Há muito a crise econômica passou da fase de demandar o corte de supérfluos, como o cinema do fim de semana ou a tevê a cabo. A pior parte da somatória de desemprego, aumento da tributação, juros altos e dólar valorizado é que a inflação está atingindo itens básicos, de primeira necessidade: os alimentos. E não se trata de pequenos luxos, como uma fruta importada ou uma carne nobre. Estão pesando no bolso o feijão – que dobrou de preço em um ano – e o leite, que subiu 80%, de acordo com o Departamento de Economia Rural da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Deral). O jeito está sendo mexer nos hábitos alimentares da família.
A Tribuna conversou com consumidores na região do Mercado Municipal, no Centro, onde há estabelecimentos que vendem no varejo e no atacado, bem como açougues com preços atrativos. A constatação é que a marca já não é um fator decisivo na hora da compra. O negócio agora é escolher pelo preço mais baixo, afirma a psicóloga Gisele Azambuja, de 48 anos. “Nem pensar em marca! Minha família tem cinco pessoas, então tivemos que fazer bastante adaptações. Trocamos a qualidade do feijão, porque cheguei a encontrar feijão preto a R$ 13 o quilo. O queijo muçarela, então, que antes era R$ 15 o quilo, já está R$ 25”.
O rótulo preferido também deixou de ser critério para o que entra no carrinho de compras da administradora Michele Macedo, 37. “Estamos indo por valores, nem olhamos mais a marca. De resto, não tem muito o que fazer. Tentamos trocar o feijão pela lentilha, mas acabou saindo o mesmo preço”, comenta.
A solução encontrada pela professora aposentada Izaira Sarturi, 68, foi trocar o leite longa vida, de caixinha, pelo leite de saquinho. A adaptação ainda trouxe benefícios à saúde. “É mais barato e tem menos conservantes. O de caixinha deve ter adição de ingredientes para durar três, quatro meses. O de saquinho está sendo melhor para meu organismo”.
Menu adaptado
Além das mesas das famílias, a alta dos alimentos também atinge quem trabalha em restaurantes. A chefe de cozinha Fernanda Zacarias, 30, sentiu a inflação dos insumos utilizados em sua rotisseria, e teve de reduzir sua margem de lucro para não repassar todo aumento aos clientes. “Está complicado. De um ano pra cá, os derivados de leite dobraram de preço. A manteiga dobrou, o balde de creme de leite de três quilos e meio passou de R$ 52 para R$ 88, da mesma marca. O feijão carioca não entra no menu do estabelecimento, mas está pesando também porque usamos nas refeições dos funcionários.” Para driblar o problema, ela tenta seguir a sazonalidade dos ingredientes, adaptando o cardápio de acordo com as frutas, verduras e legumes da estação, por serem mais baratos e saborosos.
Mudança de perfil
O gerente do mercado Rei do Queijo, que fica na Rua General Carneiro, há dois anos vem notando mudanças no comportamento do consumidor, que se acentuaram de um ano para cá. “O pessoal está optando pela marca similar ao invés da marca líder de mercado. Essas marcas B estão conseguindo espaço maior agora”, observa Jefferson Salomon Júnior. O estabelecimento, que tem foco em venda no atacado para comerciantes, ganhou um novo tipo de cliente. “O consumidor final está migrando para cá, para comprar no varejo. Quem antes levava um potinho de margarina em uma rede grande de supermercados está vindo para cá comprar a embalagem de um quilo.”
O encarregado do Frigorífico Tapajós, também na General Carneiro, diz que os clientes estão trocando a carne de vaca pela de frango e porco. “De janeiro para cá, a carne bovina teve uma queda, o pessoal migrou para a ave e para o suíno. A carne de vaca, estão deixando mais para o churrasco de fim de semana”, observa Natanael Pio de Souza. As carnes mais valorizadas, como o filé mignon, também estão saindo menos. “Outra mudança foi a redução na quantidade. Já não compram mais aquela fartura, sabe?”
