Sony, o carpinteiro

Depois de se tornar conhecido pelos grandes sonhos guardados em uma “casinha de cachorro” no Centro de Curitiba, o morador de rua José Valsonir Gauer, apelidado de Sony, tem novidades para contar. Ele ainda vive na calçada da Rua Marechal Deodoro e luta contra a depressão, mas transformou a casa em seu ponto de trabalho e agora é um carpinteiro de mão cheia.

“Fiquei muito conhecido depois que a imprensa me achou, então sempre tem alguém que faz alguma encomenda comigo. Já construí banquinhos, casinhas de passarinho, caminha, cofrinho, todo tipo de caixinhas e até espátulas fininhas para depilação com cera. O que for pequeno e feito em madeira, eu consigo preparar”, conta.

Devido ao trabalho, o espaço que antes contava somente com a casinha agora está repleto de tábuas, ferramentas e objetos aguardando retirada. “As pessoas pedem e, às vezes, demoram pra vir buscar. Aí já aconteceu até de roubarem a encomenda. Não está fácil conviver com tanta violência. Levaram até meu martelo”, lamenta.

Solidariedade

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

No entanto, ele afirma que o número de pessoas que querem seu bem é muito maior e, por isso, já ganhou um martelo novo e voltou ao trabalho. “Tem muitas pessoas boas que me ajudam. Eu ganho bem pouquinho aqui e tem dias que não tenho encomendas e nem o que comer. Então, agradeço essas pessoas que oferecem algo”, contou, no momento em que um garoto lhe entregou dois sanduíches de presente.

Durante a entrevista, outras pessoas pararam para ajudar o carpinteiro, uma doando algumas moedas e outra comprando dois lápis comercializados pelo morador de rua. “Esses lápis eu vendo para ajudar um colega, que me dá um troquinho por isso. Aqui é assim: um ajuda o outro”.

Mesmo com pouco para oferecer, Sony leva muito a sério a necessidade de auxiliar quem precisa. “Se eu ganho dois cobertores, eu dou um. Se forem duas marmitas, também passo pra frente uma delas. Assim, é como se a pessoa que me ajudou estivesse contribuindo comigo e com mais alguém”.

Luta contra a depressão

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

Além de receber alimento, doações e encomendas, José relata que uma psicóloga já lhe ofereceu tratamento gratuito contra a depressão e levou uma receita com os remédios que ele deveria solicitar em um posto de saúde. “O problema é que eu não tenho ânimo pra ir até um postinho, muito menos até o consultório da doutora. Não faço isso por preguiça. É algo mais forte do que eu. Agora estou conversando feliz com vocês, mas daqui a pouco já entro na minha casinha, me tranco e passo o resto do dia ali. Minha vida é assim. Espero ter forças para sarar porque sei que isso é uma doença”.

Quanto ao fato de sair das ruas, Sony afirma que só se mudaria se fosse para cuidar de uma chácara. “Já me chamaram para ser chacareiro em outra cidade, mas eu queria ficar perto de Curitiba, onde eu pudesse zelar pelo espaço para o dono sem receber salário e ainda tivesse tempo para construir meus produtos em madeira”.

Como encomendar?

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

Enquanto isso não acontece, ele continua transformando sua casinha em uma oficina de carpintaria e oferecendo seus serviços. Quem estiver interessado pode passar na Rua Marechal Deodoro, próximo ao Shopping Itália – entre as ruas Conselheiro Laurindo e João Negrão -, e conversar diretamente com Seu José para negociar, explicar o pedido e deixar um sinal. “Aí no dia que combinarmos a entrega, ela estará pronta porque eu sou muito correto com esse negócio de datas. Marcou comigo, eu vou fazer. Nem que eu passe a madrugada trabalhando pra isso”, diz.

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Sobre o autor

Raquel Derevecki

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