Fé pra recomeçar

Mulher com filhos menores perde tudo em incendio na casa aonde morava. Foto: Átila Alberti

Depois de um longo dia de trabalho, no sábado da semana passada (20), a diarista Marilda Abrantes, 42 anos, perdeu o chão ­ e quase todo o resto ­ quando voltou para casa, no bairro Ana Terra, em Colombo, à noite. Aliás, não tinha mais casa: tudo foi destruído em um incêndio. Ainda assim, ela encontrou motivos para sentir alívio: “Graças a Deus, que salvou meus filhos, em primeiro lugar, porque o resto é o de menos”. Fabricio, de cinco anos, e Rafaela, 14, estavam na residência quando as chamas tomaram conta.

Móveis, roupas, eletrodomésticos e até mesmo uma quantia em dinheiro que Marilda estava economizando foram totalmente destruídos pelas chamas que, de acordo com ela, começaram quando o filho usou um isqueiro para pôr fogo num papel. A filha que cuidava do menino tinha saído para comprar pão e, quando voltou, pegou o papel e colocou em cima da geladeira enquanto pegava água para apagar. “Quando ela virou as costas, já estava no sofá. Tinha uma tomada meio solta ali perto, e acho que deu um curto-circuito”, comenta Marilda. “Eu saí de manhã, minha casa estava de um jeito. Quando voltei, não tinha mais nada. Foi como um filme de terror”, relata.

O incêndio ainda teve uma vítima fatal: a cachorrinha da família morreu por inalar fumaça. “Ela era pequenininha. O pai das crianças achou na rua. Ela não tinha olhinhos e era um amor, vinha pulando brincar com a gente”, lembra Marilda.

Móveis, roupas, eletrodomésticos e até mesmo uma quantia em dinheiro que Marilda estava economizando foram totalmente destruídos pelas chamas. Foto: Átila Alberti
Móveis, roupas, eletrodomésticos e até mesmo uma quantia em dinheiro que Marilda estava economizando foram totalmente destruídos pelas chamas. Foto: Átila Alberti

Além da adolescente e do menino que estavam na residência, a diarista tem outros três filhos: Marcela, de 12, que estava ajudando a mulher no trabalho, no bairro Campo Comprido, em Curitiba; Angélica, 18, que já é casada; e David, 8, que mora com o pai. Marilda disse que há muito tempo trabalha fora para sustentar os filhos: faz limpeza, carpe quintal e vende roupas usadas. “Até dezembro pretendo comprar um terreno para mim e diminuir meu serviço, para que eu possa ter mais tempo para cuidar dos meus filhos”, revela.

A família morava na casa, de aluguel, desde abril. Marilda conta que, dias antes de se mudar para lá, a irmã, que tinha leucemia, faleceu. Ela tinha passado um tempo com a irmã no hospital, o que fez com que deixasse de trabalhar alguns dias e acumulasse dívidas. “Emprestei dinheiro para pagar água e aluguel, acabou que virou uma bola de neve”, lamenta. Em meio a tantas contas para pagar, viu R$ 1.500 perdidos após o fogo. Mas não desanima: “Quem tem fé, Deus salva. Queimou tudo, mas não não queimou meu celular que tem o chip com os contatos que eu precisava, das minhas patroas”.

Ajuda

Policiais do 22º Batalhão da Polícia Militar se solidarizaram com a situação da família de Marilda e se uniram para levantar doações. Na noite de quinta-feira (26), a diarista e os filhos receberam uma grande quantidade de alimentos. “Nunca tinha visto tanta comida na minha vida”, comentou, animada. Na sexta-feira (26) ela receberia alguns móveis. Quem quiser ajudar de alguma forma, pode entrar em contato com Marilda pelo telefone (41) 9599-7258.

Outro lado do prejuízo

Foto: Átila Alberti
Marilda tinha casa como fonte de renda.

Os proprietários da casa em que Marilda morava também sofreram com o incêndio ­ tanto prejuízos materiais quanto de saúde. Na tentativa de evitar que o fogo se alastrasse para as residências vizinhas, o marido da dona da casa, Marilda Lourenço Barbosa, acabou ferido em um portão e precisou ser hospitalizado. O filho dela também foi ao pronto-socorro por inalar fumaça ao tentar apagar as chamas antes da chegada do Corpo de Bombeiros.

A proprietária da casa lamenta que a renda da família está prejudicada após a perda da residência, que tinha aproximadamente 10 anos. “Meu marido é autônomo e me deu as três casas de presente para que eu tivesse uma renda. Agora não tenho de onde tirar dinheiro para poder erguer outra. Mas não vou processar ela, porque sei que ela não tem como pagar”, diz.

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