Videogames costumam se transformar em dor cabeça para os pais de crianças e adolescentes, quando o assunto é tirar os filhos do sofá e incentivá-los a praticar uma atividade física. Quem é páreo para os desafios emocionantes de cada fase dos games? Tem que pedir dez vezes para desligar o console e, no mínimo, ainda há o risco do pedido fracassar.
Não é o caso do curitibano Marcio Yamawaki, 56 anos, pai do Nicolas Yamawaki, de 9. Ao perceber o interesse do garoto pelos movimentos do personagem do game Assassin’s Creed, os dois foram procurar no Youtube como era feito o jogo e deram de cara com o Parkour, um esporte radical praticado na rua com o objetivo de vencer obstáculos como muros, paredes, grades, portões e todo o tipo de paisagem urbana.
“Achei interessante para o Nicolas, só não saímos por Curitiba pulando muros. Marquei aula experimental na academia Ponto B, que ensina Parkour, e meu filho adorou. Faz um ano que ele pratica”, conta Marcio.
O esporte chegou a Curitiba e outras cidades do Brasil no início dos anos 2000, com a popularização dos documentários Jump London (2003) e Jump Britain (2005). Pouca gente praticava e os movimentos eram aprendidos assistindo a esses vídeos. Naquela época, em 2005, Curitiba sediou o primeiro encontro brasileiro de Parkour e foram surgindo grupos de praticantes na capital, que costumam se encontrar, principalmente, na Praça 29 de Março e nos Faróis do Saber, por causa dos obstáculos.
Motivação
Para o educador físico Cassio Dias de Andrade Junior, 26 anos, praticante de Parkour desde a chegada do esporte na capital e dono da academia Ponto B, o interesse dos pais em motivar os filhos no Parkour desde a infância é uma conquista. “Ele se adapta à idade motora das crianças, com foco no lúdico, nos saltos, rolamentos e outros movimentos. À medida que elas praticam, trabalha-se a autoconfiança, superação e tomada de decisão. Isso ajuda muito a lidar com o medo e a insegurança de cada idade”, explica Cassio.
Dayane Jenifer Lourenço, 36 anos, é a mãe do Nicolas. Ela aprova a iniciativa do filho, diz que ele evoluiu muito a coordenação motora e a autoconfiança ao longo da prática do Parkour, mas também aconselha uma proximidade dos pais. “Ele trincou o braço direito no fim do ano passado. Foi antes de começar a aula de Parkour, durante o aquecimento. Está tudo bem com ele, que pretende voltar logo para a academia. Porém, no dia da queda o pai estava presente e isso foi fundamental porque esse tipo de coisa assusta”, orienta.
O dono da academia Ponto B diz que a boa prática do Parkour é sempre respeitar os limites do corpo. “É importante os pais terem essa preocupação. A garotada e os adultos devem seguir um treinamento progressivo, se preparando fisicamente, até porque o Parkour é um esporte individual. Cada um se desenvolve no seu tempo e vai enfrentando desafios maiores. Respeitar essa sequência é o que faz do Parkour um esporte seguro”, garante.
Na raça
Os estudantes do Ensino Médio Lucas Rosa da Silva e Davi Bianchi, de 15 anos, são radicais. Preferem aprender os movimentos do Parkour à moda antiga. “Gostamos de ir na 29 de Março. Sempre tem gente fazendo Parkour. Nós trocamos ideia com a galera e tiramos dúvidas sobre treinos. Curitiba é grande, tem uma massa boa de gente praticando”, explicam os dois, que há sete meses se interessaram pelo esporte por meio do Youtube.
“Vimos um vídeo e começamos a treinar casa, fazendo exercícios de condicionamento. É viciante. Quando estamos de férias, praticamos pelo menos umas seis vezes por semana. Na época de aula, umas três”, revelam.
Essa intensidade preocupa Darci Rosa da Silva Junior, 46 anos, pai do Lucas. “Acho bacana, legal por ser saudável e tirar meu filho e os amigos da frente dos aparelhos eletrônicos, mas as pessoas nesses vídeos fazem coisas em lugares perigosos. Construções abandonadas e telhados. Tem uma modalidade em que o sujeito fica de ponta cabeça no alto de um prédio e isso me assusta”, diz Darci, que costuma orientar o filho para ter cuidado e manter a cabeça no lugar.
“Digo para ele não tentar esses desafios perigosos, mas ele me explica que fazer isso exige um treinamento avançado. Diz que são praticantes com pelo menos vinte anos de treino. Mesmo assim eu insisto e fico de olho. Todo o esporte tem seus prós e contras, cabe aos adultos dar essa orientação”, aconselha o pai.
E a família?
Há mais ou menos cinco anos, a corretora de seguros Eliana Maria de Almeida Gomes, 44, foi acompanhar o filho mais velho em aulas de Parkour ao ar livre. Gostou do que viu, mas tinha vergonha de praticar. “Foram três anos como expectadora, até criar coragem. Eu tinha medo de altura, medo de não dominar o corpo, mas tudo mudou”, conta Eliana, afirmando ter desenvolvido autonomia corporal e emagrecido treze quilos dentro do esporte.
“Quem olha de fora fica preocupado com a movimentação, só que o esporte é dinâmico. Cada hora tem um desafio novo e se diferencia de outras atividades físicas mais monótonas. Faz muito bem para o corpo e para a saúde”, explica a praticante.
Na família de Eliana, dois dos três filhos praticam Parkour. O filho mais novo, de 3 anos, só está esperando atingir a idade ideal para começar e a irmã e o sobrinho também já entraram na dança. “Tornou-se um objetivo de vida aqui em casa. O esporte me deu liberdade emocional, disposição para o dia a dia e posso dizer que conheço os limites do meu corpo como nunca. Eu recomendo, pois faz bem para todos”, finaliza.
Onde praticar de graça em Curitiba
Praça 29 de Março
Parque Tanguá
Farol do Saber da Pedreira Paulo Lemisnki
Brinquedão da Avenida Artur Bernardes, próximo ao chafariz dos anjos
Praça Ouvidor Pardinho
Centro Cívico
Praça do Atlético
Parque Barigui
Lugares pagos
Alcance Parkour – Centro de treinamento e projeto social de apoio ao esporte na cidade, vinculado à Primeira Igreja Batista de Curitiba. O local abre aos sábados, das 15h30 às 17h30, para jovens a partir dos 14 anos. Os treinos avulsos custam R$ 5,00 e o plano mensal R$ 15,00. O responsável é o instrutor de Parkour Matheus Barreto.
Ponto B – Academia especializada em Parkour. Atende turmas divididas por faixa etária de 4 a 6 anos, 7 a 10 anos, 11 a 13 anos e de 14 anos em diante. As aulas duram em torno de 1 hora, em horários definidos. O valor das mensalidades varia de R$ 180,00 a R$ 385,00.