A noite da última sexta-feira fez do Santuário Nossa Senhora Perpétuo Socorro o endereço da redenção. Centenas de pessoas entre voluntários, religiosos e moradores de rua participaram da Ceia de Natal para o Povo de Rua, organizado pelo segundo ano consecutivo por meio de uma ação envolvendo o Santuário e a pastoral católica que desenvolve atividades para esse grupo de pessoas.

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Voluntários foram mobilizados pelo Santuário Perpétuo Socorro e Pastoral do Povo de Rua. (Foto: Gerson Klaina)
Voluntários foram mobilizados pelo Santuário Perpétuo Socorro e Pastoral do Povo de Rua. (Foto: Gerson Klaina)

Mais do que saciar a fome, a confraternização acendeu sentimentos de fé, gratidão e de transformação. Morando na rua há 23 anos, Carmem Verônica Gomes Batista, 46 anos, mostrava-se radiante. “Isso (a ceia) é uma coisa maravilhosa, tanto que liguei para a minha mãe hoje e combinamos de que estarei entre eles no Natal”, revelou. Ela reconheceu que o vício em crack a levou para a rua, mas assegura que aos poucos vai conseguir “largar a maldição”. “Minha mãe nunca falhou comigo, nem desistiu de mim. Parei de falar com meu pai, mas ele que pediu para eu passar o Natal com a família. Sei que ele me ama, mas tenho medo de que o coração dele não aguente tanta emoção”. O companheiro de rua de Carmem, Carlos Henrique Martins, 42 anos, diz que nunca teve pai, nem mãe. “Fui abandonado pelas ruas de Curitiba com menos de dois anos de idade e é esse carinho de pai e mãe que me fazem falta. Eu sigo na rua procurando por um pai e uma mãe”, desabafou.

O ex morador de rua e pedreiro Paulo Sérgio Machado Cordeiro, 43 anos, engajado em ações que tratam da habitação explica que é muito difícil se reerguer. “Os maus tratos no abrigos da cidade, que fazem muitos ficarem na rua e se levantar da calçada sem amparo para ser um novo alguém é quase impossível. O melhor abrigo para qualquer pessoas em situação de risco social é a própria casa e a melhor instituição de recuperação é a família”, defendeu.

É alinhada a essa constatação que a Pastoral do Povo de Rua tem como pilares da ação buscar o acesso ao que a legislação garante como: moradia, educação e preservação dos direitos dessas pessoas.

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Fartura de solidariedade

Da parte dos voluntários, a busca por conexão com pessoas de realidade completamente diferente e a oportunidade aproximação para “levar a mensagem” foram as principais motivações. O advogado Paulo Ricardo Berlitz, 49 anos, veio motivado pela esposa, a empresária Mônica Elisa Berlitz, 40 anos. “É o sentimento de fraternidade que motiva tudo e seria bom fazermos mais vezes durante o ano”. Já para a naturoterapeuta Cristina Regina da Silva, 48 anos, e o contador João Teodoro de Souza, 65 anos, a fé no resgate da dignidade humana foi o grande incentivador deles. “Ninguém com fome vai ouvir a mensagem de Deus e se reerguer, comprovei isso hoje ao conversar por mais de uma hora com duas pessoas que vivem na rua”, garantiu Cristina.

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As doações arrecadadas pela secretaria do Santuário em menos de três semanas de campanha garantiram a distribuição das refeições à base de carne, farofa, risoto, macarrão e salada, que serviram 350 pessoas entre quem foi à Ceia e os que receberam depois, pelos voluntários que levaram de carro os kits que sobraram para distribuir em pontos estratégicos da capital. Segundo a assessoria de imprensa do Santuário, a comunidade da Perpétuo Socorro é muito engajada, tanto que com exceção do risoto, os demais itens da refeição vieram prontos e preparados por diversos voluntários. Mesmo sem ter sido pedido durante as missas e novenas, cerca de 200 panetones e 100 caixas de bombons foram trazidas, além de gelatinas e sobremesas, permitindo que cada beneficiado desfrutasse de uma refeição natalina completa, abençoada pelo Padre Primo Aparecido Hipólito, reitor do Santuário e missionário redentorista.

6 toneladas por mês

Além da Ceia, o Santuário Perpétuo Socorro distribui por mês uma média de seis toneladas de alimentos não perecíveis, que são provenientes das doações recebidas da comunidade que frequenta as missas e novenas. Segundo a assessoria de imprensa, parte das cestas básicas vão para instituições filantrópicas e outra parte é destinada a famílias cadastradas no santuário e que por um determinado período são assistidas para conseguirem sair da situação de miséria. Para fazer doações basta procurar a secretaria do Santuário, em horário comercial.