Dicas
Para o economista e membro do Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon-PR) Daniel Poit, mudanças nos hábitos de consumo são difíceis de serem aplicadas, já que a inflação está atingindo itens de primeira necessidade, com os quais não dá pra ficar sem. “A melhor defesa para a alta dos alimentos é que as pessoas procurem ofertas, preços menores. A sugestão é que gastem mais tempo fazendo pesquisas, usando a internet, um recurso disponível para grande parte da população. Além de se comunicar com parentes, amigos e conhecidos sobre ofertas.”
Ir de um estabelecimento a outro não é prático nem vantajoso, já que há o custo com combustível, alerta o especialista. Para a segunda metade de 2016, ele mostra otimismo. “No segundo semestre os preços devem parar de subir, a oferta dos alimentos estará maior e a própria retração do consumo acaba estimulando os produtores a arranjar meios de oferecer preços mais atraentes”, aposta. Mas a tendência é que os valores voltem a subir em 2017.
Tão caro por quê?
Os altos custos de logística, o aumento da tributação de alimentos, a alta do dólar e fatores climáticos, juntos, explicam por que os alimentos estão tão caros, de acordo com o economista. “Aumentou a exportação de gêneros alimentícios. Quando o comércio internacional se interessa pelos alimentos brasileiros, o fato de vender para o exterior, com a alta do dólar, faz com que o preço do mercado interno suba também. Se o produtor pode vender a um dólar para fora, por que ele venderia mais barato para dentro?”, explica o economista Daniel Poit.
O grande volume de chuvas no fim do ano passado e no primeiro semestre de 2016 prejudicou o pasto de gado de corte e leiteiro, diz o chefe do Deral, Francisco Simioni. “Depois, tivemos seis a sete geadas consecutivas, em junho, que queimaram tanto as pastagens plantadas quanto as nativas.” O fator climático impactou mais o preço do leite e dos derivados do que a carne, afirma ele, porque o gado leiteiro precisa de suplementação com ração de milho quando o pasto está deficitário, senão, não produz leite. “E o milho também ficou mais caro por causa das mesmas questões climáticas.” As chuvas e geadas também são as responsáveis pelo preço salgado do feijão.
Os consumidores que conversaram com a Tribuna observaram que a carne está com preço estabilizado, ou até que houve uma ligeira queda. No entanto, os especialistas afirmam que a percepção é falsa. “O preço da carne já chegou a um patamar de estrangulamento, não é que ela está barata, é que não tem mais como subir. Se subir mais, o consumo vai cair muito”, afirma Poit.
Alta na mesa
Variações médias no varejo do Paraná de julho de 2015 a julho de 2016:
- Feijão cores (carioca, vermelho) – 189,58%
- Feijão preto – 100,59%
- Leite longa vida – 80,70%
- Queijo muçarela – 44%
- Coxão Mole – 1,79%
QUEM PESQUISA, ECONOMIZA!
Grupos no Facebook
Usar redes sociais pra monitorar promoções é uma estratégia sem custos. Confira alguns grupos para comunicar ofertas na cidade:
Carne Barata – Curitiba (25.543 membros), participe aqui
Cerveja e Carne Barata Curitiba (905 membros), participe aqui
Leite barato – Curitiba (1.254 membros), participe aqui
Leite e Feijão Barato – Curitiba (59 membros), participe aqui
Disque Economia
Serviço da Secretaria Municipal do Abastecimento de Curitiba (SMAB) que consulta preços de 302 itens em cerca de 14 supermercados e coloca a pesquisa, atualizada diariamente, à disposição da população.
Serviços:
disqueeconomia.curitiba.pr.gov.br
smab@smab.curitiba.pr.gov.br
(41) 3262-6564
Dias de promoção
Confira quando há ofertas em grandes redes de supermercado:
Condor
Terças, quartas e quintas – hortifrúti
Sextas-feiras – carne
Sábados – leite
Muffato
Terças e quartas – hortifrúti
Quintas e sextas – carne
Extra
Quartas-feiras – hortifrúti