Cerco ao viaduto

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Após a transferência de cerca de 30 famílias indígenas que estavam abrigadas sob o Viaduto do Capanema, no Cristo Rei, a prefeitura de Curitiba deu início às obras para evitar a reocupação do espaço. O objetivo é evitar que o local seja novamente tomado por moradores de rua ou usuários de drogas. Desde a semana passada estão sendo instaladas manilhas e floreiras por toda área e um módulo móvel da Guarda Municipal permanece ali.
Mesmo elogiada por moradores e comerciantes da região, a medida ainda causa receio sobre sua real efetividade em evitar assaltos contra quem passa por ali. Além disso, eles pedem que o espaço ofereça atividades que contribuam com o município, pois acreditam que somente com o uso da área em prol da comunidade será possível combater a criminalidade e o vandalismo.

Fala_povo“Já melhorou, mas não sei o que vão fazer colocando floreiras. O bom é reativar a área, que está fechada há mais de dez anos. Aqui é um ponto de roubo, ninguém pode esperar o ônibus nem passar por aqui”, reclama o engenheiro Jurandir Teixeira do Amaral, que mora na região há 20 anos e já ouviu relatos de sua esposa e filha que foram assaltadas no local.
Para a empresária Edna Regina, dona de uma loja de artigos domésticos localizada próximo ao viaduto, se o policiamento no local não for mantido a situação pode continuar, já que os usuários de droga e assaltantes não se incomodariam em ficar escondidos entre as manilhas. “Por enquanto sentimos bastante diferença com o policiamento, mas já percebemos que os usuários que ficavam ali passam de vez em quando, como se estivessem esperando parar o movimento para voltar”, observa.

Edna conta que está no local há três meses e se assustou com a movimentação, que espantou os clientes. “Alguns tinham medo dos usuários de drogas, por causa dos assaltos, e outros se sentiam incomodados com a presença dos índios, mas eles não faziam nada, só pediam. Por isso meus clientes tinham que dar a volta ou nem vinham na loja”, afirma.
Outra moradora, que preferiu não se identificar, se diz “apavorada” com a medida, pois, para ela, isso não irá impedir que os assaltantes continuem se escondendo sob o viaduto. “Não aguento mais. Eles se escondem e até pulam dos pilares pra nos assaltar. Já fui assaltada várias vezes, até pularam em cima de mim”, conta ela, que mora próximo ao viaduto há mais de 30 anos e não se conforma com a situação da área. “Aqui é o coração da cidade”.

Um dos coordenadores do trabalho no viaduto reforçou aos Caçadores de Notícias que o objetivo da instalação das floreiras e manilhas no local é impedir que o espaço volte a ser ocupado. Além disso, está em estudo a instalação de grades no entorno, para evitar o acesso. A reportagem entrou em contato com a prefeitura de Curitiba, para solicitar mais informações sobre o que será realizado na área, mas não recebeu retorno até o fechamento desta edição.

Comunidade quer ser parceira

Ao observarem as proporções a que chegou a situação no Viaduto do Capanema, moradores e comerciantes da região se reuniram para buscar alternativas para o local. Depois de discutirem diversas possibilidades, eles criaram um pré-projeto com sugestões que serão entregues para a prefeitura na próxima semana.

Além do medo da violência, o que motivou a mobilização foram as condições precárias em que os índios viviam, sem condições de higiene e segurança, especialmente para as crianças que brincavam entre os carros e pediam dinheiro.

viaduto_03“Esta é apenas a fase dois”, afirma o representante dos moradores, Luiz Gonzaga Bettega Sperandio, referindo-se à colocação das manilhas e floreiras no local. “A fase um foi a retirada das pessoas daqui, mas não para por aí”, diz. Além da instalação de cercas entre as manilhas “o mais rápido possível”, a comunidade propõe a realização de uma parceria público-privada, para a conservação do espaço.

Os moradores e comerciantes também pedem a ocupação do viaduto com a possibilidade de instalar no local uma feira de artesanato, uma rua da cidadania ou um liceu de ofício. “Outra possibilidade é fazer um recuo para mais um ponto de embarque e desembarque da Linha Turismo, já que não tem parada no Mercado Municipal, com toda a estrutura para o turista. Nossa responsabilidade seria de manter a limpeza e a conservação”, sugere.
“Ficamos de certa forma aliviados, foi um grande passo, mas só vamos resolver o problema humanizando o espaço, fazendo com que o local tenha vida”, defende o empresário Vinicius Sampaio, que também participou das reuniões e está confiante nos resultados.

Casa de passagem

As famílias indígenas que ocupavam o Viaduto do Capanema foram encaminhadas para a Casa de Passagem do Indígena Artesão, no Jardim Botânico, preparada em caráter emergencial para recebê-las. Outro imóvel está sendo procurado para servir de abrigo permanente.

O município ficou responsável por fornecer o espaço, enquanto o governo do Estado cedeu os equipamentos e a Fundação Nacional do Índio (Funai) está coordenando e supervisionando o atendimento no local.

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