Projeto que trabalha o letramento de crianças é finalista do Prêmio Bom Exemplo

Foto: Giselle Ulbrich/Tribuna do Paraná.

O projeto Move Vidas é um dos cinco finalistas do Prêmio Bom Exemplo, da Tribuna do Paraná e da RPC. E quem comanda esse projeto é a Luzia Helena de Andrade Cruz, 47 anos, a “Professora Gaivota”. Com o objetivo de levar alento e uma perspectiva de futuro às crianças da Comunidade Abraão, uma área de invasão no bairro Caximba, em Curitiba, ela criou a ação social na região há 13 anos. Os últimos 10 anos foram numa chácara que a Gaivota, com quase nada de dinheiro, mas com muito esforço, foco, fé e vontade, foi comprando, ganhando e aumentando. E o projeto não cresceu só fisicamente. Hoje atende também os adultos da comunidade, visto que muitos deles são carentes de todo tipo de apoio, desde conhecimentos básicos da vida, até o emocional.

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Como o próprio nome diz, o projeto tem resgatado muitas vidas da depressão, da violência e da falta de perspectiva. Vale ressaltar que o projeto sobrevive de doações, ajudas da própria comunidade e de alguns poucos empresários. O bazar de roupas doadas que ela promove também ajuda com cerca de R$ 500 nas despesas mensais.

Um dos seus maiores focos é “letramento” das crianças. O letramento, explica ela, não tem nada a ver com alfabetização, como o nome talvez possa sugerir. Tem a ver com a filosofia de Paulo Freire, que sugere que as crianças se desenvolvam a partir da exploração da própria curiosidade.

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“Às vezes eles chegam aqui e perguntam porque nós queimamos parte do lixo aqui na chácara e outra parte a gente coloca em sacos e leva lá perto do asfalto. A gente explica que não é uma atitude antiecológica, mas uma necessidade por não termos o serviço de coleta aqui. Assim aos poucos eles entendem o que é cidadania. Perguntam porque a gente não tem uma quadra de futebol coberta igual a da escola. Aí nós explicamos que aqui é uma área de preservação ambiental e que nós queremos esse convívio com a natureza. Hoje eles chegaram aqui e viram os sapos acasalando na lagoa. Aí nós exploramos esse assunto. Outro dia vem um e fala que a mãe está doente em casa. A gente fala sobre isto. Eles perguntam se podem fazer um balanço novo. A gente deixa. Então aqui é tudo muito livre, a gente aproveita a própria demanda deles para desenvolver a criatividade e o potencial de cada um. Eles vão aprendendo naturalmente. É um projeto que não funciona dentro de uma sala fechada”, explica Gaivota.

E através do letramento, a professora vai empoderando a criançada, mostrando que eles têm capacidade e podem ser o que quiserem.

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Crianças com futuro!

O projeto atende as crianças todas as terças e quintas-feiras, no contraturno escolar. Além das brincadeiras, há as aulas de capoeira, o momento da leitura, das conversas, do lanche, da educação ambiental, ou o simples brincar no enorme terreno em meio às árvores e pequenos lagos, biblioteca, casa na árvore, cama elástica, casa de bonecas, casa de atividades e parquinho, além da atenção, cuidado, carinho e afeto que muitas não têm em casa. Carlos Henrique Santos da Silva, 11 anos, já entendeu a mensagem do Move Vidas. “Eu adoro vir aqui pra jogar futebol. Eu aprendi a ter educação, a respeitar as pessoas e os professores”, diz ele, que sonha em ser jogador de futebol.

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Já o seu colega, Carlos Kaique, 10 anos, está há apenas três semanas participando do Move Vidas. Mas achou um lugar que, tanto quanto ele, preza pela preservação da natureza. Tanto é que ele despertou o desejo de servir a Marinha quando crescer. “Não é só pra proteger a nação. Eu gosto muito do mar, dos animais aquáticos. Aqui no projeto a gente aprende muito isso, a cuidar da natureza, a respeitar as pessoas, as plantas e os animais”, contou ele.

Foto: Giselle Ulbrich/Tribuna do Paraná.

Adultos também!

Não são somente as crianças que são beneficiadas pelo Move Vidas, que funciona na comunidade Abraão, no bairro Caximba, em Curitiba, e que é coordenado pela Luzia de Andrade, a professora Gaivota. Nas segundas, quartas e sextas-feiras, o projeto atende os adultos da comunidade. Gaivota faz reuniões com as mães, as leva para andar entre as árvores da chácara enquanto conversa sobre assuntos diversos da vida. Ajuda de todas as formas que pode, dando uma palavra de atenção a quem chega lá depressivo, nervoso ou perdido com alguma situação (não necessariamente só os pais das crianças atendidas).

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Como na região a energia é instável e queima os aparelhos eletrônicos, Gaivota sempre doa à comunidade alimentos perecíveis que ganha, antes que estraguem, pois não consegue conservá- -los na geladeira. A água lá também fica muitos dias sem vir e Gaivota, com a ajuda dos pais e das crianças, criou um sistema de captação de água de chuva para abastecer a chácara. Para ajudar nas despesas ela também faz um bazar mensal com as roupas doadas, no qual consegue cerca de R$ 500. “Críticas sempre vão existir ao nosso trabalho. Mas usamos todas como degrau para melhorar”, analisa a professora.

Resgate!

Quem chegou ao Move Vidas precisando de muita ajuda foi a dona de casa Matilde Galvão, 44 anos. Fazia três meses que ela tinha perdido a mãe e estava numa enorme depressão. Não sabia que tinha esse projeto tão perto de sua casa, até receber a indicação de uma vizinha. Foi lá para receber ajuda psicológica. Gaivota a acolheu, conversou e mostrou o local à moradora da comunidade.

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“Com o passar da conversa fui me acalmando. Foi quando eu encontrei a paz, a amizade, voltei a ficar de bem com a vida. Hoje eu saio de casa, tenho amigos. Saí daquele desânimo e depressão e me sinto feliz. A Gaivota é uma pessoa de coração enorme, tenho muita gratidão”, disse ela.

O início

Gaivota é de Assis Chateaubriand, no Oeste do Paraná. O pai dela era alcoólatra e a mãe trabalhava dia e noite, para cuidar e sustentar os filhos. Para não ficar na rua, Gaivota participava de um projeto social muito parecido com o que ela desenvolve hoje. “Lá eu consegui o meu primeiro emprego, aos 11 anos, ajudando a cuidar de uma idosa que tinha quebrado o pé. Lá eu tive a minha primeira boneca, daquelas de plástico verde. Isso tudo ficou muito marcado na minha vida e percebi o quanto essas coisas fazem a diferença na vida de uma criança. Foi isso que me incentivou a criar o projeto Move Vidas”, conta.

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“Eu acredito no que eu faço. Na transformação do ser humano, porque estimulamos e ensinamos o ser humano a se mover sozinho, por isso o nome Move Vidas. Essa indicação ao prêmio me traz uma felicidade e satisfação enorme. Mas também me dá medo, porque aumenta a minha responsabilidade. Quero agradecer os pais e voluntários. Sem eles, o projeto não caminha”, diz Luzia.

Prêmio Bom Exemplo

Clique aqui e vote em um dos projetos que concorrem ao Prêmio Bom Exemplo.

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