Uma semana após a inauguração do novo binário de Curitiba que liga o bairro São Lourenço ao Centro, por meio das ruas Nilo Peçanha e Mateus Leme, as opiniões entre motoristas, comerciantes, pedestres e moradores da região, estão divididas.
Viabilizado com o objetivo de desafogar o trânsito, o binário tem sete quilômetros e alterou o fluxo não apenas nas vias principais, mas também nas paralelas e transversais, que agora estão mais movimentadas.
Além do novo sentido das ruas, a alteração afetou os percursos de 15 linhas de ônibus que cortam o trecho. A mudança confunde usuários do transporte coletivo, uma vez que alguns pontos de parada foram deslocados para outros lugares. A diarista Nilse dos Santos Souza, 59, pega o ônibus Nilo Peçanha todas as segundas e quartas-feiras para chegar ao trabalho. Ela afirma que ainda não se acostumou com a novidade que inclui também o nove nome dado à linha. “Era Nilo Peçanha. Agora virou Parque Tanguá. O ponto mudou de lugar e está uma confusão só. Mesmo sabendo das modificações estou ‘me batendo’ para acostumar”, afirma.
Entre motoristas as opiniões variam. Ricardo Souza, 39, é morador do bairro Ahú e trafega diariamente pela Nilo Peçanha sentido centro – no trajeto para chegar ao trabalho. Ele reclama do aumento do tempo médio em trânsito após a instalação do binário. “Antes eu levava cerca de 8 minutos pra chegar ao trabalho. Agora não faço em menos de 20. O fluxo afunila e para, principalmente na esquina com a Carlos Pioli. Nos horários de pico a situação complica muito”, reclama. Já para a dentista Evelyn Ramos, 50, que transita todos os dias pela Rua Mateus Leme, os pontos positivos do novo binário são mais evidentes que os negativos. “O trânsito desafogou muito no sentido São Lourenço. Utilizo a via para voltar do trabalho e ficou melhor para trafegar e atravessar”, diz. O único ponto que, segundo ela, merece mais atenção, é a rotatória que recebe a convergência das ruas Mateus Leme, Nilo Brandão e João Gava situada nas proximidades do Parque São Lourenço. “Além do ponto receber o fluxo das vias transversais que cruzam a Mateus Leme, o local fica próximo a uma escola. Nos horários de saída dos alunos a via fica praticamente intransitável”, frisa.
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Os reflexos da instalação do novo binário não afetam somente os motoristas que percorrem as vias alteradas, mas outras ruas importantes do perímetro – como a Avenida Cândido de Abreu – no Centro Cívico. O tráfego na via que já não era dos menos movimentos – ficou ainda mais congestionado após as mudanças. A advogada Isabel Pereira, 29, que não utiliza o binário, mas se locomove pela Cândido de Abreu diariamente, sentiu a diferença. “De repente o trânsito começou a piorar e eu não entendia o porquê. Aí me lembrei do binário e me dei conta que parte desse fluxo pode estar vindo da Mateus Leme, que agora só vai sentido bairro”, afirma.
Segundo a superintendente de trânsito de Curitiba, Rosângela Batistella, as dúvidas entre os motoristas na fase inicial do projeto devem se solucionar aos poucos, conforme forem se habituando aos novos trajetos. “Até que todos se acostumem leva um tempo. Os aplicativos de GPS também estão em adaptação, e logo não haverá mais tanta confusão. Nós temos acompanhando diariamente a situação nas ruas Mateus Leme e Nilo Peçanha e as melhorias advindas do novo binário são visíveis já nas primeiras semanas”, afirma.
Deu prejú!
Entre comerciantes da região, no entanto, os benefícios do novo binário não são tão aparentes assim. Simone da Silva Araújo trabalha em um açougue situado na Rua Nilo Peçanha. De acordo com ela, a extinção das vagas de estacionamento na via prejudicaram o comércio. “Antes os clientes podiam estacionar aqui na frente ou na rua lateral. Depois do binário tudo virou faixa amarela e ninguém mais para. Nosso movimento caiu cerca de 20% e se não fosse o serviço de entrega a domicílio nós já teríamos fechado as portas”, revela.
Comerciantes da Mateus Leme também percebem a queda no movimento. Para Daiane Meira, 26, que é caixa em um mercado situado na via, os clientes acabam optando por estabelecimentos que façam parte da rota diária. “Muita gente parava aqui porque era mais prático. Já “estava no caminho”. Agora quem segue sentido Centro não vai dar uma volta só pra vir aqui”, lamenta. Outra reclamação da lojista é a travessia no local, que piorou depois da unificação do sentido da rua. “Sem sinalização a gente praticamente tem que se jogar pra conseguir atravessar”, reclama.
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Mauro Alfredo Woellner também é comerciante na região. Para ele, as mudanças têm aspectos positivos e negativos a serem considerados. “Para mim piorou a questão de visibilidade. As pessoas acabam passando muito rápido e não notam o estabelecimento. Um fator que observei ter melhorado, no entanto, é questão de ruído. Acredito que a alteração no trajeto dos ônibus deixou a rua bem mais silenciosa”, afirma.
Para solucionar as questões relativas à travessia em alguns pontos e melhorar o fluxo em trechos que ainda sofrem com congestionamentos, a Secretaria de Defesa Social e Trânsito estuda promover alterações no binário. De acordo com a superintendente de trânsito de Curitiba, Rosângela Batistella, as medidas devem ser anunciadas oficialmente essa semana. Entre as alterações previstas estão o alargamento da Rua Roberto Barrozo – que deve receber uma terceira faixa e a diminuição do limite de velocidade no radar da esquina da Rua Orestes Beltrami com a Nilo Peçanha. O local fica próximo a uma escola, e a redução da velocidade no ponto, segundo Rosângela, melhoraria a travessia de alunos em horários de entrada e saída. Além disso, ruas transversais também deve receber nova sinalização. “Esses projetos estão em fase de elaboração e devem ser estudados junto à Secretaria de Obras. Ainda não existe prazo para as alterações acontecerem, mas tão logo haja aprovação, serão viabilizadas”, diz.
No que diz respeito à restrição de estacionamento na Nilo Peçanha, Rosângela afirma que a medida foi adotada em prol da coletividade para melhor fluidez dos veículos. “Infelizmente não há formas de agradar a todos. As vagas foram eliminadas para facilitar o trânsito, que há tempos era motivo de reclamação e dor de cabeça para quem transitava pelas vias”, finaliza.