Abandono cruel

A chegada do fim do ano e do período de férias representa, mais uma vez, a preocupação com o abandono de bichos de estimação, especialmente os cachorros. Em Piraquara, voluntários que atendem animais que são deixados por seus donos já perceberam o aumento da população canina abandonada no município da Região Metropolitana de Curitiba. Além disso, eles alertam que é importante a orientação às famílias para evitar que o problema cresça ainda mais.

Nas ruas do município da Região Metropolitana de Curitiba, cachorros andam em bandos. Problema se agrava no fim do ano. (Fotos: Gerson Klaina)
Nas ruas do município cachorros andam em bandos. Problema se agrava no fim do ano. (Fotos: Gerson Klaina)

Assim como acontece em várias cidades, é comum observar nas ruas de Piraquara cachorros andando sozinhos ou em grupos. O que também se repete é a falta de informações sobre o que fazer quando uma cadela tem vários filhotes. Para muitas famílias, principalmente as de baixa renda, eles representam mais custo e trabalho, o que faz com que eles decidam deixa-los nas ruas.

O problema virou alvo de uma petição online que já recebeu mais de 200 assinaturas. A iniciativa pede que a prefeitura de Piraquara recolha os animais que estão nas ruas. “O número de animais abandonados nas ruas só vem aumentando a cada dia. (…) Abandonar é matar aos poucos. E a imagem desses pequenos seres vivos morrendo nas ruas de sede, fome, frio etc. não pode cair na normalidade ou banalidade”, diz o texto que descreve o movimento.

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Famintos, bichos seguem as pessoas em busca de comida.

De acordo com Maria Carolina Leal de Meirelles, responsável pela organização não-governamental Meu Anjo Focinhos, alguns pontos da cidade são conhecidos como local de abandono. Carros com placas de Curitiba, inclusive, são constantemente flagrados deixando cachorros que acabam até morrendo tempos depois. “É difícil e raramente a situação se resolve. Pra denunciar o abandono temos que ter uma prova documental e também não tem como deixar o cachorro fugir. O boletim de ocorrência não funciona e a Justiça é lenta”, lamenta a voluntária.

“Tem muito abandono e maus tratos. Encontramos casos absurdos de estupros, queimaduras, mutilações e afogamentos. Tudo isso consequência do abandono, que fica ainda pior agora no fim do ano, quando as pessoas querem viajar e não querem nem saber, deixam seus cachorros na rua. Isso se estende até o carnaval”, descreve a voluntária Kátia Barros.

Sem ajuda

“Muitas pessoas não têm dinheiro para castrar os cachorros e não tem na cidade um hospital para levar os animais doentes, então acabam abandonando”, afirma Maria Carolina. Com mais de 200 animais em seu canil, ela prioriza o atendimento aos cães que estão com problemas de saúde ou machucados. “O que também acontece muito é a pessoa se mudar e deixar o cachorro na casa onde morava”, observa.

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Maria Carolina comanda ONG: “Cidade não tem hospital veterinário”.

Depois de tratados, os bichos são encaminhados para adoção, o que também pode ser feito pelos próprios donos que não desejam cuidar dos filhotes. Ela calcula que, quando os cachorros passam por um processo de adestramento realizado na ONG, dificilmente eles darão trabalho – como comer objetos e roer móveis – quando estiverem na casa de seus novos donos e não passarão por um novo abandono.

Todo o trabalho realizado com recursos vindos de doações, bingos e bazares realizados pela entidade. É com esses valores que é realizado o pagamento dos funcionários responsáveis pela limpeza do espaço e atendimento aos animais, a construção da sede da organização, além das outras despesas, que somam em média R$ 10 mil por mês.

“Não recebemos nenhuma ajuda do município”, conta a responsável pela Meu Anjo Focinhos, que atua na área há cinco anos e há dois formalizou as atividades da ONG. “É preciso procurar orientação. O ideal é vacinar e dar o vermífugo antes. Não precisa abandonar, os animais são natureza também e fazendo isso os humanos roubam a vida deles”, reforça.

Sem resposta

A Tribuna entrou em contato com a prefeitura de Piraquara para saber o que o município tem feito a respeito dos cães abandonados, mas não recebeu resposta até o fechamento desta edição.

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