Curitiba

Passou raiva

Escrito por Maria Luiza Piccoli

Aumenta o número de casos de raiva em morcegos na capital paranaense

O inconfundível farfalhar das asas acompanhado pelos grunhidos agudos provoca arrepios. Mesmo sabendo que os morcegos “urbanos” não são vampiros, é difícil encontrar quem “simpatize” com o bichinho, principalmente quando ele aparece sem avisar. Em Curitiba, ocorrências envolvendo os quirópteros são relativamente comuns. Só no ano passado, quase 400 casos em residências foram registrados pela Unidade de Vigilância em Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio do telefone 156. Ao todo, 207 animais foram examinados –  e destes – 10 estavam contaminados com o vírus da raiva. O número é alto quando comparado aos diagnósticos feitos em anos anteriores. Em 2016, por exemplo, apenas 2 casos de contaminação foram registrados.

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Quem pensa que morcego não escolhe endereço para dar as caras está enganado. Ao que tudo indica, os bichos aparecem mais na região norte da cidade. Dados da Unidade de Vigilância em Zoonoses apontam que a maioria das ocorrências envolvendo morcegos em 2017 aconteceu nos bairros centrais e na zona norte de Curitiba, como Ahú, Boa Vista e também na CIC. De acordo com o biólogo e coordenador da unidade, Juliano Ribeiro, a “preferência” dos animais pela área é consequência da grande concentração de focos de luz artificial decorrente da aglomeração de residências dos bairros. “O que atrai os morcegos, na verdade, são os insetos que aparecem por conta da luz artificial das residências durante a noite. Em bairros residenciais de grande aglomeração são mais focos de luz e, consequentemente, mais insetos. Um prato cheio para os quirópteros urbanos”, explica.

Segundo o especialista, a grande concentração residencial também favorece a aglomeração de morcegos, principalmente entre juntas de prédios, dutos de ventilação, toldos, forros, e tubulações de chaminés. Tais ambientes, apresentam condições de temperatura e umidade muito semelhantes às de rochas e cavernas – habitat natural dos bichos.  O fenômeno é comum aos grandes centros urbanos ao redor do mundo e, de acordo com Juliano, não representa risco significativo à população. “Muita gente nem imagina que Curitiba concentra centenas de colônias de morcegos em locais de grande movimentação. Os animais não trazem perigo imediato ao homem e representam um papel importante no controle da população de insetos. Por esse motivo não devem ser mortos”, diz.

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Quanto aos casos de raiva registrados recentemente, o alerta serve para quem tem animais de estimação. Juliano explica que as contaminações costumam acontecer a partir do contato dos animais domésticos com os quirópteros, e não a partir do ataque dos morcegos aos cães e gatos, como muitos pensam. “Morcegos urbanos não são vampiros. Ao contrário daqueles que vivem nas áreas rurais, que costumam atacar gado, os quirópteros que surgem pelos quintais de Curitiba vêm para caçar insetos. Quando infectados com o vírus da raiva, eles ficam desorientados e caem no chão. É nesse momento que os cães ou gatos que vivem no ambiente doméstico podem ser contaminados”, explica.

Foto: Lineu Filho.
Foto: Lineu Filho.

É exatamente o que aconteceu com Fred, o gato da raça angorá de estimação da dona de casa Dayane Grabowski, 33, que em 2010 morreu contaminado por raiva. “Eu não cuidei com as vacinas e um dia o Fred começou a espumar e passar mal. Vi que ele não estava comendo direito e fui tentar ajudar. Nisso ele me mordeu, e morreu na mesma noite. Por conta do episódio decidi sozinha tomar a vacina antirrábica na UPA do Pinheirinho, perto de casa”, lembra.

Os saldos do acidente até que se ela recuperasse totalmente, foram sete injeções, diversos remédios, e uma reforma total no quintal de casa –  já que além de Fred – outros 12 gatos viviam no mesmo espaço. “Quando houve confirmação de raiva, os agentes da unidade de zoonoses vieram até minha casa e isolaram todos os animais. Tive que construir um gatio, com grades de ferro e espaço suficiente para abrigar os 12”, conta. Durante 6 meses, veterinários e especialistas visitaram a residência e realizaram exames periódicos nos gatos, até que a hipótese de novas contaminações fosse descartada.

Se antes eram 12, hoje são apenas 4 gatos no quintal de Dayane: Porcaria, Negão, Saymon e Sasha. O gatio permanece armado, por prevenção, e a rotina de vacinas é mantida sempre em dia. “Nunca se sabe quando um morcego pode cair no quintal da gente e nunca mais quero passar por aquele transtorno. Vacinar meus bichinhos virou prioridade  aqui em casa”, finaliza.

Apareceu um morcego! O que fazer?

De acordo com o biólogo e coordenador da Unidade de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Juliano Ribeiro, o primeiro passo é isolar a área e tentar conter o animal – sem matá-lo – caso esteja no chão. Para isso, basta usar um recipiente, como um balde. Em seguida, deve-se ligar para o número 156 e solicitar a remoção do morcego. “Jamais se deve tentar matar ou capturar o morcego. É nessa hora que muita gente acaba se contaminando”, explica.

Como saber se seu animal de estimação teve contato com um morcego infectado?

Segundo Juliano, os primeiros sintomas que indicam infecção por raiva são: excitação excessiva do animal, fuga da luz e inquietação. Em um segundo estágio, o animal pode apresentar queda das patas traseiras, dificuldade para engolir – o que provoca a espumação – e dores fortes, que provocam irritabilidade até mesmo nos bichos mais mansos.

Acha que foi infectado?

Antes de tudo, recomenda-se lavar a região afetada com água e sabão. Em seguida, orienta-se a procurar atendimento médico o quanto antes para administração de soro e vacinação específicos. Depois, deve-se entrar em contato com a central de atendimento da Prefeitura, pelo telefone 156 e registrar a ocorrência.

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Maria Luiza Piccoli

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