para o dia seguinte, às 14h. Cheguei pontualmente e, depois de me identificar, fui atendida em três minutos. A enfermeira confirmou meus dados, mediu minha pressão e meu peso e perguntou por qual motivo eu buscava o posto. Informei que gostaria de cuidar das varizes, pois estava sentindo alguns incômodos nas pernas.

Perguntei sobre exame ginecológico preventivo também e, se fosse do meu interesse, a enfermeira estava a postos para coletar o material naquele momento. O material seria encaminhado ao laboratório e o resultado estaria disponível em 60 a 70 dias. Ela explicou que, caso seja constatada alguma alteração no exame, eu seria encaminhada ao clínico geral da unidade, a um ginecologista ou outro especialista, conforme o laudo do exame. Ao fim da avaliação, a enfermeira me disse que tentaria um encaixe na sequência, com o clínico geral dali mesmo. Ela conseguiu e pediu que eu esperasse um pouco.

Foto: Felipe Rosa.
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Esperei cerca de 40 minutos e o médico me atendeu. Ele mediu novamente minha pressão, meu peso e também a altura. Avaliou minhas varizes e saí de lá depois de uns 10 ou 15 minutos, com a prescrição do uso de meias elásticas e dois medicamentos. Um deles eu conseguiria no posto mesmo. Cirurgia ou secagem, na avaliação dele, por enquanto não é o caso.

O que eu achei?

Na minha avaliação, o aplicativo funcionou. Não precisei ficar na fila e fui atendida pontualmente no horário marcado. A enfermeira me encaminhou ao médico e uma hora e 10 minutos depois eu estava saindo da unidade de saúde. Enquanto esperava a consulta, conversei com alguns usuários do posto, que tem como característica muitos atendimentos a bebês e crianças ou idosos.

Uma mulher de 37 anos disse que conhecia o aplicativo, mas não o utilizava. Ela informou que conseguir o primeiro atendimento até é rápido ali. Consulta com clínico geral, se não for no momento do agendamento, consegue-se de um mês para o outro. “E eles tentam resolver o máximo de coisas possíveis no próprio posto, para não precisar encaminhar a especialistas. Mas, quando precisa, o difícil é conseguir os especialistas”, disse a paciente, que está há três meses tentando dois deles.

Uma idosa relatou que não usa o aplicativo, porque não sabe lidar com esta tecnologia. Mas sempre telefona ao posto para marcar consulta. Liga de manhã e já consegue para a tarde. Já uma jovem, com um bebê de colo, disse que já ouviu falar do aplicativo. Mas ainda não o utiliza porque, sempre que vai com o bebê, já deixa a próxima consulta agendada. Um rapaz, que levava a filha de cinco anos ao posto, disse que era a primeira vez que estava ali, pois se mudou há pouco, e não conhecia o aplicativo.

Apesar do esforço do prefeito em tirar as pessoas da fila na madrugada, em frente às unidades de saúde, muita gente ainda enfrenta frio, chuva e risco de assaltos para garantir o atendimento médico. A Tribuna passou por seis unidades de saúde de Curitiba durante a madrugada do dia 29 de novembro.

Vaniel abandonou o aplicativo. Foto: Felipe Rosa.

A maioria das pessoas que busca os postos de saúde já ouviu falar do aplicativo, mas nunca o utilizou, ou porque as próprias equipes das unidades de saúde desencorajaram, dizendo que não funciona, ou porque não tiveram interesse em testá-lo, não sabem lidar com a tecnologia (principalmente idosos), ou não entenderam que o primeiro atendimento é apenas com uma enfermeira, para depois ser encaminhado à consulta. Poucas pessoas disseram não conhecer a ferramenta.

Vaniel Teixeira, 22 anos, já usou o aplicativo e o abandonou. Usuário da unidade Vila Sandra, na CIC, ele disse que marcou o atendimento pelo Saúde Já e, quando chegou na unidade, não havia nada marcado no seu nome. Teve que voltar no dia seguinte para marcar a consulta, para outro dia ser atendido.

Flávia Cristina, 24, disse que já tentou usar o aplicativo e que dava erro no agendamento, por isso desistiu e só vai pessoalmente, de madrugada, para garantir vaga. Não bastasse isso, ela ouviu os funcionários do posto afirmando a outros pacientes que a ferramenta não funciona.

Mariana preferiu enfrentar a fila. Foto: Felipe Rosa.

Na unidade Atenas, também na CIC, o mecânico Carlos Avancini, 57, disse que não sabia do aplicativo. Na semana anterior, já tinha ido ao posto de madrugada. Chegou às 6h30, era o 15.º da fila, mas não conseguiu atendimento. Voltou na semana seguinte, às 5h45 e era o primeiro. A aposentada Mariana de Souza, 59, também chegou quase junto com Carlos. As enfermeiras a orientaram que, pelo aplicativo, seria o atendimento com a enfermagem. Então, ela preferiu vir na fila, considerando que assim conseguiria o atendimento direto com o médico.

O motorista Ricardo de Oliveira, 41, acredita que marcar pelo Saúde Já é a mesma coisa que ligar ao posto. “Mas se por telefone eles falam que nunca tem consulta, imagina pelo aplicativo. Mais fácil vir na fila pra ver se consegue”, analisou.

Além das unidades Atenas e Vila Sandra, a reportagem passou por outras, em regiões distintas da cidade, entre 5h40 e 7h: Bom Pastor (Vista Alegre), Santa Quitéria, Augusta (CIC) e Iracema (Capão da Imbuia). Com exceção da Bom Pastor, todas as outras tinham fila na porta, de pessoas aguardando atendimento.

Foto: Felipe Rosa.

Orientações

Na unidade de saúde Tarumã, no Bairro Alto, perguntamos na recepção sobre a marcação de consultas pelo aplicativo. A recepcionista informou que eu tinha que me cadastrar no posto da minha região, para depois poder usar o Saúde Já. Mas, também não encorajou muito a nova ferramenta, dizendo que tanto fazia marcar no aplicativo, ou diretamente ali no posto. Independente disto, teria que passar pela enfermeira pra ver para quando ficaria a consulta.

Já na unidade de saúde Iracema, no Capão da Imbuia, a orientação para cadastramento foi igual. Mas a recepcionista estimulou usar o aplicativo, deixando claro que o atendimento inicial seria com a enfermagem, para depois ser encaminhada a uma consulta na hora ou em outro dia, conforme a urgência. Neste posto, duas pacientes abordadas pela reportagem conheciam o aplicativo. Mas uma mulher disse que não o utilizava porque preferia o jeito tradicional. A outra, mais idosa, não sabia manusear bem o celular.