A febre começou em 2014 depois que a filha pequena da top model Gisele Bündchen, Vivian Lake – então com poucos meses – apareceu nas redes sociais usando o acessório. A partir de então, a procura pelo colar de âmbar báltico explodiu entre mães adeptas de terapias alternativas, já que a promessa do adorno é aliviar dores comuns aos pequenos, como cólicas e aquelas típicas da fase da dentição. Enquanto as defensoras do acessório garantem que ele realmente funciona, entre a comunidade médica a eficácia do apetrecho para uso terapêutico gera discussão.
Sophia tem um ano e meio. Filha da autônoma Letícia Ribas, 23, a pequena dorme hoje em média 5 horas por noite: tempo considerado excelente pela mãe, já que, nem sempre foi assim. “Ela dormia pouco, chorava muito de madrugada, acordava de hora em hora. Quando completou dois meses resolvi comprar o colar de âmbar pra ver se funcionava e fiquei surpresa com o resultado”, afirma a mãe, que também observou efeitos benéficos quando os primeiros dentinhos da pequena começaram a surgir. “Ela não reclamou, não teve febre e nem aquelas explosões que as crianças costumam ter nessa fase”, disse.
Satisfeita, ela não pretende interromper o “tratamento” tão cedo. “Na maior parte do dia ela fica com o colarzinho no pescoço. Só tiramos na hora de dormir. Para fazer efeito o âmbar precisa ficar em contato com a pele por um longo período e, como não incomoda, a gente deixa”, revela.
Já para Aline de Oliveira Gonçalves, 40, o colar de âmbar não vingou. Há dois anos a jornalista comprou uma peça na tentativa de aliviar as dores que seu filho Tomás, então com 6 meses, sentia por conta dos novos dentinhos que nasciam. O tratamento não deu certo. “Eu tinha expectativa de que o colar ajudasse pelo menos um pouco. Não aconteceu absolutamente nada. Ele sentia muitas coceiras, dores e teve febre também”, afirma a mãe que, ainda insistiu por 8 meses antes de desistir por completo do tratamento alternativo. “Passei a usar só como acessório”, revelou.
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Alegria dos comerciantes
Aquecido, o segmento artesanal em Curitiba comemora a fama do acessório e investe em outras versões do adorno, buscando conquistar também os adultos que acreditam em suas propriedades terapêuticas. É o caso da empresária Mariana Vanderlei, que há 6 anos administra uma loja online especializada em acessórios de âmbar e também distribui para o comércio local.
Vendendo uma média de 200 peças por mês, a comerciante exporta diretamente de uma cooperativa sediada na Lituânia e, desde que abriu o negócio, em 2013, observou uma procura 200% maior pelos produtos feitos com o material. “Eu só trabalho com isso porque vivi na pele os benefícios da terapia feita com meu filho pequeno. Os resultados foram tão eficazes que eu fui atrás para entender como funcionava e acabei me especializando”, revela.
Além dos colares infantis, cujo preço pode variar de R$ 115 a R$ 130, outras versões como pulseiras e tornozeleiras para adultos e até mesmo coleiras para cães e gatos compõe o arsenal de apetrechos disponíveis no mercado. “Além de ajudar no alívio de dores crônicas como artrites e fibromialgias nos adultos, o âmbar também pode contribuir no controle de ectoparasitas em animais”, garante Mariana. Segundo a empresária, no entanto, a maior procura ainda é para bebês em fase de dentição. Sobre a opinião médica acerca do tratamento, a empresária admite não haver comprovação científica a respeito de sua eficácia. “É muito mais uma questão de observação. Para algumas pessoas dá certo e para outras não”, diz.
Que raios é o âmbar báltico?
Resina fóssil produzida por pinheiros, o âmbar báltico vem sendo utilizado como acessório terapêutico há algumas décadas em países da Europa. Entre entusiastas das terapias alternativas, acredita-se que o material possua propriedades analgésicas devido à forte presença de ácido succínico em sua composição.
Amplamente utilizado na indústria farmacêutica, o ácido succínico é conhecido por suas propriedades imuno-estimulantes, analgésicas, cicatrizantes e anti-inflamatórias. Pelo fato de estar presente no âmbar, a crença de que a resina libere a substância por meio do contato com a pele acabou se difundindo e os acessórios artesanais feitos com o produto conquistaram uma parcela importante das mamães e papais antenados nas novidades do mercado voltado à saúde infantil.
Segundo os adeptos do colar de âmbar, no entanto, a coisa só funciona com o âmbar original, importado da bacia do Mar Báltico, que compreende países como Lituânia, Letônia e Estônia, principais produtores e exportadores de âmbar do globo. Para saber se o produto é original, alguns testes simples como pingar acetona sobre as contas (se for original ela vai soltar uma substância viscosa) ou colocá-las em água salgada (se for original a “pedra” vai boiar). Essas “manhas” ajudam a identificar a legitimidade do produto.
Pediatras recomendam cuidado
Sem evidências científicas que comprovem a eficácia do acessório, a comunidade médica ainda diverge sobre o tema. Segundo o pediatra e secretário geral do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Luiz Ernesto Pujol, além de não recomendado, o uso das peças de âmbar pode trazer riscos para as crianças. “É preciso ter muito cuidado com terapias de aventura, principalmente quando envolvem o uso de acessórios como colares, que podem se prender a objetos e apertar o pescoço da criança ou até mesmo arrebentar, trazendo o risco dos pequenos engolirem as peças”, alerta.
Apesar das conhecidas propriedades medicinais do ácido succínico presente no âmbar, segundo Pujol, o simples contato do material com a pele não seria suficiente para surtir efeito analgésico. “Para que seja utilizado como remédio, o ácido succínico precisa passar pelo processamento adequado. Não basta simplesmente encostar o âmbar na pele”, diz.
Apesar dos pesares, se na vida vale o lema que diz que “quem não arrisca não petisca”, talvez o âmbar báltico possa ser encarado com mais simpatia. Pelo menos é com esse argumento que os entusiastas do “tratamento” defendem o uso dos apetrechos. “Não nos fez mal nenhum. Muito pelo contrário. Graças ou não ao colarzinho de âmbar, sei que a Sophia não sofreu tanto na fase da dentição quanto já vi outras crianças sofrerem. Se me perguntassem, certamente falaria bem do acessório”, finaliza Letícia.
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