Abram a creche!

Precisando trabalhar para complementar a renda da família, a auxiliar de cozinha Sheila Santana, 30 anos, não pode nem mesmo procurar um emprego porque não tem com quem deixar seu filho, o pequeno João, 2. Onde moram, na Vila Verde, na Cidade Industrial de Curitiba, há um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) novinho, quase pronto para receber as crianças, mas que, no entanto, segue fechado. A obra da creche, que deveria ter ficado pronta no início de junho de 2016, ainda não foi entregue para a população.

Enquanto a creche não abre as portas, Sheila precisa cuidar do filho João e não consegue buscar emprego. Foto: Felipe Rosa
Enquanto a creche não abre as portas, Sheila precisa cuidar do filho João e não consegue buscar emprego. Foto: Felipe Rosa
Previsão inicial era entregar a obra em 2015. Foto: Felipe Rosa
Previsão inicial era entregar a obra em 2015. Foto: Felipe Rosa

“Na verdade, a primeira placa mostrava que o CMEI Vila Verde seria inaugurado em 2015. Depois ela foi trocada por essa, com o término para 2016. Mas até hoje está tudo fechado e só tem uma creche aqui na vila, que está superlotada. E a fila de espera é muito grande. Esse CMEI faz muita falta, eu preciso trabalhar e meu filho socializar com outras crianças. Dizem que está tudo pronto lá dentro, os móveis encomendados, mas até agora nada, estamos há muito tempo esperando uma resposta da prefeitura”, diz Sheila.

Complicou!

Ana Paula organizou abaixo-assinado cobrando a abertura do CMEI Vila Verde. Foto: Felipe Rosa
Ana Paula organizou abaixo-assinado cobrando a abertura do CMEI Vila Verde. Foto: Felipe Rosa

Outra mãe, a vendedora Ana Paula de Lima, 24, conta que não encontrar uma vaga para sua filha no bairro trouxe transtornos e mudou a rotina da família. “Minha filha tem três anos e só agora entrou na creche. Mas eu só consegui uma vaga fora da vila e depois de reclamar muito, fomos até na Secretaria da Educação. Meu marido tem que levar ela todos os dias antes de ir para o trabalho. Se fosse aqui, eu levaria e buscaria. Ficou complicado para nós que moramos aqui. Até fizemos um abaixo-assinado e um grupo de WhatsApp com as mães do bairro”, afirma.

Espera cansativa e cara

No total, o documento criado por elas conta com cerca de 100 assinaturas. São mais de três páginas com nomes de mães que estão cansadas de aguardar uma vaga para seus filhos. “Para as maiores até tem, é um pouco mais fácil. Mas para as crianças de zero a quatro anos é muito complicado conseguir uma vaga. E são muitas as mães que precisam. A maioria delas acaba tendo que ficar em casa ou então, pagar uma escolinha, que por aqui custa entre R$ 300 e R$ 500 por mês. Caro demais para quem trabalha e ganha um salário”, desabafa Ana Paula.

E o problema, de acordo com as mães, é antigo. “Já passei por isso, com meu menino de 13 anos. Até hoje aguardo a vaga dele na creche. Com minhas duas meninas mais novas, de 6 e 10 anos deu certo. Acho que é porque a gente está inscrito no Bolsa Família, acho que isso facilitou. É ruim ver o que as mães passam, ter um prédio novo fechado”, relata a dona de casa Graziele Santos, 34.

Promessa de abrir 866 vagas

CMEI Vila Verde está quase pronto, mas não há previsão para inaugurar. Foto: Felipe Rosa
CMEI Vila Verde está quase pronto, mas não há previsão para inaugurar. Foto: Felipe Rosa

O CMEI em obras, alvo das reclamações dos moradores, fica na Vila Verde, na Rua Antônia Molina Bella, na CIC. Obra que, de acordo com a Prefeitura de Curitiba, é a mais adiantada, pois está com cerca de 90% da construção concluída. Estão sendo realizados atualmente o paisagismo e retoques de pintura nas salas. Depois de pronto, este CMEI deve atender 200 crianças de zero a cinco anos, em um espaço de 960 metros quadrados. O valor desta obra é de R$ 2,28 milhões. E segundo a administração municipal, outras 11 unidades estão em situação semelhante.

Em nota, a administração municipal informa que “trabalha para colocar em funcionamento as 12 unidades que foram inauguradas em 2016, mas não estão totalmente prontas. Faltam recursos físicos, humanos e pedagógicos necessários para o atendimento ao público. Para que as novas unidades comecem a funcionar, será chamada parte dos candidatos que foram aprovados em concurso público. O chamamento será feito de forma gradual, conforme dotação orçamentária e revisão do fluxo”.

Além destas, segundo a prefeitura, há ainda cinco unidades em construção e uma unidade com obras paralisadas, no Pilarzinho, que terá os trabalhos reiniciados em breve. “São cinco os novos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) que estão em construção. A previsão é que todos fiquem prontos ainda neste ano, com a criação de mais 866 vagas para crianças de zero a cinco anos de idade. Os investimentos nas cinco obras, todas coordenadas e fiscalizadas pela Secretaria de Obras e Infraestrutura, somam R$ 11,5 milhões. São recursos da Prefeitura de Curitiba e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), do Ministério da Educação”.

RAIO-X

9.380 crianças aguardam vagas em creches em Curitiba. As que vivem em situação de vulnerabilidade social têm prioridade de atendimento.
36.938 crianças são atendidas na educação infantil municipal. Deste total, 31.400 frequentam as unidades (centros municipais de educação infantil e escolas) em período integral. Outras 5.538 estão no pré em escolas, meio período (manhã ou tarde).
206 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) estão em funcionamento, além de mais 74 Centros de Educação Infantil (CEIs) contratados.
5 CMEIs estão em construção:
CMEI Parque Industrial – Rua Capitão Argemiro Monteiro Wanderley
CMEI Vila Verde II – Rua Antonia Molina Bella
CMEI Cajuru / União Ferroviária I – Rua Waldomiro Daldigan
CMEI União Ferroviária II- Rua Waldomiro Daldigan
CMEI Novo Mundo / Portão – Rua Afife Mansur
1 CMEI está com a obra paralisada:
CMEI Pilarzinho/Vila Nori – Rua Antonio Petruziello, Pilarzinho

 

Sobre o autor

Paula Weidlich

(41) 9683-9504