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Tocar piano e teclado, como lazer e também meio de sustento, é a paixão do músico e funcionário público Fabiano Clauber, 33 anos, morador de Campo Largo. Talentoso e concorrido por muitas noivas, ele chega a fazer até três casamentos num só dia de trabalho. Mas todo este talento está ameaçado por uma doença degenerativa que está se desenvolvendo em seus olhos, o ceratocone. O músico corre contra o tempo para conseguir pouco mais de R$ 15 mil e fazer uma cirurgia, que tem grande probabilidade de lhe devolver 80 a 90% da visão normal.

O ceratocone atinge a córnea, fazendo com que, ao invés de curva, ela fique mais cônica e cheia de irregularidades. Se não tratado em tempo, o paciente pode até perder a visão, notícia que deu um “baque” em Fabiano e o fez buscar ajuda psicológica. Fabiano também tem astigmatismo e estrabismo, o que o faz enxergar múltiplas imagens da mesma coisa. É como assistir um filme 3D, porém sem os óculos especiais (só que Fabiano enxerga bem pior que isto). E cada vez mais está se tornando difícil dirigir e trabalhar. “Às vezes eu até arrisco dirigir aqui na cidade, de dia. Mas na estrada ou à noite, minha esposa é que dirige”, lamenta.

Confundido

Fabiano descobriu a doença há seis anos.

Fabiano descobriu a doença há seis anos, mas não dava muita bola no início, pensando que era apenas uma evolução do astigmatismo e do estrabismo. Desconfiou que podia ser algo mais sério quando sentiu dificuldade em ler livros, outra coisa que ele gosta muito de fazer. Depois, veio a dificuldade de enxergar a tela do computador até que, em setembro do ano passado, já não conseguia mais enxergar as partituras de música no tablet.

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A dificuldade fez ele perder muitos trabalhos como músico, dinheiro que inteirava o orçamento da casa, junto com seu salário de funcionário público municipal. Ele diz que já chegou a fazer quatro casamentos numa só semana. Agora, não faz mais que um. “Os trabalhos em que eu toco sozinho e que eu sei as músicas de cabeça, ainda consigo fazer. Mas os trabalhos em grupo, em que cada um tem uma parte e eu tenho que seguir as anotações e partituras, eu não consigo mais. Algumas empresas de eventos para as quais eu trabalhava já nem me chamam mais”, conta.

Cirurgia custa R$ 15 mil

A dificuldade fez ele perder muitos trabalhos como músico. Foto: Gerson Klaina

Em janeiro deste ano, o músico Fabiano Clauber começou a usar um tipo de lente de contato semirrígida, específica para pacientes com ceratocone, que lhe custaram R$ 700. A lente “empurra” as deformidades da córnea para dentro, para que a membrana volte ao formato normal. Mas, com uma semana de uso, Fabiano não se adaptou a elas. “Pra ele, o mundo tinha acabado ali”, relata a esposa Juliane Ianoski, 34.

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Até então, o artista achava que esta era a única alternativa que tinha para enxergar e se desesperou, achando que ficaria cego. Mas sua esposa o incentivou a procurar outro médico, no Hospital de Olhos de Curitiba. Foi nesta nova consulta que descobriram que ele poderia fazer uma cirurgia para implantar o chamado Anel de Ferrara/Keraring, entre as camadas da córnea. É como se fosse outro tipo de lente, que age um pouco diferente das rígidas que ele tentou usar.

A cirurgia, disse Fabiano, custa R$ 7.700 em cada olho, ou seja, R$ 15.400, sem contar os exames e consultas. Ele até recorreu ao site vakinha.com.br, para conseguir doações. “No site, o valor total está em R$ 13 mil, pois quando fiz o cadastro (em 22 de abril), a cirurgia estava custando R$ 6.500 em cada olho. Depois disto, houve reajuste. Mas eu preferi não mudar o valor que tinha colocado lá porque acho sacanagem com quem já contribuiu”, explica o músico. Ele conseguiu, até agora, pouco mais de R$ 700, ou seja, apenas 5% do que precisa. “Senti muita confiança neste novo médico que nos atendeu. Ele disse que há casos bem mais graves do que o do Fabiano, e as pessoas voltaram a enxergar. Estou certa que a cirurgia vai dar certo”, diz Juliane, com lágrimas nos olhos, ao ouvir o companheiro tocando piano: “Isso me dá paz”, fala ela, que adora quando ele toca “Como é grande o meu amor por você”, do Roberto Carlos.

Dificuldade financeira

Esposa de Fabiano está desempregada e o salário dele é a única fonte de renda da família. Foto: Gerson Klaina.

Os problemas de Fabiano e Juliane vão um pouco além. Juliane está desempregada e a casa depende somente do salário de Fabiano, que trabalha no setor de finanças da Secretaria de Segurança Pública de Campo Largo. Como ele está pegando menos trabalhos como músico, o orçamento apertou mais ainda. Na semana retrasada, cortaram a luz da residência do casal. “Mas daí a gente tira dinheiro de uma coisa e coloca na outra, e assim vai levando até que tudo se resolva”, afirma Juliane.

Fabiano está fazendo tratamento com duas psicólogas, para conseguir atravessar a dificuldade que está passando sem “desmoronar”. Além de não poder mais enxergar as partituras, ele também se sente mal por ver que boa parte do seu trabalho está sendo delegada a outros colegas, na Secretaria de Segurança de Campo Largo, já que ele não enxerga mais o computador. Ele usa a tela com zoom de 180% e, mesmo assim, já não pode ver mais quase nada.

Projeto de rock no piano

Fabiano Clauber tem um projeto de levar os clássicos do rock (Queen, Pink Floyd, AC/DC, entre outros) para o piano. Ele já até conseguiu que um amigo, que possui um pequeno estúdio, grave e edite os vídeos, para que ele poste na internet.

O pianista se tornou músico profissional aos 14 anos, quando conseguiu seu credenciamento junto à Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), em 1994. Na época, foi o músico mais novo da OMB/PR a ser intitulado profissional. A partir de então, passou a tocar sozinho, em bandas, em barzinhos, eventos e mais intensamente em casamentos, nos últimos três anos. Desde esta época já usava óculos, por causa do astigmatismo e estrabismo. Mas ainda não havia sinais do ceratocone.

Veja Fabiano tocando Let it Be dos Beatles:

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