É meio dia de terça-feira. Vendo de longe o aglomerado de alunos em frente aos portões do Colégio Estadual do Paraná (Cep), no centro de Curitiba, é natural imaginar que a “bagunça” não se trata de nada além de mais um dia de aula que chega ao fim. Ao encostarmos o carro da reportagem perto da “muvuca”, no entanto, ficou fácil de entender a empolgação da turba de cerca de 80 adolescentes. No centro da roda, Valdir Rodrigues, 37, também conhecido como “Tio do Bombom”, lança ao ar punhados generosos da guloseima. No meio dos gritos eufóricos e da chuva colorida pelo celofane que envolve os chocolates, quem ganha a disputa é quem tem o braço mais comprido da turma. Assim acontece pelo menos uma vez por mês, ou quando “dá na telha” de Valdir que, há 4 anos, “bate cartão” diariamente em frente ao colégio e de vendedor de doces virou celebridade entre os estudantes.
Na falta do alto falante, o chamado é no gogó: “atenção, moçada. Olha o bombom! Único que faz passar de ano, deixa mais inteligente, mais bonito e não estraga a chapinha”. Se os efeitos da guloseima são mesmo esses, não tem como saber, mas, é dessa forma que Valdir chama a atenção da jovem clientela que, diariamente, compra mais de 80 bombons do vendedor durante o “expediente”.
Invejosos até podem dizer que o sucesso dos bombons “da casa da vovó” como foram batizados se atribui somente ao preço da unidade (R$ 3). O segredo da fama, no entanto está na qualidade do produto e na simpatia do vendedor: fatores que, segundo os alunos, fizeram com que Valdir se tornasse conhecido. Entre os sabores prediletos da turma, ‘laka com nutella’, morango e ‘bananinha de morretes’ são os que mais fazem sucesso.
Quem confirma é Jonathan Correia dos Santos, aluno do 1º ano do ensino médio, que compra de duas a três vezes por semana do “tio do bombom”. “Quando ele faz promoção de 2 por R$ 5 não tem como resistir”, revela. Segundo o estudante, o mais difícil é escolher qual sabor levar pra casa. “De morango é muito bom, mas o melhor é o de ‘laka com nutella’”, garante. Heloísa Garcia do Rosário, aluna da sétima série, concorda. “O de nutella é maravilhoso. Compro quase todo dia”, diz.
A relação entre o “tio do bombom” e os alunos do Cep, no entanto, vai além da venda dos chocolates. “Ele é nosso amigo. Sempre faz alguma piada engraçada e conversa com a gente”, afirma Bruna Schimmer, aluna do 1º ano do ensino médio. “Ele tá aqui quase todo o dia e quando não vem a gente sente uma falta…”, diz.
A recíproca é verdadeira. Segundo Valdir, o carinho dos estudantes além de motivá-lo também o comove. “Sinto-me muito amado por eles. Sei que vão lembrar pra sempre do ‘tiozinho que vendia bombom na frente do Cep’ e isso não tem preço”, afirma. Tanto não tem preço que muitas vezes, e “meio em off”, Valdir “faz um fiado” ou libera um bombonzinho de graça para quem anda curto de grana. “Aqui ninguém passa vontade”, garante o vendedor.
Ganha pão
Quem, hoje, vê tamanha aclamação ao ambulante, não imagina que a história começou há 18 anos, quando Valdir e a esposa, Jucélia, trabalhavam como metalúrgicos numa multinacional. “A receita dos bombons dela fazia sucesso entre amigos e família então resolvemos começar a vender em pequena escala pra dar um complemento na renda”, conta Valdir. Alguns anos depois, no entanto, a perda de emprego de ambos transformou a atividade no principal ganha pão da família. “Comecei a vender na rua e distribuir para algumas panificadoras. Muita gente julgava o produto achando que era apenas mais um entre tantos do tipo, mas depois que começaram a provar, perceberam que a qualidade é mesmo diferenciada”, diz Valdir.
O negócio que começou pequeno, hoje começa a dar mais trabalho e, diante da demanda, em breve ingressará na formalidade. Enquanto isso não acontece, tudo segue normal na “fábrica” de bombons, cuja sede é a cozinha da casa do casal, perto do Terminal do Carmo, no Boqueirão. Ao todo, a “Delícias da Casa da Vovó” produz, mensalmente, 5 mil doces. “Trabalhamos num ritmo frenético, quase sem tempo para descansar. Por isso cogitamos abrir uma empresa e contratar mais um funcionário em breve”, revela Valdir que, por enquanto, consegue conciliar a venda dos chocolates à profissão de guia turístico religioso. “Por enquanto estou conseguindo fazer as duas coisas, mas os bombons estão dando tanto trabalho que talvez tenha de me dedicar exclusivamente a isso daqui pra frente”, revela.
Se depender dos alunos do Cep, a troca do “aleluia sagrado” pelo “aleluia de bombons” é mais do que válida. Para mais ou para menos, o que vale por aqui é o ditado que diz que nem só de afeto vivem as crianças, mas também de um pouquinho de açúcar e, no que couber ao “tio do bombom”, nenhum dos dois vai faltar pra essa turma. Pelo menos por enquanto.
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