Leitores, se vocês me permitem, essa matéria será escrita em primeira pessoa, para contar a vocês sobre o “baiano doido” que eu conheci esses dias. Eu estava fazendo uma matéria no Centro de Curitiba. Estava quente e eu sentindo fome e sede. Saindo da Praça Tiradentes para ir embora, eu e o fotojornalista Felipe Rosa paramos numa lanchonete. Enquanto deliciávamos uma bebida bem gelada, entrou o “baiano doido”.
Entendam que não quero ofendê-lo, discriminá-lo ou menosprezá-lo chamando-o assim. Mas ele não quis me contar seu nome. E pediu para ser chamado assim ou pelo apelido de “Maluquinho da Pintura”. Não sei por qual motivo não quis dar seu nome. Também não questionei. Ele nos pediu dinheiro, porque estava há três dias sem tomar banho e estava louco por uma chuveirada. Muitas pessoas teriam preconceito de ver aquela figura suja e pedindo dinheiro. Mas eu, repórter, adoro puxar conversa com quem quer que seja.
Ele viu o microfone da Tribuna no balcão e já foi dizendo que era artista, que pintava quadros em restos de materiais de construção. E já se prontificou a pintar um quadro num pedaço de azulejo que tinha por ali, pedindo para gravar uma entrevista com ele. Acho que ele duvidou que nós gravaríamos com ele de verdade. Mas quando viu eu e o Felipe com câmera e microfone na mão, já se agilizou com seus materiais.
Ele tinha apenas três cores de tinta numa bolsa. Lamentou que não tinha dinheiro para comprar mais. Enquanto deslizava os dedos pelo azulejo com as tintas, nos contou que já esteve até no programa da Ana Maria Braga. Foi intitulado o artista mais rápido do Brasil, pois pintou um quadro semelhante ao que estava pintando para nós em 37 segundos, no programa de TV. Aproveitou o bate papo e pediu uma contribuição para comprar as tintas e para conseguir tomar o banho que tanto desejava.
“Povo acha que a gente só sobrevive de elogio. Mas elogio não enche barriga e eu tô dormindo na rua”, disse ele, que estava tentando juntar R$ 65 para pagar uma diária de hotel ali no Centro, para tomar o merecido banho e dormir numa cama confortável por pelo menos uma noite. “O dia que dá, pago hotel. O dia que não dá, fazer o quê. Às vezes eu consigo um dinheirinho com a pintura. Pessoas que me dão moral, como você, que vai me dar moral na Tribuna. Vou completar a diária do hotel. Agora vou tomar banho, fazer a barba, passar meu Malbec”, brinca. “Hotel tem de 3, 4, 7 estrelas. O meu é 1001 estrelas, que eu olho pra cima e o céu é demais, menina”, ele me disse.
O “Baiano doido” não quis me contar de onde vem nem para onde vai. Não se importa de morar na rua, de ter endereço fixo. Só quer viver por aí. Mas pelo menos ele sabe o que quer da vida. “Pra mim, o que vale a pena na vida é ver felicidade nas pessoas, o sorriso no rosto, igual você agora. Isso me faz feliz, é assim que desejo viver. Tá bom demais assim, não precisa mais nada não”, falou, antes de irmos embora. Não sem antes de eu e o Felipe termos dado quase R$ 10 a ele. Merecia mais, mas era tudo o que tínhamos nos bolsos naquele momento.
E você, quanto daria a um quadro pintado pelo “Baiano Doido”? Quer encontrá-lo? Ele está sempre pela esquina da Rua Saldanha Marinho com a Rua do Rosário, no Centro.