Atenção! Eles podem estar com os dias contados: maçã, pepino, cenoura, manga, berinjela e até a couve. O motivo? A marcha acelerada na qual a população de abelhas vem diminuindo nos últimos dez anos, não só Brasil, mas em todo o globo.

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O alerta já foi dado e, cientes do problema, autoridades ambientais e entidades extraoficiais buscam soluções para evitar a extinção de diversas espécies responsáveis pela polinização de cerca de 75% dos alimentos consumidos ao redor do mundo – segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). No Brasil, as espécies sem ferrão são as mais ameaçadas e sabendo disso, criadores amadores – engajados a favor da causa – têm ajudado a preservar os insetos por meio de culturas domésticas, criando colmeias em casa, quase como se fossem “bichinhos de estimação”.

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Jataís, Mandaçaias, Mirins e Iraís. Essas são as espécies de abelhas sem ferrão que convivem pacificamente no quintal da designer gráfica Chantal Kornin, 32, moradora do bairro Butiatuvinha, em Curitiba. Há dois anos, Chantal e o marido André de Albuquerque resolveram criar abelhas como hobbie e hoje, a cultura que começou com apenas uma caixa já chega a 20 colmeias, todas habitadas e organizadas no que Chantal define como “sociedades matriarcais”. “As abelhas se organizam em torno da rainha e todas as operárias também são fêmeas. Toda a estrutura da colmeia é controlada por elas e quando a população aumenta muito, elas mesmas se reorganizam e ocupam novas caixas, começando uma nova colmeia”, explica.

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Fáceis de manter, as caixas custam de R$ 250 a R$ 800, dependendo da espécie, e a criação exige baixo investimento. “Basicamente as abelhas encontram alimento sozinhas e as flores das redondezas costumam ser suficientes. A gente só ajuda no inverno com uma ‘misturinha’ de água, açúcar e suplementos multivitamínicos”, explica. Com populações que podem chegar até cinco mil indivíduos por caixa, as abelhas às vezes precisam de uma mãozinha para começar uma nova colmeia. Aí é que o casal entra em ação. “Quando há população suficiente, eu coloco um ou mais discos de cria (várias células com ovos e alimento) em outra caixa e ajudo com algumas operárias. Não demora muito para a nova colmeia começar”, revela.

Casal Chantal e Andre cultiva criações de abelhas no bairro Botiatuvinha, em Curitiba. Foto: Marco Charneski/Tribuna do Paraná

Acostumada ao temperamento dos bichinhos, a designer garante: “são inofensivas. Só ficam bravas quando a gente mexe e o máximo que vão fazer é se enrolarem no nosso cabelo ou soltarem própolis na gente”, afirma. Para ela, observar a autonomia dos insetos se tornou mais que fascínio, uma verdadeira “terapia”. “É muito interessante observar a forma com que se organizam quando, por exemplo, uma abelha ‘invasora’ se aproxima da caixa. Todas se mobilizam e trabalham juntas para expulsar a intrusa. Além disso, cuidar e observar o desenvolvimento das populações é relaxante, por incrível que pareça”, garante.

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Muito ameaçadas

As ameaças vêm de todos os lados: pesticidas, desmatamento, fungos, pragas, exploração desregrada da produção de mel e mudanças no uso da terra. Segundo o biólogo e doutor em conservação da natureza, Celso Seger, a dizimação das populações de abelhas é resultado de uma somatória de fatores. Para o especialista, iniciativas como a de Chantal são bem-vindas para ajudar na preservação das espécies. “Além de contribuírem para a manutenção das populações locais, ações de criação voluntária aprimoram o próprio conhecimento sobre as abelhas. Normalmente quem começa a criar por hobbie acaba aprendendo tanto quanto os profissionais”, diz.

Da mesma forma, entidades ambientais enxergam a prática de forma positiva. Segundo o secretário da Câmara Técnica de Meliponicultura do Estado do Paraná e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Guilherme Schüli, os benefícios da criação doméstica de abelhas são diversos. “Os principais pontos nos quais as abelhas contribuem são a polinização das plantas locais e a manutenção da diversidade entre as espécies vegetais. Não é exagero falar que nossas abelhas realmente correm risco de desaparecer, então qualquer ação que contribua para a sobrevivência das espécies é importante”, ressalta.

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Segundo o pesquisador a prática não é novidade. “Agora esse assunto está bastante em voga mas os índios já criavam abelhas para consumo de mel e uso da cera. Há muito tempo os nativos brasileiros já desenvolveram esse conhecimento do qual tanto hobistas quanto profissionais se apropriam hoje”, explica.

Mesmo sem uma produção significativa de mel, alguns criadores até chegam a comercializar o produto, cuja quantidade varia de 2 a 3 quilos anuais por colmeia, conforme a espécie. Em alguns municípios do estado a iguaria virou ícone do comércio artesanal, sendo vendida como produto medicinal. É o caso de Mandirituba, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), onde cerca de 20 produtores associados já contam com registro para exploração da atividade.

Segundo o meliponicultor e co-fundador da Associação dos Meliponicultores de Mandirituba (AMAMEL), Benedito Antonio Uczai, além de aliado da saúde, o mel das abelhas sem ferrão possui um sabor diferente quando comparado ao “mel de supermercado”. “É mais nutritivo e rico em probióticos”, garante. Justamente por isso o produto é vendido a um preço diferenciado em relação ao mel comum: de R$ 50 a R$ 60 o pote.

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Legislação

Para quem pretende iniciar uma cultura de abelhas em casa algumas recomendações importantes merecem atenção. Ainda sem legislação estabelecida, as regras sobre a manutenção dos insetos, ainda em elaboração pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), buscam garantir que as criações amadoras respeitem os biomas nativos. “Não é recomendável, por exemplo, trazer abelhas de outros estados para cultivar aqui. Isso pode interferir nas populações locais seja pela própria competição entre os animais quanto pela própria resistência dos insetos”, explica Guilherme Schüli.

Outra recomendação é adquirir colônias registradas, de modo a garantir que as abelhas comercializadas tenham procedência ‘legal‘ e, antes de começar a criação, buscar conhecimento técnico para criar os animais. “Existe um curso de capacitação ministrado pela Câmara Técnica de Meliponicultura que ensina o básico para quem deseja começar sua própria criação. Isso garante culturas saudáveis e adequadas a todo o ambiente derredor”, finaliza.

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