Curitiba

Faculdade fecha em Curitiba e ‘bomba’ fica pra ex-alunos

Escrito por Lucas Sarzi

Desde o começo do ano letivo, estudantes da Faculdade de Tecnologia Machado de Assis, popularmente conhecida como FAMA, têm enfrentado um dilema que coloca em jogo a formação e até mesmo a vontade de seguirem estudando: não sabem como vai ser a continuidade dos estudos. Isso porque a faculdade fechou os cursos presenciais, encaminhou todos os alunos ao Centro Universitário UniBrasil e deixou a bomba para que os estudantes resolvam com a nova instituição.

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A denúncia foi feita por dois estudantes, que procuraram a Tribuna do Paraná para contar o que aconteceu. Segundo uma delas, que pediu para não ser identificada porque tem medo de que isso a prejudique de alguma maneira, os alunos só souberam da “novidade” no dia em que voltariam a estudar. “Ninguém nos comunicou antes, até mesmo para que pudéssemos nos preparar. Deixaram chegar o primeiro dia de aula e, com isso, não só nos trouxeram um baita problema, como também fizeram com que não pudéssemos começar a estudar no período certo”.

A jovem, que está no último ano de pedagogia, começou os estudos em 2015. “Quando começamos, a faculdade já tinha alguns problemas, mas nunca foi algo tão grave, dava para levar. Neste ano, quando foi para começar as aulas, nos reuniram e disseram que tinham transferido todo mundo para o UniBrasil. Aí começaram os problemas”, detalhou.

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Com a explicação de que não poderiam mais continuar as atividades, a faculdade informou os alunos que todos deveriam seguir com os estudos na nova instituição. “Mas aí começamos a ver muitos problemas, o primeiro deles, por exemplo, o valor da mensalidade”.

Ao chegar para ver sua situação na UniBrasil, a jovem soube que, pela troca de instituição, obviamente o preço mudaria também. “Mas quando passaram para a gente que haveria a mudança, disseram que o valor que pagávamos na FAMA seria mantido. Acontece que a UniBrasil confirmou que manteria o valor até o fim do primeiro semestre, depois as mensalidades seriam ajustadas”.

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No caso da estudante, assim como com outros alunos, os boletos aumentaram de preço ainda no primeiro semestre. “Eu paguei até fevereiro para a FAMA, mas estou com boletos da UniBrasil ainda sem pagar porque todas as cobranças que vieram para mim estão bem acima do que pagava antes. Estou guardando o dinheiro das mensalidades, mas ainda não sabemos como isso vai ficar”.

Conforme a estudante, a decisão da UniBrasil, após o fim do primeiro semestre, seria a de adaptar os valores cobrados pela FAMA. “Iriam avaliar uma forma de não cobrar o mesmo preço da UniBrasil, já que os valores de lá são bem maiores que os da FAMA, mas teria aumento sim”.

Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Histórico com falhas

Além da questão dos valores das mensalidades, os alunos enfrentaram também a questão do histórico escolar, que em alguns casos nem existia e, em muitos deles, o documento estava incompleto. “No meu caso, praticamente metade dele não existia. Eu só consegui ajeitar a situação porque eu controlava todas as minhas notas e informações, tinha tudo, então facilitou. Mas tem muita gente que teve problema porque o histórico veio com notas erradas, não tinha nota ou simplesmente não existia”.

Como estava no último período, na fase em que os estudantes produzem o trabalho de conclusão de curso, conhecido como TCC, a jovem ainda conseguiu negociar com a UniBrasil e sua situação não ficou tão complicada: pelo menos o TCC ela continuou fazendo. “Mas não sabemos como vai ficar a questão do diploma, por exemplo. A FAMA disse que seria pela UniBrasil, mas na UniBrasil diz que é pela FAMA”.

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A estudante disse que sentiu ainda mais medo quando viu que tem alunos antigos que ainda não pegaram seus diplomas. “Fui à FAMA para resolver a situação do histórico e encontrei alguns alunos, de cursos de três anos atrás, que ainda não tinham conseguido o diploma. Não culpo a UniBrasil, porque como vão pegar um aluno que estudou quase nada lá e dar pegar um diploma da instituição?”.

