Central do caos

Quando anunciada, em setembro do ano passado, a Central de Flagrantes, no 1.º Distrito, na Rua André de Barros, centro de Curitiba, parecia a solução para facilitar o trabalho da polícia e melhorar o atendimento à população, mas de lá pra cá, só vem gerando dor de cabeça. Até o início da tarde de quarta-feira (21), cerca de 100 presos estavam confinados em um espaço que cabem apenas quatro pessoas.

No mesmo dia, uma transferência foi feita e ainda assim 54 homens permaneceram no local, de acordo com os próprios funcionários que ali trabalham. Além das celas, outras áreas de movimentação da carceragem são ocupadas por conta do alto número de pessoas. Por isso, o trabalho de policiais e carcereiros só piora.

“Não existe área para se movimentar e fazer uma vistoria, por exemplo, e a gente fica praticamente refém desses homens. A estrutura é precária e por isso tem fuga com frequência. É inevitável essa revolta, já que não condição de tomar banho, se alimentar e dormir. Sentimos receio e nosso trabalho virou esse, cuidar de preso”, desabafou um investigador.

No momento em que os presos eram transferidos para o sistema prisional, alguns contaram a situação precária que viviam. “Muita gente junta no mesmo lugar, sem condições para banho e para fazer as necessidades, é desumano. Muito quente lá dentro. A gente fala pra não colocar mais ninguém lá dentro, mas eles colocavam mesmo assim, porque não tem onde por”, afirmou.

Doentes

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

O problema é agravado por conta das doenças no lugar. Funcionários relataram que alguns presos estão com sarna e outros até aproveitam da situação para argumentarem e conseguirem uma transferência. Alguns apresentam sintomas de doenças respiratórias, apesar de os policiais que trabalham na carceragem não confirmarem qualquer situação mais grave.

A Central de Flagrantes funciona 24 horas por dia e atende ocorrências da Polícia Militar, Guarda Municipal e outros órgãos de segurança. No local, são centralizados todos os autos de prisão em flagrante. Ou seja, deveria haver estrutura para receber tamanha quantidade de detidos, pois o trabalho constante dos policiais só tem aumentado o número de detidos no local.

Além disso, todos os procedimentos deveriam ser concluídos, relatados pela Central de Flagrantes e encaminhados ao Poder Judiciário no prazo de 24 horas. Com tantos presos, os policiais ficam com o trabalho restrito e não conseguem atender a população de maneira satisfatória.

Drama antigo

Em novembro de 2017, a Tribuna denunciou o grave problema de superlotação na Central de Flagrantes, que fica no coração de Curitiba. Na época, havia 67 presos na carceragem. Na quarta-feira (21), após o transferência, o número baixou de 100 para 60 presos no local. A situação, que afeta diretamente o trabalho dos investigadores e demais funcionários do distrito policial, ainda gera indignação entre os policiais que realizam as prisões e depois precisam lidar com a fuga dos mesmos.

A última fuga foi registrada ainda em novembro, quando dezesseis homens fugiram através de um buraco no telhado da Central de Flagrantes. Apesar de as fugas parecerem um trabalho difícil e que demanda tempo para ser concretizado, as evasões no local acabam sendo de certa forma fáceis, isso porque na carceragem, que era do 1.º Distrito Policial, diversas fugas já foram registradas e remendos nas paredes e tetos facilitaram a ação dos bandidos.

Transferência

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

Questionada sobre a superlotação, a Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp) voltou a informar que a transferência de presos é de responsabilidade do Comitê de Transferência de Presos, composto pelo Poder Judiciário, Ministério Público e Departamento Penitenciário.

O órgão ainda citou que, por semana, são transferidos até 150 detentos das carceragens das delegacias para as unidades prisionais. Na Central de Flagrantes foram retirados 50 presos nesta semana e haverá ainda mais transferências para as penitenciárias, conforme informou a Sesp.

Com relação ao problema sério enfrentado na Central de Flagrantes, que só será solucionado com novas vagas para os presos, a Sesp, assim como em outras situações, voltou a citar as obras que serão feitas com a intenção de esvaziar a carceragem das delegacias. No total, são 14 obras de construção e ampliação, algumas em andamento, que proporcionarão quase 7 mil vagas.

A Casa de Custódia de Piraquara também está sendo construída e com previsão de entrega neste ano deve abrir mais 640 vagas. O órgão ainda citou 684 novas vagas que serão abertas com a instalação de 57 shelters (celas em containers). Apesar das obras citadas e prometidas, não houve menção de solução imediata para a superlotação nas carceragens.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna