Garagem da arte

“Pra mim não existe lixo. Tudo que uma pessoa joga fora pode voltar pra ela em forma de arte. Até o lixo orgânico eu uso no meu jardim”. A frase de Armando Marques Gouveia, 38, conhecido no meio artístico como Marques, define sua produção. Pelas mãos dele, objetos que são descartados – e que para muitas pessoas não têm mais nenhuma utilidade – se transformam em obras de arte.

No trabalho de Marques nada é rejeitado. Qualquer peça, composta por diversos materiais com diferentes formatos, tamanhos e texturas, é fundamental para a criação de objetos decorativos ou funcionais. É desta forma que surgem esculturas, quadros, abajures e até móveis, como mesas e o Roboteca, um robô destinado às crianças que terá em sua estrutura estantes para livros. A proposta é incentivar a leitura e a sustentabilidade entre os pequenos.

A produção acontece nas horas vagas do artista, que tem como principal fonte de renda o trabalho com reformas. O processo de criação acontece na casa da família, na Vila Atenas II, na CIC, e é o próprio Marques quem realiza todas as etapas, inclusive pintura e instalações elétricas.

A maior inspiração vem do rock and roll, mas também é bastante comum peças que representam situações cotidianas, como a influência das tecnologias em nossas vidas. Para ele, este é um meio de passar uma mensagem às pessoas. “Trabalho com lazer, diversão, mas também a conscientização de que é importante tirar o lixo do meio ambiente”, comenta.

Dom e necessidade

 

Foto: Felipe Rosa.
Marques: “Trabalho com lazer, diversão, mas também a conscientização de que é importante tirar o lixo do meio ambiente”. Foto: Felipe Rosa.

Marques conta que há pouco mais de dez anos percebeu que sua produção é arte, mas o trabalho com a recuperação de materiais acontece desde seus 12 anos de idade. “Não tínhamos condição de comprar brinquedos, então eu fazia. Minha mãe trabalhava na casa de uma família que tinha a cultura de, a cada novo brinquedo que eles ganhavam, tinham que jogar fora os velhos e quebrados. Então chegavam bonecos sem pernas, carrinhos sem roda e pra poder brincar eu tinha que arrumar, dava um jeito, fui reformando, aprendendo”, lembra.

Além da necessidade, o que contribui bastante para o resultado final é a sensibilidade de Marques. “Onde tem um parafuso eu não vejo um parafuso, vejo um pezinho, uma cabeça. Uma haste de óculos não é só isso, é o guidão de uma moto. As pessoas falam que eu tenho um dom, mas todo mundo tem um dom”.

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Sobre o autor

Carolina Gabardo Belo

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