Sem destino certo

Alunos transferidos da FAMA não sabem o que vai ser daqui pra frente, pois tem gente que o curso não existe na UniBrasil, caso do jovem João Victor. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Alunos transferidos da FAMA não sabem o que vai ser daqui pra frente, pois tem gente que o curso não existe na UniBrasil, caso do jovem João Victor. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

No caso de João Victor de Souza Gonçalves, de 19 anos, outro estudante entrevistado pela Tribuna, a situação foi ainda pior: cursando letras, o jovem não conseguiu continuar estudando na UniBrasil porque a instituição não tem o curso. “Primeiro disseram que iriam montar uma plataforma com a mesma grade curricular que tínhamos na FAMA, mas tivemos apenas duas aulas. Na segunda aula comunicaram que o curso não poderia continuar lá, pela demanda ser baixa, já que eram apenas sete alunos”.

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Por conta da decisão da UniBrasil, alguns estudantes conseguiram mudar para outras instituições, outros desistiram de vez e João Victor continuou no Centro Universitário. “No meu caso, a UniBrasil me ofereceu cursar, neste semestre, uma matéria isolada na turma de pedagogia. Depois que esse semestre acabar, eu vou ter que mudar para outra faculdade, que ainda não sei o que vai ser”.

Na FAMA, João Victor tinha bolsa de 100% e isso, pelo menos, foi mantido na UniBrasil. “Mas não sei como vai ser essa situação se eu conseguir mudar de faculdade, se essa nova instituição vai manter a bolsa ou se vão bater com a porta na minha cara. Já liguei para várias faculdades, para ver as possibilidades que eu tinha, até agora só uma foi receptiva, mas ainda assim é incerto”.

Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

E a explicação?

A Tribuna tentou fazer contato com a FAMA por várias vezes, mas não obteve retorno antes da publicação da reportagem. Apenas nesta quarta-feira a instituição enviou uma nota oficial sobre os problemas. Leia mais sobre este posicionamento.

Apesar disso, os estudantes alegam que, para eles, pelo menos duas explicações foram dadas pela FAMA, uma que está no site da instituição e outra que foi dita durante a reunião de comunicado do encerramento das aulas presenciais. “Nessa reunião, disseram que não faliram, que na verdade o problema era com os proprietários do imóvel, que não queriam mais eles lá”, contou o estudante de letras.

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Segundo o jovem, os representantes da FAMA disseram que se uniriam a outra instituição, que fica no bairro Santa Cândida. “Mas lá nessa faculdade iriam cuidar apenas da parte administrativa”. “Falaram para a gente que perderam o prédio, mas a FAMA está aberta com curso EAD (ensino a distância)”, completou a estudante de pedagogia.

Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

No site oficial da Faculdade de Tecnologia Machado de Assis, a instituição disponibilizou um comunicado que aparece logo de início. O texto diz que o motivo de transferir os alunos se deu pela “falta de matrículas em janeiro, inadimplência alta de alunos, ausência do programa FIES e diversas intempéries no mercado”, que tornaram “economicamente inviável manter o funcionamento da FAMA presencial”.

Segudo a estudante de pedagogia, nenhuma explicação concreta foi dada. “E toda vez que perguntamos, ainda tem uma secretária que é estúpida, grossa com os alunos. A gente começou a achar que a UniBrasil pegou essa bomba às cegas. Se soubessem o quanto de problemas que tinham, não teriam pego. Estão tentando nos ajudar como podem”.

E a UniBrasil?

Em nota, o UniBrasil informou que, “ao receber pedidos de transferências externas e de matrículas isoladas, não tem responsabilidade por fatos relativos às instituições de origem, com as quais os alunos transferidos e novos (disciplinas isoladas) possuíam ou possuem vínculo”. Sendo assim, conforme o Centro Universitário, “também não pode ser imputada responsabilidade por condutas de outras instituições e, por razões éticas, o UniBrasil não avalia, nem tece, considerações sobre as ações de outras instituições”.

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Sobre as mensalidades, cada instituição tem sua política própria de valor de mensalidade e define o valor cobrado para seus cursos e igualmente define os abatimentos aplicáveis, com a respectiva previsão nos contratos assinados pelos alunos. É importante frisar que o UniBrasil cumpre rigorosamente o pactuado nos contratos celebrados com seus alunos, tanto no que se refere a valor de mensalidade, quanto a eventuais abatimentos incidentes no respectivo caso.

Valores definidos por outra instituição, por conseguinte, não vinculam a atuação do UniBrasil.
O UniBrasil salienta que, ao receber pedidos de transferências externas e de matrículas isoladas, NÃO tem responsabilidade por fatos relativos às instituições de origem, com as quais os alunos transferidos e novos (disciplinas isoladas) possuíam ou possuem vínculo. Assim, reforçamos que ao UniBrasil também NÃO pode ser imputada responsabilidade por condutas de outras instituições e, por razões éticas, o UniBrasil não avalia nem tece considerações sobre as ações de outras instituições.

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Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

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