Esgoto na janela

Escrito por Samuel Bittencourt

Após a desapropriação parcial de residências na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), próximo do abandonado Rio Barigui, moradores que ainda vivem ao lado do esgoto aberto correm risco. A valeta que fica entre a Rua Professor Algacyr Munnhoz Maeder e a Rua João Gabers, além de atrair pragas como ratos e baratas, oferece perigo à população.

A realidade de quem vive próximo ao Rio Barigui não é novidade: o cenário traz a mistura de montes de lixo com o cheiro forte e centenas de barracões levantados ao improviso. Uma situação comum em toda grande cidade. Quando um órgão responsável percebe algum risco na ocupação providências são tomadas. Em função disso, em meados de 2012, os moradores da Rua João Gabers tiveram seus terrenos, localizados na CIC, desapropriados e foram relocados para outra região no mesmo bairro.

Porém, isso apenas ocorreu com alguns dos moradores da área residencial ao lado da valeta. Para os moradores da Rua Professor Algacyr Munnhoz Maeder, que fica de trás do brejo que se formou ao lado do Rio Barigui, a desapropriação não ocorreu. “Na época disseram que seria muito complicado fazer a desapropriação da parte comercial deste trecho. Mas na mesma época a prefeitura prometeu que iria solicitar a instalação de uma rede de esgoto”, lembra a moradora Laide da Silva Souza.

Ao longo dos últimos dois anos, os moradores que permaneceram na região estão realizando obras necessárias para manter as casas de pé e evitar que o terreno seja comprometido pela infiltração após as chuvas. “Acredito que eu já tenha gastado mais de R$ 6 mil em obras. Antes a água alagava até dentro da casa e deixava tudo fedendo. Sem contar que ainda corria o risco de perder toda a casa”, diz dona Laide.

Para concluir a reforma, a moradora recorreu a empréstimos, mas acredita que ainda poderá gastar mais. “Acabamos de construir um muro com muitos ralos para proteger a casa da água. Isso diminui bastante o risco do terreno sofrer uma infiltração, mas ainda assim quando faz sol o cheiro fica insuportável”, conta. Há mais de 20 anos na vivendo na mesma casa e com os problemas acumulados, a moradora confessa que já perdeu as esperanças. “Criei meu filho aqui e gosto dessa casa, mas às vezes dá vontade de pegar as coisas e procurar outro lugar”, lamenta.

Cada vez mais perigoso

De acordo com população da região, a rua que teve as residências desapropriadas esta cada vez mais perigosa. “Nesse final de semana mesmo mataram um rapaz na ponte, que é um atalho para quem vai a pé da Munhoz Maeder para a João Gabers. Antes, quando havia algumas casas ali, era mais seguro”, conta Laide. Segundo a moradora, após a desocupação das casas a rua virou mais um ponto de tráfico. “Quando havia moradores ali eles cuidavam. Agora, que um lado da rua tá virado num mato, toda hora tem gente se drogando. Acho que se tivéssemos mais parquinhos e menos lugares abandonados ocorreriam menos mortes na região”, diz.

Solução distante

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente informou que, apesar de existirem estudos para implantação de áreas com equipamentos de lazer, não existe nenhuma previsão para implantação. Segundo os moradores, o problema chega à terceira gestão da prefeitura sem qualquer previsão para solução. Enquanto isso, os moradores das ruas Professor Algacyr Munnhoz Maeder e os que ainda vivem na João Gabers permanecerão com a vista e o cheiro da valeta em que se transformou um dos afluentes do Rio Barigui.

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Samuel Bittencourt

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