Tem uma máxima no mundo do esporte que brinca com a paixão nacional do brasileiro, o futebol, para explicar o que é o rugby: o futebol seria um esporte de cavalheiros jogado por brutos enquanto o rugby, um esporte de brutos jogados por cavalheiros. A exaltação de valores do cavalheirismo é, de forma indireta, uma das formas de explicar o sucesso do projeto Vivendo O Rugby (VOR), do Curitiba Rugby Clube (CRC).
Criado em 2008, um ano antes de a modalidade com a bola oval voltar aos Jogos Olímpicos, o projeto atendeu aproximadamente 6 mil crianças de escolas estaduais e municipais de Curitiba, para ensiná-las não só as regras desse esporte, mas especialmente os valores em torno da prática: respeito, amizade, integridade, paixão e disciplina.
“O foco principal é otimizar o tempo da criança no contraturno escolar e desenvolver atividades físicas e de formação, que possam usar não só no CRC, mas, principalmente, no seu dia a dia”, explica a coordenadora do Vivendo O Rugby, Wanderleia Jentzsch, a Leca.
Ela destaca que é comum ouvir relatos de professores e familiares comentando a melhora das notas das crianças na escola após começar a participar do VOR. “Muito aluno que tinha fama de ser uma liderança negativa muda atitude para uma liderança positiva em seu grupo. E isso para nós é o que mais importa”, conta.
Além de terem uma atividade física com o acompanhamento de dez professores, para a qual são levadas de ônibus até o campo de treinamento do CRC, na sede do Paraná Esporte, no bairro Tarumã, alguns veem no projeto uma oportunidade de seguir carreira como atleta.
É o caso da estudante Maysa Fernandes da Silva, 13 anos. Ela entrou no VOR no início de 2014 e foi convidada, mês passado, a participar dos treinamento com o time feminino juvenil. “É um esporte que tem espaço para os mais rápidos ou os mais fortes, há sempre um lugar no campo para você”, conta a garota, que tem exemplos dentro da equipe da evolução: o CRC tem jogadores da seleção brasileira e vários já recebem incentivos, como bolsas de treinamento dos governos estadual e federal.
Projeto premiado
O Vivendo o Rugby tem reconhecimento da comunidade do rugby internacional. Há um ano, o projeto curitibano ganhou o prêmio Spirit of Rugby (“Espírito do Rugby”), oferecido pela International Rugby Board, autoridade máxima do esporte no mundo.
A honraria é dada a clubes ou entidades que auxiliem na difusão dos valores do esporte em todo o planeta. O VOR, conta Leca, nasceu a partir de estudos de metodologias do ensino do rugby para crianças pelo mundo para criar um formato que atendesse às necessidades da proposta em Curitiba.
Em 2015, cerca de 1,3 mil crianças de 9 a 15 anos participaram do projeto. Atualmente, empresas como a Volvo e a Concessionária CCR apoiam o VOR, que conta também com parcerias com a Secretaria Municipal da Educação, Curitiba Rugby Clube, Paraná Esporte, Federação Paranaense e Confederação Brasileira de Rugby.
Esporte com paixão
Muito contato físico e tombos causam a impressão de que o rugby é um jogo violento. A jogadora Manoela Canali Pilar, 19 anos, conta que essa impressão é desfeita logo nas primeiras jogadas. “Até acontecem choques mais fortes ou lesões, mas é uma fatalidade. Aprendemos a nos defender dos encontrões, a cair”, diz a atleta, que diz ter se apaixonado “à primeira vista” pelo esporte.
“Uma amiga jogava e me convidou para vir ao treino. Nem sabia o que era. E agora, toda minha vida, meu círculo de amizades é em torno do rugby. E como é uma modalidade ainda em crescimento, pensar em termos de chegar à seleção é muito possível e um incentivo”, fala.
O Curitiba Rugby Clube é uma das equipes de referência no Paraná, campeão brasileiro de Rugby XV, no masculino, e campeão paranaense em todas as categorias. O esporte é disputado em dois formatos: o mais tradicional, Quinze, em que cada time joga com 15 jogadores, e o Sevens, com sete jogadores de cada lado e que será disputado nos Jogos Olímpicos de 2016.
Apesar de pouco popular no Brasil, a Copa do Mundo de Rugby é o terceiro maior evento esportivo do planeta. A principal regra do jogo com a bola oval mostra o caráter coletivo do jogo: não é permitido lançar a bola para frente, apenas lateralmente e para trás, o que exige cooperação de toda a equipe.
Também é tradicional na modalidade o “terceiro tempo”, que é uma confraternização entre os times após a partida, independente do vencedor. Assim, a rivalidade acaba junto com o apito final e exalta o valor da amizade no esporte.