O imigrante Jameus Derisme, de 41 anos, trabalhava há dois em uma empresa de construção civil. O emprego lhe rendia um salário suficiente para arcar com as despesas básicas e para ajudar sua família de oito irmãos em Gonaïves, no Haiti. No fim do ano passado, ele foi demitido e sua sorte mudou completamente. No dia 26 de janeiro, sacou parte de sua rescisão para pagar o aluguel e, logo após sair do banco, foi assaltado por dois homens armados. Foram roubados o dinheiro e uma pasta com seus principais documentos, incluindo um protocolo da Polícia Federal (PF) para renovar sua permanência no Brasil.
Para piorar a situação, junto com o cartão do banco que os ladrões levaram, estava a senha da conta. Antes que Jameus conseguisse bloquear o acesso, todo o valor do seu acerto foi retirado. De uma hora para outra, o haitiano se viu sem um tostão e impossibilitado de arranjar emprego, devido à falta do passaporte e da carteira de trabalho. No dia seguinte ao roubo, registrou boletim de ocorrência (BO) e iniciou um périplo em busca de uma solução: foi à PF, ao Ministério do Trabalho, ao Sistema Nacional de Emprego (SINE). Em todos os locais, ouviu a mesma resposta: sem passaporte, não seria possível fazer a segunda via da carteira de trabalho nem requerer o seguro desemprego.
Jameus recorreu à Pastoral do Migrante Regional Sul, um espaço de acolhida a estrangeiros da Igreja Católica, para conseguir um novo passaporte. Porém, além de moroso e burocrático, o procedimento é caro. Ele teve de pedir dinheiro emprestado para pagar os R$ 537 da segunda via do documento, além de R$ 65 para traduzir o BO para o francês. O haitiano conseguiu entregar toda a papelada e voltou à Pastoral três meses depois, quando descobriu que, por algum engano, nada havia sido enviado ainda para seu país de origem. Na última semana, Jameus conseguiu resolver o imbróglio, mas serão mais três ou quatro meses até que o novo passaporte chegue.
Passando necessidade
“No dia 9 de fevereiro, duas semanas depois do assalto, meu pai ligou e avisou que um dos meus irmãos tinha morrido. Eu não pude ajudar em nada minha família, porque os ladrões limparam minha conta”, lembra. Devido às dificuldades na comunicação e ao preconceito contra imigrantes, Jameus não consegue sequer bicos. Desde o início do ano sem trabalhar, ele teve de interromper o envio de dinheiro aos parentes e tem passado por dificuldades. A solidariedade de pessoas próximas é o que tem mantido sua subsistência.
No primeiro mês, uma igreja do bairro pagou o aluguel do seu quartinho de fundos na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), mas depois não pôde mais contribuir. O dono de um sacolão perto de sua casa doa legumes e verduras de vez em quando. As agentes de saúde Erli Lopes Martins e Maria Aparecida Ferreira, da Unidade Básica de Saúde Barigui, onde Jameus é atendido, tentam como podem oferecer algum suporte. “Na semana passada fomos buscar cobertores na FAS (Fundação de Ação Social), porque descobrimos que ele só tinha um. Até para comer está faltando. Se alguém pelo menos oferecesse um emprego temporário enquanto o passaporte não fica pronto…”, diz Erli.
Maria Aparecida, conhecia como Lia, conta que a situação tem afetado a saúde de Jameus. “Ele está deprimido, debilitado. Foi em tudo quanto é lugar tentar resolver, e jogaram ele de um lado para o outro, feito um saco de pancadas. Ele foi até destratado. Não podem tratar uma pessoa mal por ela ser negra, pobre e estrangeira”, protesta.
Qualificação
Há três anos em Curitiba, Jameus não só trabalhou continuamente, mas também procurou se aprimorar, realizando um curso de pedreiro azulejista. O certificado da formação também foi perdido, pois estava na pasta roubada em janeiro. “Eu só quero meu passaporte pra poder trabalhar, só isso que eu quero”, desabafa. “Caso alguém tenha notícia dos documentos dele, porque às vezes os ladrões largam por aí, por favor, avise pra gente”, pede Erli.
Você pode ajudar!
Como está sem recursos para pagar aluguel e despesas básicas, qualquer oferta é bem-vinda, principalmente de alimentos, agasalhos e trabalho temporário. Quem quiser contribuir pode entrar em contato com as agentes de saúde ou com o próprio Jameus:
Erli Lopes Martins – (41) 9514-9047
Maria Aparecida Ferreira (Lia) – (41) 9181-4221
Jameus Derisme – (41) 9573-7556
Solange – (41) 9936-4930