A condição para entrar na equipe de robótica da Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag, no Cajuru, é ter boas notas. Ser bom nas quatro operações básicas de Matemática ajuda. Falando assim, parece um grupinho para nerds. Mas não: para chegarem ao modelo final de cada robô, precisam de muita criatividade, conversa, trabalho em equipe e olhar para o futuro.
A Cyber Rex é formada hoje por oito alunos com média de 13 anos e, com muita pesquisa, já soma prêmios em competições de robótica e trabalhos sociais. O grupo tem a orientação da professora de Artes, técnica e mentora da equipe, Liz Cavalcante, e tem em seus projetos o objetivo de solucionar problemas da sociedade que vivem.
Para tanto, precisam sair constantemente do laboratório e conviver com pessoas de diferentes perfis, em situações inimagináveis dentro do ambiente da sala de aula, nas pesquisas feitas no contraturno escolar.
Última criação
Assim surgiu o Teabot, o mais novo robô desenvolvido pela equipe para a disputa do First Lego League (FLL), o maior torneio de robótica para jovens com idade entre 9 e 15 anos. O carismático robozinho surgiu da regra da competição, que pedia a criação de soluções para dificuldades de aprendizagem. A Cyber Rex decidiu que poderiam criar um robô que auxiliasse crianças com autismo. Visitaram entidades para meninos e meninas autistas, pesquisaram outros robôs pelo mundo desenvolvidos com o mesmo objetivo e assim chegaram ao Teabot.
Construído com esqueleto de Lego e dispositivos eletrônicos e um sensor que é ativado ao toque do corpo, o robô fecha os braços, num abraço. “Na escola, tínhamos uma colega com autismo. Por isso decidimos pesquisar essa área. Descobrimos que os autistas têm dificuldades em manter contato físico e o robô pode facilitar isso. Ele tem um suporte para um tablet, para a criança pode fazer atividades”, conta Juan Gabriel Cardoso Ferreira, 13 anos. Com o Teabot, a equipe venceu a etapa regional do FLL e foi para a etapa nacional, em Brasília.
Ciência multidisciplinar
A função principal da equipe de robótica na escola é enriquecer a aprendizagem em sala de aula. Matemática e Física são as disciplinas mais diretamente requisitadas, mas outras habilidades são usadas. “Quando entrei no projeto, achei que iríamos só construir robôs, mas é o que menos fazemos. Passamos muito tempo pesquisando, escrevendo os projetos. Entramos em contato com profissionais de diferentes áreas, como psicólogos, pedagogos, visitamos hospitais, asilos”, conta Aleísa Hubner, 13 anos.
A experiência já faz alguns pensarem em atuar como engenheiros mecatrônicos no futuro, como Felipe Rodrigues e Benjamim Oliveira, 13 anos. Eles aproveitam as viagens e gostam de competir, mas encaram como parte do processo. “Os campeonatos são muito diferentes de uma competição tradicional. As equipes se ajudam, fazemos amigos e isso também é importante”, fala Yasmim de Oliveira Gonçalves, 13 anos.
De robôs “atletas” a “salva-vidas”
Cada um dos robôs criados pela Cyber Rex nasce com funções específicas. E alguns pela simplicidade e eficiência. Feitos com peças de Lego a empresa de brinquedo de peças de montar tem uma linha de kits voltados para a educação tecnológica, com peças de plástico, eixos, polias, engrenagens, sensores e um processador programável -, alguns têm por missão competir em torneios específicos em que terão de transpor, da maneira mais eficiente, circuitos de rampas e obstáculos.
Outros, porém, nem cara de robôs têm, mas são soluções para questões urbanas, como o sensor de enchentes. “Professores da UFPR conheceram esse projeto e se interessaram. Disseram que não haviam pensado em algo tão eficiente e simples”, conta a professora, sobre o dispositivo que registra quando a água da chuva atinge um nível de risco. “O equipamento dispara um alarme e uma mensagem de texto para a Defesa Civil e para um morador”, conta Aleísa.