As pessoas que vivem nas Moradias Olaria, no bairro Campina do Siqueira, já não sabem mais o que fazer para evitar que ruas e casas não sejam alagadas sempre que chove mais forte. As obras realizadas pela Prefeitura de Curitiba minimizaram o problema, mas não acabaram com as frequentes inundações que atingem a região desde a implantação do conjunto da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) em 1976.
“São 83 casas e mais de 40% delas foram construídas quase um metro abaixo do nível do rio. Assim, qualquer chuva enche o rio e alaga tudo. Além de perder móveis e tudo que temos em casa, outro problema decorrente disso, por exemplo, é a desvalorização dos imóveis, já que estamos caracterizados como área de enchente”, explica o presidente da Associação de Moradores e Empresários do Bigorrilho e Campina do Siqueira (Abicam), Paulo Enéas Borges Bueno Netto. Segundo a prefeitura, a Regional Santa Felicidade não tem registro de alagamentos desde o último semestre de 2014. Além da água do rio que enche ruas e casas, os moradores também precisam conviver com o esgoto e a sujeira que vem junto com a água.
Casa abaixo
Cansado de perder tudo o que tinha, o morador José Cardoso de Novaes, 71, foi o primeiro a demolir a casa onde morava para construir outra acima do nível do rio. “Arrumei financiamento, vendi carro e me endividei para poder levantar a minha nova casa. Agora pelo menos a água não entra dentro de casa”, conta José. O mesmo aconteceu com outros moradores, como o vendedor Paulo Fernando, 57. Ele se mudou para o conjunto em 1999 e já foi atingido por uma grande enchente no mesmo ano, quando registrou cerca de 1,20 metro de água dentro de casa. “A gente perdeu todos os móveis, não sobrou nada”, relata.
À espera da solução
Ao todo, 67 casas precisaram ser reconstruídas acima do nível do rio, mas os moradores ainda não possuem os documentos das casas que foram levantadas porque o processo é muito caro e burocrático. “Eu cansei de perder tudo sempre que chovia e ter que comprar tudo de novo. Estou construindo a minha casa há dois anos, mas faltou dinheiro para terminar. Eles prometem demais. Então nós fizemos certo em levantar nossas casas porque não dá para esperar as autoridades”, diz a vendedora Zelda Schineider Barbosa, 63 anos.
Para resolver o problema, a prefeitura desenvolveu um projeto dividido em etapas. A primeira parte das obras consistia em afundar e alargar as margens do rio Barigui. Na última semana de janeiro foi aberta licitação para contratação da 2º etapa da obra Conduto Forçado Conjunto Olaria, mas não houve participantes. Em nota, a prefeitura afirma que está aguardando os procedimentos legais de encerramento do processo licitatório com a definição do encaminhamento a ser adotado com a urgência necessária e atender a demanda. “Eles me deram uma planta, mas eu só podia levantar a casa mais 80 cm. Eu vou fazer isso e não vai resolver nada. A gente perde tudo, mas não perde a vontade de viver”, conta o aposentado José Nunes, 70 anos.