A reforma do Centro de Esportes e Lazer Dirceu Graeser, que fica dentro da Praça Oswaldo Cruz, no Centro de Curitiba, era pra ter ficado pronta no final de 2014, depois setembro de 2015, e fevereiro de 2016, até que um imprevisto jogou a conclusão para o segundo semestre de 2017. Sem contar que o local, que já foi o principal centro de esportes e lazer da capital, já estava interditado desde dezembro de 2013. Os sucessivos adiamentos motivaram um abaixo-assinado na internet, cobrando a conclusão das obras, a revitalização do restante da praça e uma explicação convincente da prefeitura sobre o porquê do atraso.
Quem criou o manifesto foi Rafaela Silva, que apesar de morar em Colombo, utilizava o local quase todos os dias para jogar basquete com os amigos, após o trabalho. “Aqui fiz muitas boas amizades, e me dá muita pena de ver isso como está. Aí eu vi que não sou só eu que estou incomodada. Tem muita gente triste com o abandono. Por isso fiz o abaixo-assinado”, diz Rafaela, que já tem mais de 750 apoiadores. A campanha está no site www.change.org
O Centro de Esportes, aparentemente, parece estar pronto, já que não há mais a placa de obra do convênio federal e municipal, com os valores e data de início e conclusão. Pelo visto, falta apenas liberar para o público. Em fevereiro do ano passado, a Tribuna esteve lá e as obras estavam “empacadas” por conta de um imprevisto. Durante as escavações, foram encontradas antigas tubulações e tanques de óleo, com risco de sérios danos ambientais. Até ser feita a remoção deles, a obra parou de novo (depois de várias outras paralisações).
Lixo e drogas
Rafaela mostra que a única manutenção que a prefeitura tem feito é o corte de grama. Mas em outros cantos, como por exemplo o parquinho infantil e a calçada abaixo de uma escadaria, as folhas estão acumuladas e misturadas com lixos diversos. Pelos cantos mais “discretos”, jovens se reúnem para beber e usar drogas.
No parquinho, nenhum pai, mãe ou cuidador tem coragem de brincar com crianças, pois precisam disputar espaço com os moradores de rua. Brincar na areia então, nem pensar, já que os moradores de rua fazem suas necessidades por ali, em especial perto dos tapumes das obras do Centro de Esportes. “Aqui era muito cheio antes, não só de pessoas praticando esportes. Mas também de famílias com crianças. Agora, como está abandonado, ninguém quer mais vir pra cá”, lamenta Rafaela.
A jovem mostra que a área descoberta da praça não tem pintura delimitando as quadras, faltam traves de futebol e as tabelas de basquete estão quebradas, sem os aros.
Escuro e inseguro
À noite, ninguém mais quer correr na pista de corrida porque não tem luz. E a segurança também preocupa. No exato momento em que a equipe da Tribuna estava gravando uma entrevista com a Rafaela, uma transeunte foi assaltada na Rua Lamenha Lins, uma das ruas que margeia a praça. Ela teve o celular roubado enquanto andava na calçada. Sorte é que passava uma viatura da PM bem na hora e prendeu o suspeito.
Falando em assaltos, a atendente de cafeteria Danila Alves Martins, 21, tem receio de entrar na praça. Ela já foi assaltada algumas vezes no entorno da Oswaldo Cruz e agora, se quer vir tomar um sol ou descansar, não traz dinheiro, nem celular.
A bancária aposentada Rosamalia Lobo, 65, também lamenta o abandono. Ela gosta de passear com sua cadela no local, mas procura não andar com nenhuma joia, celular ou dinheiro. Só traz uma sacolinha para juntar as necessidades do cachorro. “Não dá nem pra se vestir bem, pra não chamar atenção. Pior que tá assim em Curitiba toda”, lamenta.
Vai terminar, enfim?
A Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude (SMELJ), que irá administrar o Centro de Esportes Dirceu Graeser, diz que as obras já estão 99% concluídas. Há apenas alguns ajustes no telhado e a instalação do motor de aquecimento da piscina, que é um trabalho demorado por ser altamente especializado. Depois disso, basta que a Secretaria Municipal de Obras faça uma vistoria, para verificar se está tudo certo ou precisa de mais algum ajuste. Assim, a previsão é que a obra seja entregue até dezembro.
Quanto aos vários adiamentos da obra, a pasta prefere não se pronunciar sobre questões da gestão municipal anterior. Sobre o que está sob responsabilidade do prefeito Rafael Greca, a secretaria diz apenas que a obra este ano foi demorada por causa de um ajuste no telhado do ginásio, para conter uma goteira e não danificar o piso novo, e a compra do equipamento da piscina, que foi feito por licitação, um processo demorado. A SMELJ ressaltou que a compra deveria ter sido feita no ano passado.
A obra estava orçada, inicialmente, em R$ 3.214.244,88. Como as obras foram interrompidas, foram necessários aditivos financeiros para a continuidade. O primeiro aditivo custou R$ 309.340,39. O segundo ainda não foi finalizado, por isso o custo não foi divulgado pela secretaria.
Já sobre o restante da praça, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente ressaltou que a manutenção do local tem sido feita mensalmente, com corte de grama, poda de árvores e catação de lixo. “Demais serviços de manutenção estão sendo estudados e programados, devem iniciar dentro de 30 dias”, promete a secretaria, em nota.
Pessoas em situação de rua
A FAS informou que, de 1º de setembro até sexta-feira passada (22/9), abriu nove protocolos (chamados feitos via 156), para atendimento a pessoas em situação de rua na Praça Oswaldo Cruz. Todos foram atendidos, oito com abordagem social (quando as equipes abordam, orientam e oferecem os serviços disponibilizados pelo município, como acolhimento e encaminhamento para os Centros POP). Uma pessoa foi encaminhada de volta para casa, em Pato Branco. Uma mulher também foi encaminhada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) para tratamento de saúde.
Um protocolo gerou uma ação integrada que foi realizada no último dia 19. Além das abordagens da FAS, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente retirou lixo orgânico e materiais dispensados nas ruas. A Guarda Municipal também participou.
A orientação é que os cidadãos liguem para a Central 156 e abram um protocolo de atendimento sempre que presenciarem uma pessoa em situação de risco ou vulnerabilidade social no local.