Uma edificação sólida, que resiste à lentidão das ações públicas em prol do aproveitamento de espaços históricos. Esse é o retrato da condição atual da Casa Cini, antiga ferraria do século XIX erguida na Rua Eduardo Sprada, no Campo Comprido. Só que ao contrário de outros endereços igualmente abandonados e escondidos em meio ao mato alto, a construção inspira sonhos e projetos tanto da comunidade do entorno, quanto de entidades como o Sindicato dos Arquitetos (Sindarq), Associação dos Proprietários de Áreas Verdes de Curitiba (Apav) e a Associação de Moradores do Campo Comprido, Mossunguê, Ecoville e Barigui do Seminário (Amorville).
Essas organizações, há quase três anos, aguardam uma resposta do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), que responde pelo imóvel, para poder recuperar a construção e transformá-la em um espaço de convivência para os habitantes da região. A história foi mostrada pela Tribuna na edição regional de Santa Felicidade, que circula desde o último sábado.
A arquiteta responsável pela última revitalização do imóvel, que precedeu a entrega da Casa Cini para o município, e atual diretora financeira do Sindicato dos Arquitetos (Sindarq), Ana Carmen de Oliveira, acompanha há duas décadas a deterioração do patrimônio, enquanto o projeto de restauração fica na gaveta. “A última reforma foi conduzida por mim, em 1994, quando a família Cini resolveu doar para o município em troca de potencial construtivo. Foi um trabalho muito cuidadoso, a escada inteira de madeira de peroba ficou linda, mas isso tudo foi se perdendo com o abandono, as frequentes invasões e até um incêndio que destruiu parte do telhado”, constata.
Outra entusiasta da reativação do espaço, a presidente da Amorville, Lais Bacilla, desde 2006 encabeça uma série de iniciativas para garantir inúmeras atividades no endereço. “Estamos no início de uma estrada (Cerne) por onde a história de Curitiba começou. A Eduardo Sprada é tombada, mas não há nenhum centro cultural da região para resgatar o legado dos colonos que puxavam carroça e paravam aqui na Casa Cini”, defende.
Além de reservar um espaço para o acervo das famílias de colonizadores poloneses e italianos (muitas delas ainda residem na região), as entidades envolvidas também pretendem utilizar a casa de 90 metros quadrados de área útil e os 180 metros quadrados de terreno que se estende pelas margens do Rio Piquiri para abrigar uma biblioteca, cursos e atividades de preservação ambiental. “A grande população de idosos dos bairros da região também terá vez nesses projetos”, acrescenta Lais.
A arquiteta Ana estima que a recuperação do espaço deve consumir em torno de R$ 250 mil. Leis de incentivo e ações junto a comunidade proveriam parte desses recursos, mas todas essas ações dependem da autorização do Ippuc.
Segundo o Ippuc, existe um projeto próprio que está sendo com o objetivo de restaurar a Casa Cini e revitalizar a região de entorno, assegurando que se consolide como área de preservação ambiental. Como a casa terá importante função nesse processo de revitalização do local, ela não foi cedida para terceiros. Ainda conforme o Ippuc,toda e qualquer parceria do município com entidades poderá ser avaliada em fase posterior.