Marizene: não tenho o primeiro grau completo, mas nunca deixei de trabalhar para sustentar a minha família e de estudar. Foto: Jonathan Campos
Marizene: não tenho o primeiro grau completo, mas nunca deixei de trabalhar para sustentar a minha família e de estudar. Foto: Jonathan Campos

“Não tive oportunidade de estudar, mas agora estou buscando meu caminho”, afirma Marizene Barbosa Santos Almeida, 53 anos. Ela foi uma das 85 alunas que participaram e receberam o certificado de conclusão dos cursos gratuitos oferecidos pelo Programa Mulheres Mil em Curitiba. Em 2014, foram ofertados três cursos na Regional da Cidade Industrial de Curitiba (CIC): de massagista, recepcionista de eventos e operadora de computador. A regional foi a primeira a receber o programa, que já foi considerado sucesso. Para este ano, o objetivo é abrir mais vagas e cursos. Segundo o administrador regional da CIC, Everton Vargas Pinto, há 500 mulheres na fila esperando pelos próximos cursos.

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De acordo com a diretora e coordenadora estadual do Pronatec, Célia Regina Alves de Araujo Sandrini, o objetivo do programa é estimular as donas de casa e resgatar a vontade dessas mulheres de voltar a estudar. “Além de melhorar a autoestima, os cursos também as capacitam para o mercado de trabalho e são uma oportunidade a mais para incrementar a renda da família. Todos os relatos que chegam até nós são superpositivos”, explica.

De família bastante humilde, Marizene veio do Sul da Bahia há mais de 30 anos e sempre batalhou para dar uma vida decente para sua família. Começou a vida em Curitiba trabalhando em casa de família e sempre que podia aproveitava o período da noite para estudar. “A vida não foi nada fácil e tudo o que temos foi conquistado com muita garra. Meu marido era metalúrgico e há cinco anos trabalha como caminhoneiro. Não tenho o primeiro grau completo, mas nunca deixei de trabalhar para sustentar a minha família e de estudar”, conta, emocionada.

Casada e com dois filhos de 25 e 28 anos, a mulher batalhadora nunca desistiu. Ela já trabalhou como manicure quando o marido estava desempregado e aproveitou o conhecimento aprendido nos cursos que fazia para complementar a renda da família. “Já vendi flores para vasos, quadros, artesanato e pratos decorados. Faço cursos porque adoro estudar e para ajudar em casa. Hoje eu tenho uma lojinha de roupas e outros produtos”, conta.

Marizene se emociona ao lembrar da história de vida.
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Quando soube dos cursos oferecidos pelo Mulheres Mil, não perdeu tempo. Marizene fez o curso de massagista e relata que apesar de todas as dificuldades pessoais, valeu muito a pena todo o esforço para receber o certificado. “A gente aprende lições para a vida toda. Conhece gente nova, faz muita amizade e aprende um ofício para ajudar em casa e não depender só do marido. Falo para os meus filhos que pobreza não é doença e para tudo se dá um jeito”, diz. Ela pretende juntar dinheiro e comprar uma maca para atender suas clientes em casa. Com a renda, seu sonho é comprar um terreno para o filho que vive de aluguel.

Além de complementar a renda familiar, curso resgata dignidade das mulheres. Foto: Jonathan Campos

Unidas pela força

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“A região da CIC tem um perfil socioeconômico de bastante carência. São muitas áreas de invasão e de famílias que vieram do interior com um perfil machista. O que notamos são muitas mulheres que ficam em casa. Por isso os cursos são uma oportunidade de complementar a renda da família, mas, acima de tudo, dar mais dignidade a essas mulheres, principalmente as mais velhas”, explica o administrador da regional, Everton Vargas Pinto. Segundo ele, as alunas mais novas buscam os cursos com uma visão de futuro. É o caso de Camila Carolina da Silva, 17 anos. Seu sonho é fazer faculdade de arquitetura e pretende usar o curso de massagista para trabalhar e pagar a faculdade. “A gente precisa pensar no futuro”, afirma.

A costureira Creni de Lourdes Valentim Spach, 48, também tem uma história de superação e luta. Casada e mãe de três filhos, de 20, 21 e 29 anos, ela teve câncer de mama e participou do curso mesmo após a terceira cirurgia para a reconstrução da mama. “Eu fiz outra operação no dia 28 de outubro, mas não conseguia ficar parada. Trabalhava de manhã e de tarde ia para o curso. Só não podia fazer a parte prática, mas não deixei de ir nenhum dia. Tudo o que se aprende é gratificante e valioso. Já fui zeladora e hoje trabalho como costureira, mas posso mudar se eu quiser. O curso foi bom principalmente para a minha saúde”, afirma.

Assim como Creni, que cursou apenas até a 4º série e depois precisou largar os estudos para cuidar da família, o curso alimentou a vontade dessas mulheres de voltar a estudar. “Foi a primeira vez que fiz um curso. No dia da formatura eu me sentia uma adolescente e na hora de pegar o diploma eu tremia de tão feliz’, conta a dona de casa Ivonete de Melo, 53. Para ela, é um orgulho ver mulheres lutando e mostrar que a gente tem capacidade de trabalhar, estudar e cuidar da família. ‘É o começo de uma nova vida”, afirma.

Saiba mais

O Programa Mulheres Mil faz parte do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e é desenvolvido em Curitiba pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR) em parceria com a prefeitura de Curitiba, por meio da Secretaria da Mulher, Fundação de Ação Social (FAS) e da administração regional da CIC. Os cursos são oferecidos com base no mapeamento realizado junto com o FAS e a Secretaria da Mulher de acordo com as necessidades e demandas de cada comunidade.

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