Tijolo por tijolo

Os cavalos não são mais usados para rodar a máquina que mistura e amassa argila e terra, mas o cheiro do barro úmido de cada tijolo recém-produzido segue imperando como rastro pela rua Delegado Bruno de Almeida, no bairro Caximba, endereço de dezenas de olarias familiares. Lá, a tradição tem cheiro e cor, mas conta com incrementos trazidos pelas novas gerações, que investiram em máquinas, aumentando a escala de produção de tijolos com menos mão de obra. Tudo isso, para continuar no negócio que, há alguns anos, tem testado a perseverança desses “homens de barro”.

Sidnei: desde os 11 anos ajudando o avô, não pensa em deixar a atividade.
Sidnei: desde os 11 anos ajudando o avô, não pensa em deixar a atividade.

A Cerâmica Sidval, dos irmãos Sidnei e Valdecir Grendel, representa bem esse momento. Há 20 anos no mercado, desde 2011 a empresa não consegue repassar os aumentos dos custos de produção para o preço final do tijolo, graças ao aumento na oferta do produto e, na sequência, à retração econômica. “O receio maior é, se além do preço defasado, tivermos que enfrentar uma redução nas vendas. Felizmente e por enquanto, este início de ano foi até melhor que 2014”, comenta o microempresário Sidnei César Grendel, 37 anos.

Ele que começou a trabalhar na olaria do avô, aos 11 anos de idade, afirma que nem consegue imaginar viver em outra atividade. “É o cheiro do barro que encanta a gente, para mim não tem cheiro melhor e vejo no meu filho de oito anos o mesmo fascínio. Além disso, não sei fazer outra coisa da vida”, explica. O pai de Sidnei, Valdevino Grendel, 65 anos, reforça essa devoção à arte da transformar o barro. “Eu sou do tempo em que carregávamos os tijolos na pá, exigia muito mais pessoas e força física, o que me provocou lesões na coluna. Mas hoje, mesmo com as dores da idade, não consigo parar e as máquinas facilitam a minha vida. Acho que quem passa a vida na olaria não se aposenta, porque morre sem isso”, defende.

Valdevino: quem passa a vida na olaria não se aposenta.
Valdevino: quem passa a vida na olaria não se aposenta.

Hoje, a matéria-prima composta de 70% de argila e 30% de terra vermelha não é mais retirada da região do Caximba, porque se explorou muito no início. Ela vem basicamente de Araucária e São José dos Pinhais. Valdevino lembra com orgulho que ainda na primeira olaria da família, pertencente ao pai dele, por algumas vezes a busca pela argila se tornou uma aventura arriscada no Caximba. “Íamos cavando até uma profundidade de uns quatro metros de altura, só que às vezes estourava o lençol e a água invadia o buraco, por sorte, sempre consegui escapar”, conta.

Além da modernidade ter eliminado esse tipo de risco, o ganho de produtividade é algo que salta aos olhos de seu Valdevino. “Antes com 15 funcionários não produzíamos o que seis conseguem dar conta no dia a dia. Por hora, a fábrica faz até 9 mil tijolos de seis furos por hora, que totalizam 600 mil peças no mês”. Essa produção é destinada ao mercado de Curitiba, região metropolitana e litoral e, hoje, com a vantagem de entregar a encomenda embalada e depositada por meio de um caminhão-munck até a altura do quarto andar de uma construção. “Mesmo para a umidade, que no inverno aumenta em dez vezes o tempo de secagem, agora já demos um jeito com um sistema que aproveita o calor da máquina”, acrescenta Sidnei.

Para a família, passado, presente e futuro têm no barro a razão de ser. “A humanidade evoluiu muito, mas o que produzimos continua sendo a unidade de toda e qualquer construção”, dispara Sidnei.

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