“A maternidade muda a vida das mulheres” é um clichê que todo mundo já conhece. Mas não são todas que têm a coragem de largam o mundo corporativo para empreender, só para estar mais perto dos filhos. A Tribuna do Paraná encontrou três destas histórias inspiradoras.
A administradora Luciana Isolani, 35 anos, gerenciava uma empresa de foto e vídeo de formaturas. Saía de casa às 7h e voltava depois das 22h. Quando sua primeira filha – Daniela, hoje com 11 anos – nasceu, a criança acompanhou o ritmo da mãe. Quando não passava a manhã com a mãe no trabalho, estava com uma babá. Almoçavam o que desse (marmita, muitas vezes), Luciana deixava Daniela na escola, buscava às 17h30 e levava a criança de volta para a empresa. Daniela comia um lanche e dormia num colchão de ar na sala da mãe, até as 22h. A menina teve problemas de saúde, por conta da má alimentação e, mais tarde, problemas de rendimento na escola. Reprovou um ano, porque a mãe sequer tinha tempo para levá-la a um reforço escolar ou ajudar nas tarefas da escola.
Basta!
Quando engravidou da segunda filha – Alice, hoje com seis anos – Luciana pediu demissão. “Eu decidi que não queria mais aquilo pra minha vida. Fiquei em casa até Alice nascer. Mas acostumada àquele ritmo, surtei de ficar só em casa limpando e cozinhando”, disse a administradora, que comprou de uma amiga uma loja virtual de slings (carregadores de bebês feitos de pano). Luciana cuidava das filhas durante o dia e trabalhava de madrugada, respondendo as demandas do site, empacotando encomendas, revendo planilhas, entre outras atividades.
Atualmente ela consegue trabalhar durante o dia em casa e dar atenção às três filhas – a mais nova, Catarina, está com 4 anos. “Hoje eu acompanho a alimentação delas, posso flexibilizar meu horário para levar a um médico, ajudar na lição, estar nas apresentações e reuniões da escola, ter pique de passear e levar em festinhas nos fins de semana. Antes, vinha o bilhetinho na agenda: ‘não compareceu à reunião de novo mamãe?’. Se alguma das meninas se machucava e a escola me ligava, o máximo que eu podia fazer era saber se foi grave e se ela estava bem, pra só conseguir levar a um hospital depois do trabalho”, lamenta.
O rendimento financeiro da família caiu bastante. Nem sempre Luciana consegue terminar o mês com a conta no azul, já que tinha um ótimo salário como gerente. Mas pelas filhas, ela não se arrepende da escolha.
“Desterceirizando” a educação
A nutricionista Lizandra Stelle de Oliveira, 35 anos, já chefiou a cozinha industrial de um dos maiores hospitais de Curitiba, coordenou uma equipe de 50 pessoas e atendia telefonemas corporativos até de madrugada. O estresse era altíssimo e ela não podia errar na dieta especial dos pacientes.
Mas até engravidar de Beatriz (hoje com 9 anos), ela estava satisfeita. Depois, começaram as dúvidas e questionamentos sobre a maternidade. Depois veio Bernardo, que está com 5 anos. Precisava muito planejamento e adiantamento de atividades pra conseguir sair do trabalho no meio da tarde atender os filhos. Férias era outro desespero, de Lizandra tentando encontrar quem ficasse com as crianças. No inverno, era um suplício tirar as crianças da cama às 6h. “Nunca era o pai ou a mãe que acompanhava nossos filhos. Eram sempre as avós, outras pessoas”, diz Lizandra, que decidiu que não queria mais “terceirizar” a educação dos filhos.
Virou autônoma e abriu um restaurante. Mas viu que, mesmo assim, continuava trabalhando muito e sem tempo para os filhos. Foi quando lhe ofereceram a oportunidade de trabalhar com cosméticos. A nutricionista virou consultora de beleza e maquiadora profissional. Assim que a renda ficou compatível com o lucro do restaurante, vendeu a empresa para atuar apenas como consultora. Cresceu na carreira, virou diretora de vendas e tem uma renda superior a qualquer salário que ganhou.
Hoje, ela consegue facilmente organizar a agenda para passar as manhãs e as noites com as crianças em casa. Brinca, ajuda nas lições da escola, faz o almoço, dá banho, os leva e busca na escola, os vê dormir. À tarde, se dedica ao trabalho. A qualidade de tempo ao lado dos filhos melhorou muito. “Hoje, eu e meu marido ‘dominamos’ totalmente nossos filhos. Sei o que comem, o que estão estudando, o que gostam de brincar”, orgulha-se. (GU)
“Eu não queria aquilo pra mim”
Danielle Flores Santana, 36 anos, é formada em administração e seus últimos empregos no mundo corporativo foram gerenciando equipes. O último foi no setor de marketing do maior grupo de comunicação do Paraná. Ela ainda não era mãe, mas via as dificuldades das colegas mães.
Faltavam o trabalho porque precisavam levar filhos ao médico, porque não tinha quem ficasse com as crianças doentes, porque tinha reunião ou apresentação da escola. Mas ao mesmo tempo que Danielle precisava ser compreensiva e ajudava de todas as formas possíveis, também não podia comprometer o trabalho.
“Eu via a angústia no olhar destas mães, que queriam cuidar do trabalho e dos filhos. Isso me fez acender o sinal de alerta. Eu já pensava numa gravidez e decidi que não queria isso pra mim”, disse Danielle, que pediu demissão assim que acabou a licença maternidade. Seu filho Filipe tem 2 anos.
Durante a licença, Danielle conheceu uma fisioterapeuta, professora de pilates, que recém tinha saído do emprego também. As duas tinham objetivos parecidos e abriram um espaço de bem-estar para gestantes.
“Hoje eu administro meu próprio tempo. Não digo que trabalho menos. Mas tenho a flexibilidade de atendê-lo, consigo trazer ele para o trabalho durante os feriados e férias, dou atenção. A qualidade do meu tempo melhorou muito com ele. Sem contar que hoje eu trabalho com algo que gosto. Estou construindo algo que idealizei e isso me traz satisfação profissional. Me faz ter mais ânimo, mais gás, mais disposição para estar com meu filho. (GU)