Cajuru

Dia de democracia

Escrito por Magaléa Mazziotti

O direito de votar fez do primeiro domingo de outubro um dia de celebração da igualdade entre os eleitores de Curitiba, que à sua maneira contribuíram para o resultado das eleições neste primeiro turno. Seja no maior local de votação da capital, Colégio Estadual Senhorinha de Moraes Sarmento, endereço eleitoral de 8.475 eleitores, seja no menor, a Escola Municipal Jornalista Arnaldo Alves da Cruz, com 64 eleitores, o sentimento de participar da escolha do presidente, governador, senador, deputado federal e estadual era predominante.

Para as dezenas de eleitores da Escola Municipal Jornalista Arnaldo Alves da Cruz, na Vila Pantanal, no bairro Alto Boqueirão, não foi a notória comodidade de escolher seus representantes em um lugar com poucos eleitores e consequentemente quase nada de fila o motivo de maior satisfação deles. Para a Vila Pantanal, a representatividade conquistada com o novo local de votação da região é motivo de orgulho. “Moro há 26 anos na Vila Pantanal e sei o quanto a mobilização foi fundamental para transformar a nossa região e isso é mais um grande passo para a nossa cidadania”, diz a auxiliar de lavanderia Pedrina Mendes, 56 anos.

Pedrina acrescenta que essa vitória veio acompanhada da emoção de ser mesária da primeira eleição no colégio. “É muito chique estar aqui, depois de receber treinamento e poder auxiliar as pessoas no dia do voto. Eu quero votar aqui até ficar bem velhinha. Mas virei sempre de bengala e batom”, brinca.

O servente e presidente da Associação de Moradores da Vila Pantanal, Gentil da Cruz Camargo, 56 anos, explica que a condição de ser o local com menor número de eleitores deve ser temporária. “A comunidade deve ter 1,6 mil eleitores, mas a maioria não transferiu o título porque acreditava que neste ano teria aqueles plantões do TRE no fim de semana. Acredito que daqui dois anos, boa parte dos eleitores já estará aqui, porque era uma vontade antiga da população”, acredita.

Engajado em todo o processo de transformar a escola em endereço eleitoral, Gentil conta que foi o primeiro a transferir o título para a escola e o primeiro votar no novo endereço. “A expectativa é sempre de que o nosso voto promova mudança, melhore questões como falta de esgoto, estrutura de lazer e iluminação pública”, aponta.
Roberto serviu três presidentes. Foto: Gerson KlainaGerenciando 24 seções

Em uma situação completamente oposta a um endereço com poucos eleitores, o Colégio Estadual Senhorinha de Moraes Sarmento, no Cajuru, maior local de votação de Curitiba, começou a ser preparado ainda na sexta-feira para as eleições e, durante toda a manhã de segunda-feira não haverá aula por conta da limpeza da escola. Além disso, quatro funcionárias do colégio foram designadas para trabalhar na secretaria do prédio a fim de esclarecer qualquer dúvida dos eleitores.

E o serviço não parou de ser requisitado, principalmente, por eleitores que trouxeram um documento com foto no lugar do título de eleitor e não lembravam o número da zona eleitoral ou de pessoas que diziam desconhecer a mudança de endereço eleitoral por conta do recadastramento promovido junto com a biometria. A experiente técnica administrativa Nanci do Rocio Borges Ramos, 58 anos, que há 23 anos trabalha na escola e participa das eleições explica que o dia das eleições é diferente de tudo. “Muda a rotina e temos tantos assuntos para resolver e pessoas para atender que as horas passam muito rápido no dia de fazer história”, comenta.
Aos 101 anos, Luiza fez questão de votar por um futuro melhor. Foto: Gerson KlainaVoto pra transformar

A aposentada Luzia Agathe Juliana Barz, 101 anos, não abriu mão do direito de votar. Ainda no final da manhã de domingo ela foi votar acompanhada do neto, o empresário Emerson Schmidlin, 45 anos. “Conheço muitas pessoas que querem transformações, mas não querem votar. Isso não faz sentido, por isso não abro mão do meu direito”, ensina. Com uma lista de argumentos para ver o país em que vive desde a adolescência, quando os pais deixaram a Alemanha, ser um lugar melhor, Luzia esbanja confiança no voto. “Leio diariamente o meu jornal para votar bem. O Brasil é muito bom, mas nossas escolhas que vão determinar o futuro”.

Entre o lixo e a esperança

Em vários pontos da cidade a sujeira criminosa da enxurrada de santinhos jogados próximos aos locais de votação levou muitos garis a participar da limpeza de toda a cidade já nas primeiras horas do domingo. Em menos de uma hora de trabalho, o gari Paulo Fonseca, 39 anos, já havia lotado seis sacos com material de campanha. “Quanto antes conseguirmos recolher, menos papel vai para os bueiros, mas é uma pena ver que os candidatos não respeitam a cidade”, observou Fonseca, nos arredores da Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag.

Como o carrinho do caldo de cana sobre o lixo, o comerciante Roberto Dias de Souza, 61 anos, apontou uma solução para tal problema. “Deveria ser proibido imprimir santinho, já que não respeitam as regras da própria Justiça Eleitoral”, observou. Fonseca explica que as eleições sempre garantem um bom dia de venda. “Depende do tempo também, mas pelo menos cem copos a mais são comercializados”, conta.

O vendedor conta que trabalhou 27 anos como garçom e teve a oportunidade de servir três presidentes. “Servi o Figueiredo, o Geisel e o Fernando Henrique Cardoso e todos foram bem educados”, conta. “Mas apesar de ter criado seis filhos como garçom, prefiro vender o meu caldo”, reconhece.

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Magaléa Mazziotti

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