A história da família Boscardin com certeza é a história do surgimento do bairro tipicamente italiano de Santa Felicidade. Vindos da Itália, com muito trabalho e dedicação, mas também muita dificuldade, construíram em terras curitibanas o patrimônio passado de geração para geração.

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Pequena cachoeira é testemunha da chegada dos imigrantes italianos e deu origem ao bairro Cascatinha. Foto Ciciro Back.
Pequena cachoeira é testemunha da chegada dos imigrantes italianos e deu origem ao bairro Cascatinha. Foto Ciciro Back.

Bertilla Boscardin, 75 anos, conta com saudade dos tempos de infância e juventude vividos na Casa dos Gerâneos, no bairro Cascatinha, antiga Colônia de Santa Felicidade. Neta de italianos, filha mais nova de uma família de 13 irmãos, ela relembra muitos detalhes de tudo o que viveu. “Meus avós vieram para cá já com a intenção de fazer um moinho. Eles trouxeram milho branco para moer e fazer a tradicional polenta italiana. E nós vivemos muito bem aqui. Adorava sair com os meus pais quando eles iam fazer as entregas na cidade. Minha mãe carregava na carroça verduras, frutas, lenha e eu ia com ela”, conta.

Conheceu seu marido Nilto Pereira, que morreu em 2003, nas cascatas do Restaurante Cascatinha. Na época, ela relembra, quando sobrava um pouco mais de dinheiro dava para ir aos dois cinemas que tinham no bairro, mas quando isso não acontecia, o programa predileto dos jovens era frequentar o recanto. “Era era muito nova na época, tinha 12 ou 13 anos. Ele era mais uns 8 anos mais velho. Então eu não queria nada e fugia dele. Mas ele insistiu, passou a frequentar os bailes que eu ia com os meus irmãos. Ele insistiu, insistiu até que deu certo e começamos a namorar”, relembra.

Casaram em 1958, quando Bertilla tinha 17 anos. Tem dois filhos e uma filha adotiva, quatro netos e dois bisnetos. Do que ela mais sente falta? Do tempo em que as famílias e os amigos se visitavam com frequência. “Eu desejaria voltar no passado. Tínhamos muita amizade, convivíamos mais, mas hoje em dia a televisão afastou as famílias e as pessoas não conversam mais”, observa.

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Sucesso tradicional

Com cardápio típico italiano (risoto, polenta e frango), o Restaurante Cascatinha é um dos mais antigos em funcionamento na região de Santa Felicidade. Aberto em 1949, sua história se confunde com a da família Trevisan, que comanda o espaço até hoje. “Em 1946 meu pai Eugênio Trevisan e meu tio Pedro compraram o moinho de milho e trigo que tinha no terreno”, conta o atual proprietário, Altevir Trevisan.

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“Três anos depois, com o dinheiro que guardaram do tempo que trabalharam no exército e junto com as respectivas esposas Alice e Palmira abriram na beira da antiga Estrada do Cerne um bar e sorveteria onde serviam sonhos, pastéis, empadas e sorvetes, além de pratos feitos à base de risoto e frango a passarinho para os caminhoneiros que saiam do norte do Paraná em direção à Paranaguá levando café e madeira. Aos domingos muitas famílias aproveitavam o bosque e a cascata para os piqueniques de domingo. De noite era servida comida italiana para quem morava em Curitiba. Era o ponto de encontro na época”, recorda Altevir, que diz ter nascido dentro do restaurante.

Com a criação da Rodovia do Café nos anos 60, o movimento de caminhões diminuiu muito. A partir de então começou um movimento muito forte de turistas viajando de carro e, com o novo asfalto da Avenida Manoel Ribas, muitos curitibanos também passaram a frequentar o bairro.

“Tudo era muito diferente. Aqui não tinha nada ao redor. Nós plantávamos as verduras e fazíamos o extrato de tomate. A gente criava e abatia os próprios frangos. Tínhamos os parreirais e produzíamos o vinho. Hoje tudo ficou mais fácil e prático. Então com certeza nossa história, a história do restaurante é sinônimo de trabalho. Somos vencedores porque até hoje conseguimos preservar o que os nossos pais construíram do nada”, afirma Altevir.

Ex-Colônia

A região onde se encontra o bairro Cascatinha fazia parte, no final do século passado, da Colônia de Santa Felicidade. E, como não podia deixar de ser, também foi colonizado por imigrantes italianos. O nome do bairro foi dado devido à pequena cascata que até hoje existe no terreno onde foi construído o famoso restaurante Cascatinha. “Antigamente essa região não tinha absolutamente nada. Nossos pais começaram a construir tudo. Fizeram a capela São Judas Tadeu, a antiga escola e criaram o Cascatinha Futebol Clube”, conta Altevir Trevisan, dono do Restaurante Cascatinha.

Altevir Trevisan comanda o Restaurante Cascatinha, aberto em 1949. Foto Ciciro Back.