Km 31 da Estrada do Cerne, Bateias, distrito de Campo Largo, Região Metropolitana de Curitiba. Este é o endereço de um projeto que existe há quase 30 anos e que, todos os sábados, faz a vida de crianças de seis a 12 anos mais feliz. O nome da instituição é Recriança e surgiu para justamente suprir as necessidades da região em que foi instalada, que não só é carente como também está afastada, na área rural.
Presidente da instituição há 28 anos, a aposentada Regina Ferreira descobriu o Recriança por acaso e fez do projeto a sua história. “Fui conhecer e acabei ficando”, brincou ela, com o amor que transparece nos olhos. Ela fez da ação social seu maior objetivo de vida. “Estas crianças acabam sendo, para sempre, meus filhos do coração. O projeto é meu objetivo de vida e sou grata a Deus por permitir manter, pois não sei o que seria da minha vida se não estivesse aqui”.
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Quando surgiu, o Recriança veio para suprir a necessidade da região, que é carente de órgãos que atendam famílias e crianças menos favorecidas. “Começamos visitando as casas e agregando as crianças, as famílias e sentimos a necessidade de construir um espaço que permitisse que oferecêssemos alguma coisa para diminuir essa situação. Foi aí que vimos nessa chácara, que era do meu marido, o melhor lugar”, contou Regina.
No espaço, todos os sábados, os voluntários oferecem aulas de informática e de sociabilização. “As nossas ações são sempre aos sábados, porque carecemos de ajuda, que vem somente de voluntários, então não temos condições de fazer todos os dias. Mas o nosso serviço é mais para convivência e fortalecimento de vínculos, então funciona muito bem como está sendo feito também”.
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A cada dia, são oferecidas oficinas diferentes, mas duas delas são fixas: a de informática e a de lixo reciclável. “Todas as crianças passam pelas quatro oficinas que são oferecidas, em esquema de revezamento entre as turmas. Como não somos escola, não podemos dar aula, então trabalhamos de forma lúdica”.
Ao todo, são 45 crianças, de seis a 12 anos, todas moradoras de Bateias, atendidas pelo projeto. Para participar, uma das principais condições é que a criança esteja matriculada na rede municipal de ensino e frequentando. “Oferecemos somente estas vagas por ano, pois essa é a capacidade do ônibus que faz o transporte das crianças. O mais legal é ver que a desistência é mínima, então durante o ano a chance de entrar novas crianças é muito pequena. Os novos precisam esperar os atuais completarem 12 anos para conseguirem entrar”, comentou Regina, explicando que as crianças são atendidas pelo projeto por seis anos.
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Totalmente mantido pelos voluntários, o projeto sobrevive de doações. “Fazemos um pouco de tudo para conseguir manter, porque esse tem sido o meu único objetivo de vida mesmo e acabou sendo de quem participa comigo. Além das doações, temos um bazar que fazemos a cada dois meses e nos ajuda. Também fazemos campanhas pontuais de arrecadação de alimento, que vem para ajudar em nossa existência”.
O amor salva
“As crianças se sentem acolhidas, amadas. Sinto que as crianças vêm em busca do que elas não têm em casa, que é um abraço, um beijo, aquele carinho de se preocupar mesmo com eles. Essa troca é muito importante. A criança não pede nada, só quer o seu abraço, a sua atenção”.
É dessa forma, com muita gratidão e com sorriso no rosto, que a pequena Isabele Sofia dos Santos, de 10 anos, fala do quanto gosta de participar do Recriança. “É muito legal, muito bom vir aqui, tem muita amizade, pessoas diferentes”, comenta a menina que, apesar da pouca idade, já percebeu mudanças não só nela, mas nos colegas. “Tinha criança que não sabia fazer nada e aqui aprendem, principalmente, a cuidar das plantas, a não jogar lixo no chão. Eu mesmo aprendi a ter educação, fazer amizade, não se meter em confusão e todo mundo vem aqui aprende a escrever, ler, reciclagem, é muito bom”.
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A menina, que estuda regularmente e é uma das crianças mais ativas no Recriança, faz aulas de balé e sabe o que quer ser quando crescer. “Dançarina. Como faço aula de balé, quero seguir”, disse Isabele, deixando claro também que, daqui dois anos, quando acabar seu período no projeto, não quer ir embora. “Vou querer ajudar a tia Regina a cuidar de tudo aqui”.
Raízes firmadas
Ivanete Ribeiro dos Santos, 53 anos, é um claro exemplo de quanto o projeto mudou não só sua própria vida, mas também a de sua família. Há 14 anos ao lado de Regina, Ivanete é responsável pela comida servida às crianças e já viu passar por ali seus quatro filhos. “Eu digo que participar do projeto mudou muito a minha vida, porque antes eu ficava em casa. Me acostumei com as crianças, com as famílias. Todos os sábados eu sei que tenho um compromisso e quando chega as férias parece que falta alguma coisa”.
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Enquanto mexia uma das panelas da cozinha, já preparando o almoço da criançada, Ivanete contou que seus quatro filhos foram atendidos pelo Recriança e que uma delas continua até hoje. “Meus filhos mudaram muito, eram crianças desinteressadas e quando começaram a participar passaram a dar mais valor às coisas. Hoje uma das minhas filhas é responsável por uma das oficinas”.
Com sorriso no rosto, Ivanete disse à Tribuna que no projeto as crianças aprendem a valorizar o que têm. “E também aprendem a ser agradecidos pelo que têm. Aqui a gente vê que reclama da vida, mas tem gente muito pior do que a gente”, comentou ela, concluindo que, nestes 14 anos, além de tempero, ingredientes, coloca outros dois itens muito importantes na comida que serve à criançada. “A receita da comida vem com amor e muita força de vontade, porque isso não me falta”.
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Como ajudar?
Por depender de doações, o projeto sempre precisa de ajuda. Para contribuir, é só entrar em contato pelo telefone (41) 3648-1400. Junto disso, no próximo dia 8 de setembro, um bazar com roupas, calçados, brinquedos, utilidades domésticas e muito outros produtos, que chegaram ao projeto através de doações e vão ser vendidos no barracão do Recriança, das 9h ao meio-dia.
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