A farmacêutica Ana Caroline Marques trabalhou em uma maternidade e lá conviveu com histórias de mães que pouco podiam fazer para ajudar seus bebês nos primeiros dias de vida: prematuros, os pequenos contavam com o leite de outras mães para se fortalecer e, então, seguir a vida normalmente. Isso a sensibilizou e a fez decidir na segunda gravidez, de Ana Luiza, que seria doadora de leite materno.

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“Meu primeiro contato foi com o Hospital Evangélico, em Curitiba, e me indicaram um pessoal aqui mesmo, em São José dos Pinhais. Entrei em contato, a enfermeira veio até minha casa me orientar a doar, além de me orientar a atender melhor minha filha na amamentação também. É uma satisfação muito grande poder colaborar, saber que existe uma estrutura na minha cidade para ajudar quem precisa tanto, que são esses bebezinhos”, diz Ana.

Essa estrutura na própria cidade é a Associação de Proteção à Maternidade, à Infância e à Família (APMIF), entidade sem fins lucrativos e de interesse social que, desde 2009, tem como principal objetivo estimular a doação do leite materno. O trabalho é feito com recursos próprios, gerados de atividades como bazares e venda de artesanato. Já teve suporte financeiro da prefeitura, em “bons tempos” que a presidente da entidade, Maria Elenir de Oliveira Mizerkowski, sonha rever.

O trabalho é feito com recursos próprios, gerados de atividades como bazares e venda de artesanato. Foto: Ivonaldo Alexandre.

Ela conta que o objetivo não é o apadrinhamento de verba pública, mas sim poder voltar a contar com mais de uma enfermeira, ampliar os atendimentos a domicílio das doadoras e, assim, aumentar o volume do leite doado, que hoje é encaminhado ao Hospital das Clínicas, em Curitiba. “Esperamos que São José dos Pinhais tenha seu próprio Banco de Leite Humano”, diz.

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Mas, se os dias não são dos melhores, também não há do que reclamar: a entidade reabriu em agosto, depois de mais de um ano fechada, por falta de recursos. No final de janeiro de 2014, quando contava com cerca de 30 doadoras, a APMIF anunciou o fim das coletas, que estavam acima de 20 litros semanais. Agora, a entidade conta com uma esgotadora de leite de última geração, doada pelo Rotary Club e vê aumentar o interesse das novas mães em doar o leite materno excedente.

Em busca de recursos

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A casa que serve de sede da APMIF é enorme, bem-localizada e não pertence à entidade. O aluguel custa em torno de R$ 4,5 mil. “Precisaríamos de uns R$ 10 mil por mês para garantir todas as nossas ações”. A maior parte do valor vem do trabalho voluntário de mulheres que fazem artesanatos com produtos doados, como almofadas, jogos americanos, toalhas, enfeites para casa e aventais.

A conquista de um ponto dentro da Rodoviária de Curitiba para expor os produtos é festejada por Maria Elenir: mais uma maneira de ampliar os rendimentos. Afinal, não é só a coleta do leite que é feita pela associação: lá o leite é congelado, esterilizado e todo o material para que o produto não seja contaminado é oferecido às doadoras.

Em outra ação da entidade, as mães também têm a oportunidade de aprender a usar as máquinas de costura para fazer o enxoval dos seus bebês, sem custo.

Insubstituível

Não é preciso muito para doar leite materno, explica a enfermeira obstetra Grasiela Hugen. Basicamente, as mães em período de lactação não podem fumar ou tomar medicamentos e estar saudáveis. No mais, toda a técnica é ensinada e qualquer quantidade coletada na semana é bem-vinda. “Há mães que somam litros; há outras, que somam mililitros, mas não é uma gincana. Um bebê prematuro precisa de quantidades muito pequenas por dia. A Organização Mundial de Saúde (OMS) destaca que um litro de leite alimenta até dez bebês”, estima.

Gisele: “um litro de leite alimenta até dez bebês”. Foto: Ivonaldo Alexandre.

O Brasil tem uma das maiores redes de Banco de Leite Humano do mundo, com 375 bancos e postos de coleta. O Paraná é o segundo estado com o maior número de mulheres doadoras: em 2015, 13.667 mulheres doaram 15.389 litros de leite para os 22 bancos e postos de coleta até novembro, segundo levantamento da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano da Fundação Oswaldo Cruz.

Além de estimular a doação, a APMIF incentiva que as mães insistam no leite materno como a principal fonte de alimento dos bebês. “Há muitas facilidades para a mãe desistir, a mamadeira, o leite industrial, às vezes o próprio pediatra incentiva, falta apoio do marido, das amigas, falta informação. E, apesar de buscar o peito ser instintivo, o ser humano é o único mamífero que precisa ser ensinado a mamar. Então, às vezes, para a mãe, o começo é difícil mesmo, tem dor, falta jeito, mas é possível conseguir e estamos dispostos a ensinar”, insiste Graziela.

Serviço: 
Associação de Proteção à Maternidade, à Infância e à Família (APMIF)
Endereço: Rua Izabel A. Redentora, 2048
Telefone: (41) 3058-1979

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