Roupas, sapatos, acessórios, brinquedos e até artigos para a casa, como móveis e eletrodomésticos. É possível encontrar de tudo no bazar permanente promovido pela Casa dos Pobres São João Batista. Vendidos a partir de R$ 1, os produtos recebidos pela entidade assistencial sediada na Rua Piquiri, no Rebouças, garantem uma boa economia para quem compra e ainda fazem com que seja possível, junto com outras doações, manter o funcionamento da casa e o trabalho realizado por seus voluntários.
Fundada em 1954 por Januário de Souza, um caixa da Rede Ferroviária que se comoveu após a morte de um homem desabrigado, a casa particular sem fins lucrativos é referência para quem busca um teto seguro, comida e uma cama quentinha, além de acompanhamento e orientação. Ao longo dos anos, vários públicos foram atendidos pela instituição, incluindo as pessoas em situação de rua. Hoje, no entanto, o foco é dar atenção para as pessoas vindas de várias cidades do Brasil e também de países vizinhos que fazem tratamento médico ou que acompanham algum parente que é atendido em um dos hospitais de Curitiba.
A casa dispõe atualmente de 112 vagas (50 femininas, 50 masculinas e 12 para casos mais graves). Todas estas pessoas recebem cinco refeições diárias durante sua estada no local. Mas para ter acesso ao atendimento gratuito, o caminho é apenas por indicação, feita pelo hospital onde é feito o tratamento especializado.
“O hospital nos liga e nos verificamos se há vaga. Damos prioridade para os pacientes de oncologia, cardiologia e para os transplantados. A gente não têm médicos ou enfermeiros, mas somos uma casa de passagem, que oferece acolhimento às pessoas”, explica o presidente voluntário da Casa dos Pobres São João Batista, Rafael Pussoli, 50 anos, que há mais de 30 anos atua na instituição. Neste período, ele confessa ter ouvido muitas histórias de vida, umas felizes, outras nem tanto.
Lições de vida
“Lembro de um homem albergado na casa, vindo do Mato Grosso. Era um homem grandão, que em uma noite de reunião dos voluntários, estava chorando embaixo de uma mangueira. Quando me viu, ele me abraçou e perguntou o que eu achava: se deveria amputar sua perna, seguindo a recomendação do médico. Isso faz uns 20 anos. Ele amputou sua perna naquela ocasião e, desde então, todos os anos volta para cá, quando vem fazer a revisão no hospital. São coisas assim que ficam marcadas para nós”, conta Rafael.
Outro caso especial para os funcionários e voluntários é o da Dona Iara, uma senhora de 57 anos que chegou à casa em 2011, sozinha e sem pertences, e que permaneceu no local até a metade deste mês. “Ela trabalhava em uma casa de família. Mas teve problemas e saiu, indo morar na rua. Depois indicaram para ela o serviço da prefeitura e, na época, como tínhamos convênio, trouxeram ela para cá e mesmo a casa sendo de passagem, acabou ficando. Ela estava sozinha, tinha vindo do Rio Grande do Sul e não tinha contato com os seis filhos. Depois que seu caso foi divulgado, seus filhos apareceram. E há 15 dias, Dona Iara foi embora, para morar com a filha, que vive em Curitiba e nem ela sabia. Estamos com saudades dela”, diz a voluntária Liana Rauber, 37.
Já o coordenador da casa, Reive Valerius de Almeida, 30, não esquece da família de Francisco Beltrão que veio para Curitiba para tratar a filha, que estava com câncer. “Lembro de um rapaz com a filha e a mulher. Eles ficaram quase um mês e ele sempre ajudava a gente, nem parecia que estavam passando por tantas dificuldades. A mulher dele ficava com a menina no (Hospital) Pequeno Príncipe e ele aqui, com a gente. Infelizmente a criança não resistiu e faleceu, foi muito triste”, relata.
Educação é solução!
O trabalho da Casa dos Pobres São João Batista não se resume ao albergue. No mesmo endereço ainda funciona um centro de educação infantil, com creche para 100 crianças de 2 a 5 anos em período integral e o Projeto Crescer, que tem capacidade para atender 60 crianças e adolescentes com idades entre 6 a 14 anos, no contraturno escolar.
No projeto, as crianças frequentam a casa de segunda a sexta-feira. Elas chegam por volta das 7h e saem somente perto do meio-dia para irem à escola, depois de almoçarem. Neste período elas têm aulas de música, arte, inglês, matemática e práticas esportivas, além do acompanhamento escolar, feito por duas pedagogas. Um atendimento sócio-educativo com o objetivo de fortalecer vínculos.
“São crianças de comunidades próximas, como a Vila Torres. Para participar elas precisam estar matriculadas em uma escola pública. Nosso objetivo é que elas fiquem das 7h às 18h em ambiente escolar. Já que à noite muitas têm uma influência negativa, com contato com alcoolismo e situações de risco. A única solução para que tenham uma vida melhor é a educação”, ressalta Rafael.
Como ajudar?
Para manter o albergue, a creche e o projeto de educação oferecido no contraturno das aulas, a Casa dos Pobres São João Batista conta com a solidariedade das pessoas.
– Doações de itens para o bazar, alimentos e produtos de limpeza e higiene para a casa, diretamente na portaria da sede, que fica na Rua Piquiri, 326 – no Rebouças – e funciona 24 horas.
– Doações em dinheiro: Banco do Brasil – Agência: 3007-4 – C/C 888.888-4.
– Bazar: terças e quintas-feiras, das 9h às 13h, na Rua Piquiri, 326 – Rebouças.
– Informações: (41) 3333-8373.