Mulheres de garra

Escrito por Andrea Côrtes

“Não tive oportunidade de estudar, mas agora estou buscando meu caminho”, afirma Marizene Barbosa Santos Almeida, 53 anos. Ela foi uma das 85 alunas que participaram e receberam o certificado de conclusão dos cursos gratuitos oferecidos pelo Programa Mulheres Mil em Curitiba. Em 2014, foram ofertados três cursos na Regional da Cidade Industrial de Curitiba (CIC): de massagista, recepcionista de eventos e operadora de computador. A regional foi a primeira a receber o programa, que já foi considerado sucesso. Para este ano, o objetivo é abrir mais vagas e cursos. Segundo o administrador regional da CIC, Everton Vargas Pinto, há 500 mulheres na fila esperando pelos próximos cursos.

De acordo com a diretora e coordenadora estadual do Pronatec, Célia Regina Alves de Araujo Sandrini, o objetivo do programa é estimular as donas de casa e resgatar a vontade dessas mulheres de voltar a estudar. “Além de melhorar a autoestima, os cursos também as capacitam para o mercado de trabalho e são uma oportunidade a mais para incrementar a renda da família. Todos os relatos que chegam até nós são superpositivos”, explica.

De família bastante humilde, Marizene veio do Sul da Bahia há mais de 30 anos e sempre batalhou para dar uma vida decente para sua família. Começou a vida em Curitiba trabalhando em casa de família e sempre que podia aproveitava o período da noite para estudar. “A vida não foi nada fácil e tudo o que temos foi conquistado com muita garra. Meu marido era metalúrgico e há cinco anos trabalha como caminhoneiro. Não tenho o primeiro grau completo, mas nunca deixei de trabalhar para sustentar a minha família e de estudar”, conta, emocionada.

Casada e com dois filhos de 25 e 28 anos, a mulher batalhadora nunca desistiu. Ela já trabalhou como manicure quando o marido estava desempregado e aproveitou o conhecimento aprendido nos cursos que fazia para complementar a renda da família. “Já vendi flores para vasos, quadros, artesanato e pratos decorados. Faço cursos porque adoro estudar e para ajudar em casa. Hoje eu tenho uma lojinha de roupas e outros produtos”, conta.

Marizene se emociona ao lembrar da história de vida.
Marizene se emociona ao lembrar da história de vida.

Quando soube dos cursos oferecidos pelo Mulheres Mil, não perdeu tempo. Marizene fez o curso de massagista e relata que apesar de todas as dificuldades pessoais, valeu muito a pena todo o esforço para receber o certificado. “A gente aprende lições para a vida toda. Conhece gente nova, faz muita amizade e aprende um ofício para ajudar em casa e não depender só do marido. Falo para os meus filhos que pobreza não é doença e para tudo se dá um jeito”, diz. Ela pretende juntar dinheiro e comprar uma maca para atender suas clientes em casa. Com a renda, seu sonho é comprar um terreno para o filho que vive de aluguel.

Além de complementar a renda familiar, curso resgata dignidade das mulheres. Foto: Jonathan Campos

Unidas pela força

“A região da CIC tem um perfil socioeconômico de bastante carência. São muitas áreas de invasão e de famílias que vieram do interior com um perfil machista. O que notamos são muitas mulheres que ficam em casa. Por isso os cursos são uma oportunidade de complementar a renda da família, mas, acima de tudo, dar mais dignidade a essas mulheres, principalmente as mais velhas”, explica o administrador da regional, Everton Vargas Pinto. Segundo ele, as alunas mais novas buscam os cursos com uma visão de futuro. É o caso de Camila Carolina da Silva, 17 anos. Seu sonho é fazer faculdade de arquitetura e pretende usar o curso de massagista para trabalhar e pagar a faculdade. “A gente precisa pensar no futuro”, afirma.

A costureira Creni de Lourdes Valentim Spach, 48, também tem uma história de superação e luta. Casada e mãe de três filhos, de 20, 21 e 29 anos, ela teve câncer de mama e participou do curso mesmo após a terceira cirurgia para a reconstrução da mama. “Eu fiz outra operação no dia 28 de outubro, mas não conseguia ficar parada. Trabalhava de manhã e de tarde ia para o curso. Só não podia fazer a parte prática, mas não deixei de ir nenhum dia. Tudo o que se aprende é gratificante e valioso. Já fui zeladora e hoje trabalho como costureira, mas posso mudar se eu quiser. O curso foi bom principalmente para a minha saúde”, afirma.

Assim como Creni, que cursou apenas até a 4º série e depois precisou largar os estudos para cuidar da família, o curso alimentou a vontade dessas mulheres de voltar a estudar. “Foi a primeira vez que fiz um curso. No dia da formatura eu me sentia uma adolescente e na hora de pegar o diploma eu tremia de tão feliz’, conta a dona de casa Ivonete de Melo, 53. Para ela, é um orgulho ver mulheres lutando e mostrar que a gente tem capacidade de trabalhar, estudar e cuidar da família. ‘É o começo de uma nova vida”, afirma.

Saiba mais

O Programa Mulheres Mil faz parte do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e é desenvolvido em Curitiba pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR) em parceria com a prefeitura de Curitiba, por meio da Secretaria da Mulher, Fundação de Ação Social (FAS) e da administração regional da CIC. Os cursos são oferecidos com base no mapeamento realizado junto com o FAS e a Secretaria da Mulher de acordo com as necessidades e demandas de cada comunidade.

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Andrea Côrtes

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