Tá lento!

As obras na trincheira da Avenida Jornalista Aderbal Gaertner Stresser, que passa por baixo da BR-277 e liga os bairros Uberaba e Cajuru, finalmente ficaram prontas. Os trabalhos estavam parados desde junho de 2016, foram retomados pela Prefeitura de Curitiba no início de janeiro – com investimento de R$ 3,6 milhões – e concluídos no último dia 29 de junho.

Após a obra na trincheira, marginal vive engarrafada nos horários de pico. Foto: Felipe Rosa
Após a obra na trincheira, marginal vive engarrafada nos horários de pico. Foto: Felipe Rosa

Asfalto feito, paisagismo realizado e sinalização concluída, a promessa da administração municipal era melhorar o trânsito na região. Mas será que o objetivo foi atingido? De acordo com a prefeitura, a intervenção beneficiou diretamente 183,9 mil moradores do Cajuru e Uberaba, além dos milhares de motoristas que cruzam a BR-277 diariamente. Os Caçadores de Notícias passaram pelo local no final da tarde para conferir a situação.

Marcos: Tirou o engarrafamento que se formava na BR no fim da tarde e transferiu aqui para a marginal. Foto: Felipe Rosa
Marcos: Tirou o engarrafamento que se formava na BR no fim da tarde e transferiu aqui para a marginal. Foto: Felipe Rosa

Marcos Antônio de Souza, funcionário de uma empresa de mármores na via marginal à rodovia, diz que melhorou em partes. A rua ficou por quase dois anos sem asfaltamento, levantando uma poeira muito grande. Nada parava limpo e os problemas respiratórios eram constantes. “Com o asfaltamento, resolveu o problema do pó. Mas a quantidade de carros aqui não diminuiu. Tirou o engarrafamento que se formava na BR no fim da tarde e transferiu aqui para a marginal. Sem contar que o pessoal passa rápido demais aqui. Difícil sair aqui da empresa às vezes”, diz ele, que para voltar para casa, no Cajuru, prefere cortar por dentro do bairro e pegar a trincheira da Coca-Cola do que essa nova trincheira, que trava o trânsito.

Já a comerciante Rose Amaral, dona de uma loja de móveis de demolição, gostou muito da obra. Ela comenta que diminuiu o pó e o fluxo melhorou parcialmente, pois antes, em frente a sua loja, quando engarrafava no fim de tarde, uma só fila servia tanto para quem seguia para o Cajuru (por baixo da trincheira) quanto para quem ia para o Uberaba ou São José dos Pinhais. “Agora são duas filas, que organizam quem vai para cada lado. Só é ruim porque os motoristas passam muito velozes aqui. Precisaria de uma lombada”, opina.

Cena se repete todo final de tarde. Foto: Felipe Rosa
Cena se repete todo final de tarde. Foto: Felipe Rosa

Engarrafado!

Assim como seus vizinhos, um comerciante que fica bem em frente ao trevo, mas preferiu não se identificar, diz que a obra “ficou boa, mas ficou ruim”. Para ele, o fato de tirar o engarrafamento da rodovia e jogar para a marginal reduziu o risco de acidentes e o trânsito melhorou um pouco. Além disso, ele destaca que o local ficou com boa aparência. Mas o lojista comenta que, ainda assim, engarrafa muito no fim de tarde e as buzinadas e freadas são constantes. Outro problema apontado por ele é que não foram pensadas áreas de estacionamento para os clientes em frente aos comércios.

Já o comerciante Setembrino Ervino Pozzer, 65 anos, é mais crítico em relação à obra. Ele acha que ficou bonito. Mas para resolver o problema do fluxo intenso de trânsito, nada importante foi feito. “Tinha que alargar a trincheira, planejar melhor o fluxo ali em frente ao posto de combustíveis, fazer uma mudança estrutural grande. Para quem está aqui na marginal e vai virar à esquerda, sentido Cajuru e Pinhais, o trânsito trava todo. Sabemos que a quantidade de carros nas ruas aumenta a cada ano. Daqui a cinco anos, ninguém anda aqui, vai travar tudo”, critica.

Karina: piorou para atravessar. Foto: Felipe Rosa
Karina: piorou para atravessar. Foto: Felipe Rosa

A dona de casa Karina Ferreira passa todos os dias, no fim de tarde, pela trincheira, indo do Uberaba para o Cajuru. No dia em que a reportagem esteve na trincheira, ela demorou quase 10 minutos para conseguir atravessar a rua. “Enquanto ainda estava sem asfalto, pelo menos era mais fácil atravessar. Tudo bem que, quando chovia, alagava tudo aqui e ficava um barro danado. Agora não alaga, mas ficou muito pior pra atravessar”, lamentou ela, apressada para buscar a filha na escola.

Nada de melhorias

A Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) alega que não há o que fazer com os congestionamentos de fim de tarde na trincheira. Com as correções geométricas feitas no acesso, incluindo a criação de duas faixas de rolagem na marginal (uma para a conversão à esquerda, sentido Cajuru, e outra para seguir em frente ao Uberaba ou São José dos Pinhais), o trânsito tem fluido melhor.

“Antes das obras, as filas neste sentido (São José) se estendiam para dentro da BR-277, criando congestionamentos na rodovia e risco de acidentes graves. No outro sentido, Uberaba para o Cajuru, nos horários de pico os congestionamentos, assim como em outros pontos da cidade que concentram um grande fluxo de veículos, ainda são notados. No curto prazo não há nenhuma previsão de mudança na sinalização ou sistema viário na região da trincheira, pois não existe espaço físico para alterações”, diz a nota da Setran, que também cita que não é possível colocar redutores de velocidade na marginal, porque a legislação não permite este tipo de artifício em acessos de rodovias. O máximo que pode ser feito é a instalação de placas de velocidade máxima, que devem ser obedecidas pelos motoristas.

Acidentes aumentaram

Apesar de um dos objetivos das obras ter sido trazer mais segurança ao trânsito, a quantidade de acidentes na BR-277 aumentou desde que as obras na trincheira e na marginal ficaram prontas. Conforme a concessionária Ecovia, em junho ocorreram 34 acidentes entre os quilômetros 79,8 e 80,5, e 38 acidentes em julho. Subiram as colisões de veículos no mesmo sentido, as transversais e os engavetamentos (não ocorreu nenhum destes dois em junho), as traseiras e as quedas de moto. O único tipo de ocorrência que teve redução foram as saídas de pista (14 em junho e 4 em julho).

Apesar de considerar que ainda passou pouco tempo após a conclusão das obras, a Ecovia acredita que isto acontece porque é necessário um tempo de adequação dos motoristas. “Pelo aumento nas colisões, cremos que muitos condutores estejam freando bruscamente sobre a pista, pois ainda mantém o hábito do acesso antigo e acabam passando do novo ponto de entrada (novo acesso ao bairro). Isto explicaria o aumento de acidentes”, aponta a concessionária.

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