Não tem um comércio que ainda não foi assaltado. Essa foi a frase mais dita por quem trabalha e mora próximo à Rua João Tobias de Paiva Netto, no Cajuru, em Curitiba. Segundo as pessoas, o bairro, que na semana passada foi notícia por causa de uma idosa vítima de bala perdida, está cada vez mais perigoso.
“A gente achou que a onda de crimes tinha passado. Mas foi só uma trégua, porque o ano começou com tudo”, disse, sem se identificar, uma das funcionárias de uma loja de variedades roubada no último sábado (11). Bandidos levaram cerca de R$ 3.700 em mercadorias na ação. Parte do roubo foi recuperada, mas mesmo assim ficou o prejuízo.
Os assaltantes estavam de carro. Ao entrar no estabelecimento, se passaram por clientes, mas logo obrigaram os funcionários a ajudar. Na sequência, foram flagrados por uma equipe da Guarda Municipal e houve tiroteio. “A mulher, que não tinha nada a ver com a história, foi atingida. E isso poderia ter acabado muito pior”, comentou a funcionária.
Na fuga, os assaltantes bateram o carro e fugiram com o que conseguiram levar. “Ninguém foi preso, mas pelo menos recuperamos parte do que foi roubado. O que tememos é que a gente sabe que uma hora eles vão voltar”.
Fazendo a limpa
Segundo os comerciantes, policiamento sempre tem, mas o que aconteceu em plena luz do dia foi um reflexo do que vem acontecendo sempre. O que falta, para essas pessoas, é aumentar a sensação de segurança. “Tem loja que é assaltada todo mês. É rotina. Nós sabemos que, se não assaltarem aqui, vão roubar ao lado. Num salão de beleza, por exemplo, já chegaram a deixar clientes em pânico”, contou a vendedora de um pet shop.
O perigo e o medo não são exclusivos dos comerciantes. Logo que viu a presença da reportagem na rua, a cliente de uma lotérica começou a contar o que o povo passa nos pontos de ônibus todos os dias. “Assaltos à mão armada, sempre muito cedo, quando o ponto está cheio de gente. Lá em casa, mudamos um pouco a rotina e a gente sai de casa faltando poucos minutos para o ônibus chegar, porque se não, somos o alvo da vez”, disse a mulher, que também não se identificou. Conforme a mulher, além de armados, os bandidos são sempre violentos.
Violência à luz do dia
Outro relato da violência no Cajuru foi feito por um morador da Rua Wenceslau Teixeira Alves. As câmeras de segurança da casa do rapaz, que tem 26 anos e pediu para não ser identificado, registraram um assalto a uma moça logo pela manhã, por volta das 6h40.
Na ação, que aconteceu um dia antes do roubo à loja de variedades, os bandidos parecem ter se preparado e esperaram o alvo. “Chegaram de carro, um deles ficou dentro do veículo, enquanto o outro abordou a menina, que seguia para o trabalho. Ela não teve nem como gritar”, contou o rapaz. Na volta para o carro, o bandido ainda roubou outro pedestre, que passava na esquina.
Em uma rápida passagem pela rua, os moradores disseram que o único jeito é aumentar a segurança de casa com monitoramento, alarmes e tudo o que mais conseguirem. “Estamos reféns. Os bandidos agem sabendo que não vão ser punidos. Eles sabem que podem chegar e fazer com a gente o que eles quiserem. Quem vai querer reagir?”, comentou um idoso de 69 anos, morador do Cajuru há 25 anos.
Os moradores relataram que costumam ouvir tiroteios também. “Aí você me pergunta se tem polícia e eu respondo que sim, tem. A PM, por exemplo, tem feito o papel que lhe cabe. Mas o que adianta? Prendem num dia e soltam no outro”, desabafou o homem. “A gente sai pra trabalhar, mas não sabe se volta. Essa é a realidade”, completou outra moradora.
PM na área
O 20º Batalhão da Polícia Militar (PM), responsável pelo policiamento na região, informou que tem feito trabalho preventivo e ostensivo no bairro Cajuru, que já resultou em prisões e apreensões. Ainda de acordo com a corporação, os policiais que se formaram recentemente já estão atuando na região, que tem ainda uma Unidade Paraná Seguro (UPS). De qualquer forma, a PM, reforçou o pedido de que a população mantenha o contato via 190 e registre os fatos, através de boletins de ocorrência, com a Polícia Civil.
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