Esporte perigoso

Vizinhos reclamam de lixo, drogas e assaltos na região do complexo da Secretaria Estadual de Esporte e Turismo, no Capão da Imbuia. Foto: Felipe Rosa
Vizinhos reclamam de lixo, drogas e assaltos na região do complexo da Secretaria Estadual de Esporte e Turismo, no Capão da Imbuia. Foto: Felipe Rosa

A atual sede da Secretaria Estadual de Esporte e Turismo (SEET) já foi referência nacional na prática esportiva, não só para atletas, mas também para a comunidade do Capão da Imbuia, onde está localizada, que usa o local para se exercitar. Mas atualmente as pessoas já não enxergam o local da mesma forma. A população reclama do mato alto e acúmulo de lixo e entulhos ao redor do terreno – que já foi uma Universidade do Esporte – e também da falta de manutenção e da insegurança dentro e fora do complexo.

O comerciante Rodolfo Camargo, 59 anos, que mora na Rua Professora Antônia Reginato Vianna, reclama dos entulhos e do mato alto no entorno da secretaria e da falta de calçada. “Não tem onde o pedestre andar. O pessoal vem ali do mercado, com sacolas na mão. Ou entram dentro do mato e se equilibram em cima dos entulhos, ou são atropelados”, aponta Rodolfo, mostrando que a situação está pior na Rua Araguaia. A sede ocupa quase a quadra toda.

Medo de estupro

Foto: Felipe Rosa
Luciane conta que já tebe uma tentativa de estupro nos arredores da secretaria. Foto: Felipe Rosa

A técnica de enfermagem Luciane Correia Barbosa, 43, teme passar nos arredores da secretaria, principalmente na Rua Araguaia, onde fica muito escuro à noite. “Saio às 6h para pegar o ônibus e tenho muito receio de passar por aqui. Mas venho porque preciso”, fala. Ela conta que, no mês passado, houve uma tentativa de estupro dentro do prédio, contra uma mulher de meia idade, no meio da manhã.

As portarias do complexo esportivo não têm controle de entrada e saída e os palitos do muro foram quebrados, permitindo que qualquer pessoa entre por ali a qualquer momento. “Maloqueiros dormem nos contêineres. Não venho mais caminhar aí porque o próprio segurança pediu para não andar por aqui no fim da tarde e à noite, por causa dos marginais. Eu vinha trazer minha filha de 10 anos no vôlei. Também não venho mais. Não há segurança, são os próprios pais que fazem a segurança das crianças e jovens aqui”, diz.

O local fica próximo à Delegacia de Estelionato. Mas vizinhos reclamam que, apesar da presença policial, o tráfico de drogas corre solto na região.

Iniciativa privada, conservação em dia

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

A Secretaria de Esporte cede os seus ginásios e campos a vários clubes e confederações para treinos. Nos locais específicos onde a iniciativa privada atua, a conservação está razoável ou boa. Um exemplo é o ginásio de vôlei, onde funciona o Instituto Compartilhar, projeto do técnico da seleção feminina de vôlei, Bernardinho, que dá aulas diárias a crianças e adolescentes. A manutenção do ginásio é bancada pelo instituto e por isso está em ordem. Mas enquanto não há aulas, o material esportivo fica trancado num contêiner ao lado, para não ser furtado, mesmo que as portas do ginásio sejam trancadas após os treinos. No ginásio onde ocorrem os treinos de ginástica artística, a manutenção e segurança ficam por conta da Confederação de Ginástica.

Manutenção do próprio bolso

A manutenção do ginásio é bancada pelo instituto e por isso está em ordem. Foto: Felipe Rosa.
A manutenção do ginásio é bancada pelo instituto e por isso está em ordem. Foto: Felipe Rosa.

O clube Curitiba Rugby treina seus atletas no gramado cedido pela Seet. Mas o preparador físico da equipe, André Oliveira, 31, comenta que muitas vezes a manutenção do campo é por conta do clube. Quando a Tribuna do Paraná chegou ao local, encontrou uma grande equipe cortando a grama. “Hoje a manutenção está sendo feita pela SEET. Mas, em outras vezes, os atletas fazem uma ‘vaquinha’ para pagar o corte da grama”, explica o preparador, mostrando também a falta de banheiros perto do campo. “Quando precisamos, temos que ir lá do outro lado do terreno”.

Enquanto treinam, os atletas não podem tirar a atenção dos pertences pessoais e bicicletas, que ficam numa mesa à beira do campo, pois não há onde guardar os objetos. “Os marginais entram pelas partes do muro que estão quebradas, passam ali pela beirada da mesa. Se a gente se distrai, eles mexem nas mochilas e levam embora. Ou ficam ali nas arquibancadas, nos cantos do gramado, usando drogas. Por ser um local pertencente ao governo, deveria ser obrigação do Estado manter a segurança aqui”, analisa André.

Arrombamentos e furtos constantes

A Secretaria de Esporte emprestou algumas salas às confederações e clubes, para que possam administrar os treinos e equipes. Todas já foram arrombadas. Algumas colocaram grades, para evitar os furtos. Outras tiram dinheiro da confederação para pagar alarmes e segurança monitorada.

Na Confederação de Golfe, bandidos já entraram de caminhonete durante um feriado e carregaram tudo o que podiam da sede. Os funcionários têm tanto medo de assaltos que trabalham de portas trancadas. Quando algum funcionário fica sozinho no local, a ordem é não abrir a porta para ninguém.

“O segurança aqui é sozinho e anda desarmado. Não tem controle da entrada e saída de ninguém. Nos pediram para iluminar aqui os fundos da sede, porque é muito escuro à noite. Colocamos lâmpadas em todo o redor. No dia seguinte chegamos e não tinha nenhuma lâmpada mais”, relata o funcionário de um dos clubes, que pediu para não ser identificado. “Vemos que não é falta de vontade da secretaria em melhorar a estrutura, a manutenção e segurança. Mas também entendemos que falta dinheiro”, lamenta.

Parcerias e limitações orçamentárias

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

Em nota, a SEET alega que a manutenção da área externa (mato alto, lixo e iluminação) é de responsabilidade do município e a segurança na via pública fica a cargo da Polícia Militar. Em relação aos equipamentos internos, há diversos projetos sendo desenvolvidos pelas federações e instituições que utilizam prédios que englobam a secretaria. “A contrapartida para o uso é justamente a manutenção adequada dos ginásios, campos e quadras, além do desenvolvimento de projetos sociais. De todo modo, a SEET também faz trabalhos de manutenção nesses prédios, como, por exemplo, a troca recente de vidros no ginásio utilizado pelo Instituto Compartilhar”, explica.

O órgão promete trocar toda a academia ao ar livre (da melhor idade) até o fim da próxima semana. Quanto ao ginásio utilizado há pouco tempo pela ginástica rítmica e pelos atletas da bocha paralímpica, a pasta informa que passou por limpeza e será revitalizado conforme as possibilidades licitatórias e financeiras. “Ao longo de toda a área, são disponibilizadas, pelas instituições parceiras, escolinhas, aulas e projetos sociais de vôlei, ginástica artística, ginástica rítmica, rugby, futebol, taekwondo e tai chi chuan, respeitando as faixas etárias e a disponibilidade de vagas”, detalha.

O prédio administrativo encerra suas atividades em horário comercial, às 18h, mas a secretaria cita que há segurança 24 horas na portaria principal. “Em virtude do tamanho do terreno, busca-se alternativas para a melhoria dessa cobertura no futuro”, revela.

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