Curitiba

Abraço de Polvo

Escrito por Maria Luiza Piccoli

Sem incentivos, Projeto “Polvo Solidário” pode encerrar ajuda à crianças prematuras

Você acredita no significado dos sonhos? Promovido pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud, o debate que surgiu há mais de cem anos intriga muita gente até hoje. Para os mais místicos, sonhar com animais, por exemplo, pode revelar inúmeros mistérios da mente. Cavalo, sinal de amizade. Cachorro, bons presságios. Peixe indica fartura e rato é sinal de cuidado. E o polvo?

Para a dona de casa, Viviani de Souza, 38, o significado do molusco vai muito além dos sonhos: é sinônimo de amor, solidariedade e vida. Idealizadora do projeto “Polvo Solidário”, que ajuda diversos bebês prematuros em situação de internamento e crianças em unidades pediátricas de todo o Brasil, a capanemense erradicada em Curitiba luta para manter a iniciativa, que corre risco de acabar pela falta de incentivos.

A ideia começou como um hobby. Desempregada, Viviani encontrou no crochet não somente uma ocupação, mas também uma forma de “ganhar um extra”. “Eu andava depressiva por ficar só em casa e uma amiga me ensinou a fazer bonequinhos de linha chamados amigurumis.

Me surpreendi porque eu mesma nunca tinha gostado de mexer com isso, mas me achei nesse trabalho”, lembra. Logo as agulhas de Viviani não moldavam apenas miniaturas mas diversos brinquedos de várias cores, tamanhos e formatos. “Um dia eu pesquisava pela internet quando caí no link de um projeto filantrópico dinamarquês que promove doações de polvinhos de crochet para crianças internadas em UTI’s neonatais. Achei o trabalho lindo e vi que eu podia fazer a mesma coisa aqui no Brasil”, revela.

Mãos à obra

Para viabilizar o trabalho, a dona de casa contou com a ajuda da filha Emanueli, que em abril de 2017 – entrou em contato com a organização do projeto “Octoproject” e realizou a parceria oficial, cadastrando-as como “embaixadoras” no Brasil, por meio do Hospital de Base de Brasília responsável pela iniciativa no país. “Não foi simplesmente começar a crochetar e doar. Existem regras e padrões estabelecidos pela patente que seguimos à risca. Tudo para garantir que os brinquedos não vão trazer nenhum risco às crianças. Os polvos têm um tamanho certo, são feitos com materiais específicos e não podem ser vendidos em nenhuma hipótese”, diz.

Não demorou para que alguns hospitais demonstrassem interesse em receber as doações e, logo, mão-de-obra precisou de reforço. “As primeiras demandas vieram do Hospital Angelina Caron e do Hospital Regional de Francisco Beltrão, no interior do estado. São hospitais grandes, com alas pediátricas cheias. Com isso, convocamos outros voluntários para ajudar. Tudo por meio das redes sociais”, revela. Hoje, trinta e duas crocheteiras participam do projeto de maneira totalmente voluntária. Sem uma sede oficial, o trabalho é feito individualmente por cada artesã e, ao fim de cada “encomenda”, Viviani e o marido, Edson, recolhem os brinquedos e encaminham para doação.

polvo3Por que o polvo?

Mesmo sem comprovação científica, a presença dos polvinhos nas incubadoras faz a diferença na recuperação dos pequenos. Não é á toa que a organização dinamarquesa responsável pelo projeto original escolheu o simpático molusco como mascote. De acordo com a ONG, os brinquedos favorecem a criação de um ambiente seguro e confortável para os bebês, uma vez que os tentáculos de crochet remetem ao cordão umbilical materno, reproduzindo a sensação intrauterina. “Uma avaliação feita na ala pediátrica de um dos hospitais que atendemos mostrou  que os bebês ficaram mais tranquilos e apresentaram melhora nos batimentos cardíacos e na oxigenação sanguínea depois que tiveram contato com os polvinhos”, finaliza Viviani.

“Polvo Solidário”

Facebook: facebook.com/
amigurumisdavivi
Instagram: instagram.com/
viviamigurumi
The Danish Octoproject

Força pra seguir!

Hoje os tentáculos do Polvo Solidário abraçam 6 hospitais. Além da capital paranaense, a iniciativa alcança bebês prematuros internados em instituições em Pato Branco, União da Vitória, Francisco Beltrão e até no Maranhão. Se as despesas, porém, viessem apenas do combustível utilizado para transportar os mascotes, o “Polvo Solidário” iria de vento em popa. O problema é que, por conta do aumento da demanda, as colaboradoras quase não têm dado conta do trabalho e não só isso. Sem recursos suficientes para comprar todo o material necessário para a manufatura dos brinquedos, Viviani teme ter de encerrar as doações.

“Procuramos patrocínio de lojas e armarinhos,mas ninguém se dispôs a doar as linhas. Sem o material fica impossível, tirarmos do bolso porque já não temos nenhum lucro.É tudo feito  voluntariamente”, desabafa.

Para tentar arrecadar fundos para o projeto, o casal tentou de tudo: vaquinha, bingo e campanhas nas redes sociais. O retorno foi baixo diante da necessidade. “Arrecadamos só R$300. Pra se ter uma ideia, isso só dá pra vinte novelos o que rende sessenta polvinhos. Essa é a demanda de apenas um mês do Hospital Angelina Caron, por exemplo. Precisamos de reposição constante e não sabemos mais a quem pedir ajuda”, lamenta. Para não correr o risco de errar, Viviani e o marido colocaram todos os gastos do Polvo Solidário na ponta do lápis. Ao todo, R$2 mil mensais resolveriam a situação do projeto. “Se alguém sentir desejo de colaborar, qualquer ajuda será bem vinda. Precisamos muito desse apoio para continuar ajudando as crianças”, afirma Edson.

Como ajudar?

Tanto para quem pode colaborar com mão-de-obra, como para quem prefere doar materiais, o convite está aberto. “Se você sabe fazer crochet e tem condições de fazer os polvinhos, sua ajuda é fundamental. Mas também precisamos muito de bons corações que se disponham a comprar as linhas que usamos para fazer os mascotes”, diz Viviani. Para doar linhas, basta procurar um dos pontos de arrecadação, situados nos seguintes endereços:

Armarinhos Gustapão: Avenida H dos Santos, 951 Jardim das Américas (deixar com
Ângela Frisoli).
Colégio Adventista do Boa Vista (CABV): Rua Fernando de Noronha, 470 Santa Cândida.
Faculdade Doutor Leocadio José Correia: Rua José Antonio Leprevost Santa Cândida.

Para ajudar fazendo polvinhos ou pedir mais informações sobre o projeto basta entrar em contato com a Viviani pelo telefone: (41) 99652-1622.

Linhas aceitas para fabricação

Linhas aceitas pra fabricação
Linha barroco nº 4 (R$ 12,90)
Linha barroco nº 6
Linha Bella
Linha Charme
Linha Duna
Preferência para cores claras. Doações de fibra siliconizada para “rechear” os brinquedos também são bem vindas.

 

Sobre o autor

Maria Luiza Piccoli

(41) 9683-9504