Entrar na oficina do ferreiro Reinaldo Mauricio Lima, 49 anos, é como voltar no tempo, direto para a era medieval. Por todos os lados estão canhões, escudos, espadas, garruchas e machados. Os instrumentos de guerra que tomam conta do espaço contrastam com a personalidade de Reinaldo, que demonstra serenidade e tranquilidade. Mas é sim um guerreiro, que soube tornar um momento complicado da vida em uma transformação positiva.

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Em 2011, Reinaldo teve que trocar a estabilidade do emprego fixo em uma metalúrgica para fazer os serviços na oficina, que fica no terreno da própria casa, no Jardim Cezar Augusto, em Colombo. A esposa dele sofreu um acidente vascular cerebral e estava com problemas nos rins. Então, ele precisava dedicar boa parte do tempo cuidando dela. “Eu não poderia ficar faltando na empresa, então foi uma maneira de eu cuidar da minha esposa e ter minha renda aqui”, conta.

O começo não foi nem um pouco fácil. “Passei três meses ou mais para arrumar serviço. Comecei fazendo pequenos consertos e meus primeiros clientes foram meus parentes, para poder me dar uma força”, diz. A esposa dele, mesmo adoecida, também o encorajou, mas um mês depois que a oficina estava aberta, ela morreu. Mesmo sofrendo com a perda, Reinaldo teve que ser forte, porque tinha duas filhas, que hoje estão com 22 e 19 anos, para cuidar e sustentar. “Desde quando aconteceu a doença dela tive que ser o pilar, por causa das duas meninas, que estavam ‘desorientadinhas’”, afirma.

Hobby

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Ter o “escritório” em casa permitiu que o ferreiro dedicasse mais o tempo a uma paixão: fabricar instrumentos medievais. O interesse, segundo ele, veio de filmes, como “Conan, o Bárbaro”. “Gosto muito de filmes de viking, que tinham espada, e fui observando os tipos de armas que eram usadas. Depois disso, veio a curiosidade de saber como funcionava, e eu buscava livros para saber mais”, explicou.

Mas, o conhecimento veio mesmo com a prática e com a troca de experiências com os colegas de trabalho. “Na metalúrgica, cada um tinha um hobby no final de semana. Assim, a gente ia trocando ideia, explorando o que o outro sabia”, disse.

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Além desses instrumentos de guerra, o ferreiro não economiza na criatividade e produz outros objetos. O primeiro que ele fez, por exemplo, é um aviãozinho que funciona como um cata-vento. Um pescador com o corpo no formato de parafuso e uma bicicleta decorativa com uma grande roda traseira também fazem parte das artes que enfeitam a casa de Reinaldo.

O ferreiro já perdeu a conta de quantas espadas e machados fez. Canhões não foram tantos. “Por ser uma obra que tem um material caro, porque as rodas de carroça são escassas, uma coisa meio rara hoje em dia”, conta. Segundo ele, o tempo de fabricação de um canhão chega a uma semana.

Reinaldo nunca divulgou o trabalho que faz. “Só quem conhece são meus amigos. No Facebook, quem é meu amigo vê as fotos que eu publico”, afirma. Mesmo assim, já tem alguns conhecidos que fazem encomendas com frequência.

Embora os instrumentos remetam à violência, Reinaldo garante que a admiração dele não vem dessa característica. “Eu tenho uma paixão pela arte, por moldar um aço, pelo trabalho de ferreiro mesmo. Não vejo a lâmina como uma ferramenta para matar”, destaca.

Serviço

Ferreiro Lima

Rua José Brito, 340 – Jardim Cezar Augusto – Colombo
Telefones: (41) 3605-3383/ 9895-0063

Veja na galeria de fotos o trabalho do ferreiro.