Andar, sair para comprar pão ou passear com o cachorro pela aparentemente pacata Rua Atílio Bório, no Cristo Rei, principalmente no trecho próximo à Avenida Presidente Affonso Camargo e ao Viaduto do Capanema, exige atenção redobrada, coragem e até um pouco de sorte. Tudo isso para evitar ser alvo dos bandidos que agem no bairro cometendo furtos, roubos e ataques ao comércio, além do tráfico e consumo de drogas. Um problema antigo, mostrado pela Tribuna em 2012, e que continua trazendo medo aos moradores e comerciantes da região.
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Vítima de dois roubos e de uma tentativa de invasão que terminou com vandalismo a seu mercado, em situações recentes que aconteceram em um período de apenas duas semanas, o empresário Marco Aurélio Kuligoski, 34 anos, é um dos que pedem mais segurança para a rua.
“Foram dois assaltos, um seguido do outro. Em um deles, indivíduos armados renderam meus funcionários e levaram dinheiro do caixa e mercadorias. Em outro, o pessoal da segurança chegou antes e, nisso, o suspeito jogou pedras no mercado, quebrando uns vidros. E nem mesmo a presença da polícia inibe os bandidos, eles esperam a viatura ir embora para agir”, conta.
Segundo o empresário, não é possível contabilizar todos os prejuízos, pois além do que é roubado e dos valores investidos com a contratação de segurança privada, ainda há as vendas que deixam de ser feitas pelos clientes, que por medo, deixam de frequentar o local.
“Aumentou muito a criminalidade. Já morei ali anos atrás, mas há seis meses, quando assumi o mercado, percebi que piorou bastante, que está muito mais inseguro. Para mudar esta situação é preciso socializar esta área, em uma ação conjunta da polícia, as autoridades e a empresa responsável pelas linhas dos trens, já que elas são a principal rota de fuga dos marginais”, aponta Marco.
Além dele, outros comerciantes também reclamam da ação dos criminosos, o que faz com que parte deles opte por trabalhar de portas fechadas. Outra queixa comum da população é a presença de muitos moradores de rua na região do Viaduto do Capanema e do Mercado Municipal. Pessoas que, segundo eles, também cometem crimes no bairro.
Incômodo diário
Morador da Rua Atílio Bório há nove anos, o corretor de imóveis J*, 74, conta que o bairro é agradável, mas que os constantes crimes entristecem e amedrontam quem vive na região. Ele teme que a revitalização do Restaurante Popular do Capanema, situado sob o Viaduto do Capanema e que está com as obras avançadas, agrave o problema.
“O bairro é muito bom, mas nós temos o viaduto e estamos perto da Rodoferroviária, dois locais críticos. E com a reinauguração do restaurante popular, as coisas podem piorar, acho que vai ter até mais mendigos por aqui. A sensação é de total insegurança”, opina.
Funcionária de um dos comércios da rua, M*, de 38, que não quis ser identificada, também afirma que é difícil conviver com os assaltos e com a presença de pedintes nos estabelecimentos. “Aqui só vai melhorar se colocarem mais polícia na rua. É difícil, quando não são os roubos são estas pessoas. Eles ficam na porta, abordam os clientes e estão sempre pedindo alguma coisa”, diz.
A violência afeta pessoas de todas as classes sociais. Para o catador de recicláveis F*, 41, que costuma trabalhar nesta região, para evitar complicações o melhor mesmo é ficar atento e evitar o viaduto e seu entorno, especialmente depois que escurece. “À noite aqui é complicado, eu mesmo só ando ‘pela luz’. Esses mendigos que dormem embaixo do viaduto não fazem nada, mas têm os bandidos e os viciados que sempre estão por aqui. O crack é o maior vilão”, explica.
Pelos trilhos
Depois que os crimes são cometidos, de acordo com os moradores e comerciantes, a rota de fuga mais utilizada pelos bandidos é o matagal da Rua Zeila Moura dos Santos e um acesso feito por eles aos trilhos da linha férrea. Sobre a utilização do espaço onde ficam os trilhos dos trens, a concessionária de logística Rumo – que administra as linhas férreas – esclarece que os fatos citados na reportagem são questões de segurança pública, não havendo qualquer relação com sua operação ou responsabilidade. A empresa lembra que seus vigilantes fazem rondas frequentes ao longo da ferrovia, mas que eles não têm poder de polícia.
Policiamento preventivo
Em nota, a Polícia Militar afirma que, por meio do 20º Batalhão da PM, responsável pela região citada, tem feito um trabalho diuturno de policiamento preventivo e ostensivo nesta área. “Tanto a radiopatrulha da unidade quanto as Ronda Tático Motorizada (ROTAMs) desempenham atividades na área para evitar o crime e prender suspeitos. Além disso, está em andamento a Operação Sinergia, que também atua neste bairro, que tem como objetivo inibir o cometimento de crimes na capital”.
A PM explica que a população pode contribuir com a polícia, repassando informações no momento do crime, para que uma equipe vá até o local, e, posteriormente, com imagens coletadas, características, placas de veículos ou qualquer outro indício que identifique suspeitos. “Após fatos ocorridos, a responsável pela investigação das situações é a Polícia Civil. A PM continua à disposição por meio do telefone 190”.